O Pijama, o lambe-lambe e o bisavô dos quiosques
Pegar um bronzeado, tomar uma caipirinha ou cerveja, jogar um futevôlei ou frescobol, caminhar descalço na beira d’água, empinar um pipa ou bater uma bolinha ao lado dos canais, comer um pastel ou um espetinho de camarão, deixar o chinelo e alguma peça de roupa na areia e pedir para alguém dar “uma olhada” enquanto você mergulha no mar. Com mais ou menos elementos descritivos, esta é a rotina dos santistas ao longo dos… talvez… 50 ou 60 anos, quando se trata de “curtir” a praia.
Pois bem, se retrocedermos alguns anos mais, 70 até 100 (porque antes disso era raro alguém ter o hábito de ir à praia como atividade de lazer), vamos ter um padrão bastante distinto dos tempos atuais, a começar pelo quesito vestuário. Ao mesmo tempo em que o indumentário, masculino e feminino, diminuiu muito a sua abrangência de cobertura “corporal”, o modo como se dava a troca de roupa era completamente diferente dos dias de hoje. Nas primeiras décadas do Século XX, o cidadão que pretendia tomar um banho de sol ou de mar, seguia até a orla vestido como se estivesse indo à missa de domingo. Não era raro ver os cavalheiros com terno e gravata e as senhoras com vestidos garbosos e elegantes. Aqueles que, realmente, tinham a clara intenção de aproveitar a praia, se utilizavam das cabines de banhos que alguns empreendimentos hoteleiros e até outros empresários que não eram do setor de hospedagem, montavam na faixa de areia. Era lá, dentro daquelas pequenas cabines de madeira, que ocorria a transformação dos banhistas. De elegantes, saiam como se estivessem com um pijama para dormir.
O bisavô dos quiosques
Mas se você achou esquisito o departamento de vestuário praiano, o da gastronomia de final de semana não ficava muito atrás. Em 2009, a Fundação Arquivo e Memória de Santos recebeu, em doação, uma imagem raríssima, que revelava o provável primeiro estabelecimento de lanches da orla da praia de Santos, o “bisavô” dos quiosques! De propriedade do empresário José Baltazar Gião, um próspero comerciante de guloseimas, petiscos, bebidas e frutas, o lugar, chamado de “Fructeira Paulista” era uma espécie de trailer, a quem ele chamava de “AutoBar”. E em seu pequeno estabelecimento à beira mar, Gião, com a ajuda de um funcionário elegantemente trajado, ofertava aos distintos clientes, toda sorte de castanhas, amêndoas, doces da fábrica santista A Leoneza, tremoços portugueses, variados tipos de pães, frutas e bebidas para todos os gostos, incluindo cervejas e refrescos, os preferidos da criançada. O AutoBar de Gião mantinha mesas embutidas na estrutura externa, as quais ele rodeava com práticas cadeiras de madeira dobráveis.
Diga X
E para registrar os agradáveis momentos dos finais de semana na praia, como não havia sido inventado aparatos para clicar selfies, como nos dias de hoje, a única forma de perpetuar a alegria em família era fazendo uso dos serviços dos fotógrafos lambe-lambe. Acredite ou não, as praias santistas eram recheadas de profissionais que ofereciam o serviço. E, com certeza, ninguém se arrependia de tirar uma foto para a posteridade, uma vez que o trabalho era muito bom. Os lambe-lambes imperaram nas areias santistas até meados da década de 1960, substituídos pelos fotógrafos que ofereciam o serviço de imagens em pequenos monóculos, extintos nos anos 1980.
Guloseimas devidamente consumidas, trajes colocados, nada impedia, então e afinal, o santista de sorrir e mostrar o quanto era feliz em sua praia democrática.