Santos sofre sua primeira incursão pirata, em 1583, com Edward Fenton

No mapa de Luiz Teixeira (de 1586), cujo original está na Biblioteca da Ajuda, em Portugal, mostra as duas entradas possíveis (pela Barra da Bertioga - canal - ou pela Barra maior). E as fortificações são o Forte São Tiago e o Forte Itapema.
No mapa de Luiz Teixeira (de 1586), cujo original está na Biblioteca da Ajuda, em Portugal, mostra as duas entradas possíveis (pela Barra da Bertioga – canal – ou pela Barra maior). E as fortificações são o Forte São Tiago e o Forte Itapema.

Desde o início do povoamento, os primeiros santistas aprenderam a se defender, razoavelmente bem, dos ataques promovidos pelos índios contrários à ocupação europeia. A vantagem dos colonos era a excelente posição geográfica da povoação, estratégica, e as armas utilizadas por eles, mais letais e precisas que os rudimentares arcos e flechas usados pelos nativos.

No entanto, se a população suportava com certa facilidade as investidas indígenas, o mesmo não se poderia dizer sobre as incursões que viriam a ser promovidas por navios estrangeiros hostis. Os santistas não reuniam condições bélicas e tampouco estrutura suficiente para suportar um eventual ataque de corsários ou navios militares inimigos, em especial de franceses e holandeses, que já promoviam incursões no litoral nordeste brasileiro.

Havia dois acessos possíveis, vindos do mar, à povoação. O primeiro, pelo Canal da Bertioga, era protegido pelo Forte São Tiago (primeira fortificação do Brasil, de 1551) e sua contrabateria Forte São Felipe (1557). Mas o segundo, pela Barra Grande (entrada do estuário, na Ponta da Praia), era considerado o ponto falho do sistema de defesa. Por ali, uma invasão tinha grande chance de ser bem sucedida, mesmo com a presença, quase diante da vila, de uma pequena fortificação, de 1580 (na verdade uma bateria isolada que seria futuramente a base para o Forte Itapema).

E foi justamente neste trecho que Santos acabou recebendo a contragosto, na manhã de 16 de dezembro de 1583, uma nau e dois galeões de combate que traziam à bordo aproximadamente 200 homens, liderados pelo temido corsário inglês Edward Fenton. Avançando sorrateiramente pelo canal estuarino, os piratas lançaram âncoras à porta da vila onde, sob o pretexto de executar reparos em suas embarcações, desceram à terra alguns homens.

Para a sorte dos colonos santistas, a comunidade contava com a presença de um habitante inglês, o ferreiro John Withall que, além de falar fluentemente a língua dos piratas, seus compatriotas, era também genro do homem mais rico da vila, José Adorno. Tornado porta voz da população, Withall tentou barganhar com Fenton uma saída sem conflito. À noite daquele mesmo dia, tanto ele, como Adorno e o colono João Raposo, foram convidados a jantar com o capitão inglês e seus imediatos. Os ingleses ficariam vários dias em Santos.

Sir Edward Fenton, um dos grandes corsários ingleses do Século XVI.
Sir Edward Fenton, um dos grandes corsários ingleses do Século XVI.

A EXPULSÃO
Mas quis o destino que, ao tempo em que os ingleses ainda reparavam suas naus na vila santista, uma esquadra de navios espanhóis, liderada por André Higino, que navegava pelo litoral sul brasileiro, foi alertada sobre a presença dos corsários na Capitania de São Vicente. Armados até os dentes, para lá ela partiu com o objetivo de destruir os invasores. Vale dizer que nesta época, os tronos de Portugal e Espanha estavam unificados sob o reinado de Filipe I (por isso a presença de navios espanhóis em patrulha no litoral do Brasil era natural) .

A esquadra ibérica demorou poucos dias para chegar em Santos e, no dia 24 de janeiro de 1584, assim que avistou os navios bretões, logo partiu para o ataque. Era noite e os corsários foram alertados pelos primeiros tiros. Uma pequena batalha foi travada no lagamar diante da vila. Fenton, acuado, não tinha outra alternativa a não ser fugir, mesmo a tarefa sendo difícil. A esquadra inglesa, aproveitando-se de um momento de descuido dos espanhóis, e da escuridão, conseguiu sair da armadilha e, à exceção de uma nau, aprisionada pelos inimigos, escapou o comandante inglês pela barra. Os canhões da nau aprisionada algum tempo mais tarde serviriam para dar início ao sistema defensivo do porto de Santos.

A FORTALEZA DA BARRA GRANDE
Do acontecimento ficou a lição de que havia a necessidade de fortificar a entrada do canal do estuário.  Naquele mesmo ano de 1584, o arquiteto militar italiano Giovanni Battista (Juan Bautista) Antonelli, que acompanhava outra esquadra espanhola em navegação pelo litoral brasileiro,  comandada por Diogo Flores Valdez, foi incumbido de projetar uma fortaleza resistente o suficiente para rechaçar qualquer tipo de invasão de corsários inimigos. Assim, por conta da invasão de Fenton, nascia a Fortaleza da Barra Grande, um dos maiores tesouros históricos da região e candidatíssima a se tornar um Patrimônio da Humanidade.

Edward Fenton convida John Withall e outros colonos para jantar à bordo do Minion.
Edward Fenton convida John Withall e outros colonos para jantar à bordo do Minion.

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