Na corrida das estátuas santistas, venceu o “Pescador”

Sabe aquela brincadeira de criança, em que alguém diz “estátua”, e ninguém pode se mexer? Pois é, mas a regra baseada na máxima “duro como uma estátua”, ou “imóvel como uma estátua”, cai por terra se olharmos para alguns aspectos curiosos do passado de alguns de nossos monumentos. Se verificarmos a história de algumas estátuas santistas, vamos constatar que de imóvel, muitas delas não têm nada. Veja aqui quais foram as esculturas que não se “conformaram” em cumprir sua finalidade estática e passaram a concorrer pelo posto de campeã na prova de distância.

FÁBIO MONTENEGRO
Do centro para a praia

Quarto monumento mais antigo de Santos, na verdade um busto em bronze do poeta, jornalista e escriturário da Companhia Docas de Santos, foi inaugurado na Praça dos Andradas, em 26 de novembro de 1922. Com a reforma do local, algumas décadas depois, foi transferido para os jardins da orla, nas proximidades da Avenida Bartolomeu de Gusmão, 134, onde ficou até 2006, quando voltou a “andar”, desta vez até a Praça Vereador Luiz La Scala, defronte ao Aquário Municipal. Possui a marca de 6,2 km rodados e se tornou forte candidato ao título.

XAVIER DA SILVEIRA
O primeiro andante

Considerado um fenômeno da oratória, o poeta e jornalista Xavier da Silveira também fez fama com sua estátua, tendo ocupado dois dos lugares mais nobres do Centro Histórico. Segundo mais antigo da cidade, o monumento produzido pelo italiano Lorenzo Massa (o mesmo que esculpiu o de Braz Cubas, o mais antigo de Santos) foi inaugurado em 11 de janeiro de 1914, no Largo do Rosário (atual Praça Ruy Barbosa). Porém, em 1922, acabou obrigado a sair de lá para dar lugar ao monumento de Bartolomeu de Gusmão, época em que passou a integrar o conjunto da Praça Mauá. Em 1939, Xavier sofreria novo despejo. Com a inauguração do Paço Municipal e dos novos elementos da urbanização local, a estátua feita em homenagem ao poeta teve que buscar novos ares, desta vez na distante Praça Fernandes Pacheco, no Gonzaga. No final dos anos 1990, novamente foi obrigado a fazer as malas e passou a ocupar um espaço na Praça Nenê Ferreira Martins, onde está até hoje, feliz da vida. Nestas caminhadas, alcançou a marca de 5,6 km “percorridos”.

xavier
A estátua de Xavier da Silveira, quando ainda se encontrava na Praça Mauá, onde ficou de 1922 a 1939

 

PESCADOR
O rei da orla e da cidade

O pescador, além de seu um “andarilho” convicto, foi protagonista, por duas vezes, do tipo de pesadelo que faz qualquer estátua “tremer”: ser atropelado. Inaugurada em 1941, e postada nos jardins da orla defronte ao Instituto Dona Escholástica Rosa, o monumento, de autoria do escultor italiano Ricardo Cipicchia, viveu tranquilo no seu canto por 20 anos, até que acabou sendo levado para o canteiro central da Avenida Presidente Wilson, na divisa com a cidade de São Vicente. Lá, viveu 15 anos turbulentos, com duas ocorrências de abalroamento, uma delas provocada por um caminhão do Corpo de Bombeiros. Esta, aliás, foi a gota d´água necessária para a mudança do Pescador a um lugar menos perigoso, ao lado do Ferry-Boat, reinaugurada em 29 de junho de 1975, onde ficou por mais 34 anos. Em 18 de julho de 2009, voltou a ocupar um espaço nobre na orla, perto do Aquário, no centro de um espelho d’água circular, onde refletores de fibra ótica nas cores azul e branca lhe garantem uma iluminação especial. Enfim, pareceu achar seu brilho na cidade. Nestas idas e vindas, alcançou a marca de 12,2 km, tornando-se o grande campeão entre as estátuas que andam.

O Pescador, quando estava na divisa Santos-São Vicente, no José Menino
O Pescador, quando estava na divisa Santos-São Vicente, no José Menino, na década de 1960

 

VICENTE DE CARVALHO
Roda, roda, roda

Até que ela não “andou” muito, mas a estátua de Vicente de Carvalho, o “Poeta do Mar”, um dos monumentos mais importantes da orla praiana, protagonizou o mais curioso dos movimentos registrados entre obras esculturais de Santos. Além de “desobedecer” sua condição estática no que se refere ao deslocamento de um destino para outro, Vicente de Carvalho girou 180 graus em sua base, abandonando sua posição frontal para o mar e ficar de costas para o universo que tanto declamou em poesias. Inaugurado em 21 de julho de 1946, nos jardins da praia, na antiga Praça do Boqueirão, defronte à Avenida Conselheiro Nébias, foi deslocada cerca de 300 metros na direção do Canal 3, em 26 de janeiro de 1957, onde está até hoje.

O Poeta do Mar quando ainda estava de frente ao seu elemento inspirador.
O Poeta do Mar quando ainda estava de frente ao seu elemento inspirador, na década de 1940.

 

NINFA DE NÁIADE
A filha do pecado

A história da Ninfa de Náiade, monumento em granito assinado por João Baptista Ferri, começou em 1943, ano em que foi inaugurada no centro da Praça José Bonifácio. Foi ali instalada para dotar o espaço de um chafariz artístico, obedecendo os planos urbanísticos da cidade, na época. Mas o que era arte para uns, para outros era puro pecado. Pressionada pela comunidade católica que frequentava a Catedral e pelos próprios religiosos, a Prefeitura de Santos foi obrigada a retirar a “mulher nua” de frente da igreja, deportando-a para o Orquidário Municipal, que foi inaugurado em 1945, onde está “exilada” até hoje. Nesta viagem, garantiu a marca de 4,1 km, o que lhe garante uma boa colocação entre as estátuas “andarilhas”.

A ninfa na Praça José Bonifácio. Vê-se ao fundo o prédio da Sociedade Humanitária. Logo foi expulsa pelas carolas da Catedral.
A ninfa na Praça José Bonifácio. Vê-se ao fundo o prédio da Sociedade Humanitária. Logo foi expulsa pelas carolas da Catedral.

 

ALMIRANTE TAMANDARÉ
Homenagem perto do mar

Comandante das forças navais brasileiras na Guerra do Paraguai, Almirante Tamandaré recebeu sua homenagem em Santos em 13 de dezembro de 1957, com um busto inaugurado na praça que leva seu nome, no bairro da Encruzilhada. Em 1969, a Marinha de Guerra solicitou que a Prefeitura mudasse o seu patrono de lugar, colocando-o nos jardins da orla, para melhor provê-lo de homenagens. Neste deslocamento, Tamandaré entrou para a lista dos monumentos “arredios” e registrou a marca de 2,5 km, o que o colocou na sexta posição de nosso ranking de andarilhos.

 

TRABALHADOR PORTUÁRIO
Pesado, mas ligeiro

Inspirado nos antigos estivadores do início do século XX, que carregavam as cargas de café em sacas de 60 kg nas costas, o Monumento ao Trabalhador Portuário, obra de Vito D´Alessio e Juvenal Irene, foi inaugurado em 6 de setembro de 1996, na Praça Silvério de Souza, nas proximidades do armazém 13 da Codesp, no Paquetá. Em 2005, o local foi ocupado por um conjunto de silos e o monumento teve de ser deslocado alguns metros, ficando encurralado entre as instalações, situação que revoltou os portuários da cidade. Em 2006, a situação piorou, com a demolição do antigo Armazém 12-A, vizinho ao monumento, derrubado para dar lugar a um novo terminal, maior e moderno, escondendo de vez a figura histórica do trabalhador portuário. A estátua teve de ser removida da antiga área por um guindaste em um caminhão. A operação causou danos ao monumento, que já apresentava algumas trincas. Cabos de aço acabaram se prendendo ao braço da figura do portuário durante o içamento, deixando um rombo na fibra. No dia 12 de fevereiro de 2010, o sofrimento do “Trabalhador Portuário” chegou ao fim, com a sua disposição na praça que foi construída na esquina das ruas Manoel Tourinho e Xavier Pinheiro, no Macuco, aberta por conta da construção da Avenida Perimetral da Margem Direita do Porto. Mesmo abatido e pesado, a obra percorreu 1,4 km e garantiu seu lugar entre as estátuas santistas que se movem.

 

IMIGRAÇÃO JAPONESA
Inspirado no Kasato Maru

Inaugurado em 21 de junho de 1998, em homenagem aos 90 anos da Imigração Japonesa no Brasil, o monumento ficou durante 11 anos nos jardins da praia do Boqueirão, junto à famosa pérgula local. Esculpido por Cláudia Fernandes, a obra foi removida para junto do Parque Roberto Mário Santini (Emissário Submarino) em 18 de outubro de 2009, um ano após o Centenário da Imigração Japonesa, que contou com a presença do príncipe Naruhito. Não fora uma jornada como a dos primeiros imigrantes do Kasato Maru, mas garantiu 2,6 km suficientes para estar entre os  mais bem colocados na corrida das estátuas santistas.

Mal foi inaugurada e logo se deslocou para o Emissário Submarino.
Mal foi inaugurada e logo se deslocou para o Emissário Submarino.

 

O PNEU FUROU
Mas não impediu o deslocamento

A obra do artista Ricardo Campos Mota, o Rica (o mesmo que fez O Peixe, na entrada da cidade), retrata uma situação provável aos milhares de ciclistas que circulam pelas ruas santistas. Foi produzida em aço, concebida a partir de uma obra exposta no Museu de Arte Contemporânea de Maglione (Turim, Itália), em comemoração aos 460 anos de Santos. Ficou exposta nos jardins da Pinacoteca Benedito Calixto até 2006, quando foi transportada para uma das entradas da ciclovia da orla, na altura do Canal 6 (Joaquim Montenegro). “Mesmo com o pneu furado” foi capaz de deslocar 1,7 km do seu nascedouro.

Da Pinacoteca para as ruas, para inspirar os ciclistas do dia a dia
Da Pinacoteca para as ruas, para inspirar os ciclistas do dia a dia

 

COLOCAÇÃO FINAL

1º – O Pescador – 12,2 km

2º – Fábio Montenegro – 6,2 km

3º – Xavier da Silveira – 5,6 km

4º – Ninfa de Náiade – 4,1 km

5º – Imigração Japonesa – 2,6 km

6º – Almirante Tamandaré – 2,5 km

7º – O Pneu Furou – 1,7 km

8º – Trabalhador Portuário – 1,4 km

9º – Vicente de Carvalho – 0,3 km

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