A primeira visita de uma fragata a vapor no Porto de Santos (1854)

Esta é a Cyclops, fragata da Marinha Britânica que serviu de modelo para a construção da “Centaur”, a primeira fragata a vapor a visitar o porto de Santos

Santos, 26 de janeiro de 1854. O movimento do porto de Santos estava normal até que, em determinado momento, os trabalhadores dos trapiches situados ao longo dos quarteis (atual região da Alfândega) ficaram abismados com a chegada de uma embarcação nunca vista naquelas paragens. Ostentando a bandeira britânica no alto do mastro principal, o navio tinha um estranho aparato nos dois bordos centrais. Era uma fragata a vapor, algo bem diferente de outras embarcações do gênero que já navegavam na costa brasileira desde a década de 1830 (geralmente paquetes a vapor).

No casco de proa, o nome “Centaur” (Centauro) chamava ainda mais a atenção do singelo povo santense. A fragata, que era a nau capitânia da estação britânica na costa sul-americana, lançou suas âncoras diante do Arsenal da Marinha (região da atual Praça Barão do Rio Branco) antes do meio-dia. O pavilhão de comando pertencia ao contra-almirante William Willmott Henderson, chefe da marinha britânica na costa da América do Sul, e o comando “in loco” na embarcação estava a cargo de Thomas Harvey.

As autoridades da cidade ficaram encantadas com a beleza do navio e fizeram questão de conhecê-la internamente. Todos os que tiveram o privilégio de examiná-la ficaram penhorados pelo acolho cordial da nobre oficialidade britânica, e se deslumbraram com o luxo e a perfeição de todas as partes da bela embarcação.

A “Centaur” veio até Santos para deixar o contra-almirante Henderson na cidade, para que ele pudesse rumar até a capital bandeirante, onde participaria de uma conferência com o presidente da Província. A embarcação inglesa ficou em Santos por mais três dias. E pelo que consta nos registros históricos, nunca mais voltou ao porto santista.

À direita, o Arsenal da Marinha, onde ficou atracado do HMS Centaur. Repare que à esquerda temos o Conjunto do Carmo e o velho pelourinho (desaparecido mais ou menos na mesma época)

Fragatas a vapor

Os primeiros navios a vapor do mundo surgiram bem no início do século 19. É creditado ao engenheiro Robert Fulton a invenção do primeiro barco a vapor do mundo, isso em 1807. O primeiro pequeno navio que pode ser considerado um navio de guerra a vapor foi o Demologos, lançado em 1815 pela Marinha dos Estados Unidos. A partir do início da década de 1820, a Marinha Britânica começou a construir uma série de pequenos navios de guerra a vapor, incluindo os rebocadores armados HMS Comet e HMS Monkey, e na década de 1830 as marinhas da América, Rússia e França estavam experimentando também navios de guerra a vapor.

Em 1840, a Royal Navy encomendou dois navios que foram projetados como fragatas de remo a vapor. A Górgona e o Ciclope um pouco maior foram construídos para ter uma bateria completa em seu convés de armas, ao lado de carregar armas em seus conveses superiores. Ambos os navios não conseguiram se tornar verdadeiras fragatas, mas tiveram muito sucesso. Tanto que o Ciclope foi tomado como modelo para a construção de mais seis fragatas a vapor (Vulture, Firebrand, Gladiator, Sampson, Dragon e a CENTAUR).

Não há registros de imagens conhecidas da “Centaur”, que era uma cópia da “Cyclops” (imagem acima)

A Centaur

A fragata Centaur foi lançada ao mar em 6 de outubro de 1846, construída totalmente em madeira. Pesava 1270 toneladas. Iniciou seus trabalhos para o Reino inglês, da rainha Vitória, em janeiro de 1849, sob o comando do capitão Claude Henry Mason Buckle, cumprindo missões estratégicas na costa oeste da África, permanecendo nesta área até 1853, quando foi designada a atender a frota do comandante William Willmott Henderson, na costa atlântica sul-americana. A embarcação chegou a participar da Guerra Russa em 1855, atuando no Mar Báltico sob o comando de William John Cavendish Clifford. Em 20 de setembro de 1859, sob o comando de Elphinstone D’Oyly D’Auvergne Aplin, foi designada para atuar nas Índias Orientais e China (incluindo durante o envolvimento britânico na rebelião Taiping), permanecendo nesta área até 1863, sob os comandos de John Eglinton Montgomerie e John Zell Creasy (interino). Foi desativada em 1864, sendo desmontada.