O ano era 1865. Os santistas estavam esperançosos por dias melhores e muito progresso, por conta da construção da linha ferroviária que ligaria o interior paulista, e a capital, ao porto de Santos. O escoamento do café, riqueza nacional, prometia se dar em maior escala, gerando empregos e oportunidades na cidade. No Valongo, as obras eram incessantes.
Circunscrita basicamente ao atual Centro Histórico, a vida em Santos era dura, com seus cerca de oito mil habitantes convivendo com sérios problemas de saúde pública. Males como a varíola, a febre amarela e a tuberculose registravam uma dura estatística de mortes prematuras. Somadas à falta de saneamento e água potável, esta trazida de cada vez mais longe, em mananciais como a cachoeira do José Menino, os santistas sobreviviam como podiam.
Os trapiches dominavam o porto, oferecendo uma paisagem que vinha preservada desde os tempos da colônia. O trânsito pelas estreitas ruas era dominado por carroças, carregadas de café, sal e algodão. O mercado da cidade estava estabelecido em pequenas casas de comércio localizadas entre a antiga Matriz e o Conjunto do Carmo. A fé católica, fortemente presente na vida santista, acontecia nas várias igrejas e capelas espalhadas na cidade.
Foi este o cenário encontrado pelo fotógrafo Militão Augusto de Azevedo que, em 1865, há exatos 150 anos, aqui promoveu um dos mais importantes trabalhos fotográficos de sua carreira: a “coleção de vistas” da cidade de Santos, cujas imagens, preservadas no Museu Paulista, são consideradas as mais antigas da história santista.
Com suas imagens, ele perpetuou cenas reais do cotidiano da cidade. Não fosse sua percepção, muitas das “vistas” de 1865 só poderiam ser conhecidas por meio das pinturas à óleo de Benedicto Calixto (que só tinha 12 anos quanto Militão promoveu seu trabalho). Graças a Militão, essa alternativa nos foi dada.