Santos inaugura serviço telefônico automático em 1934

Em tempos de comunicação direta e telefonia de alta performance, é muito divertido imaginar a transição como a que aconteceu no dia 13 de janeiro de 1934 (há exatos 80 anos), quando o sistema de comunicação telefônica deixou de ser “manual” para se tornar “automático”.

É que até 1933, todas as ligações dependiam da intermediação de uma telefonista. O usuário que possuía um telefone em casa, e queria ligar para outro, tinha que fazê-lo com a ajuda de uma funcionária da Companhia Telefônica Brasileira.

Por exemplo: Uma ligação da F.S. Hampshire & Co. Ltd, empresa marítima de transporte de passageiros, situada na Rua XV de Novembro, 147, cujo número telefônico era 816, para a Bento de Souza & Cia, agente marítimo da Companhia Nacional de Navegação, cujo número era 230, acontecia mais ou menos assim:

– Alô.

– Bom Dia, Companhia Telefônica Brasileira ao seu dispor.

– Bom Dia. Eu preciso falar com o número 230.

– Pois não, senhor. Aguarde na linha o sinal de chamado.

Depois de alguns segundos, um sinal era emitido e uma voz ouvida do outro lado da linha. A ligação estava feita.

Os assinantes das linhas telefônicas em Santos mantinham para si uma agenda com os principais números de sua necessidade. Caso precisassem falar com alguém que não estivesse nesta lista pessoal, as telefonistas auxiliavam na descoberta do número pretendido. Como, a partir de 13 de janeiro de 1934, os assinantes tinham “que se virar” sozinhos, a Companhia Telefônica Brasileira mandou confeccionar uma quantidade enorme de listas para distribuir aos assinantes, assim como uma espécie de manual de procedimentos, que ensinava didaticamente como realizar ligações de forma direta.

Os aparelhos telefônicos ganharam discos com números e precisavam ser manipulados com bastante atenção, para que a ligação não caísse em algum lugar indesejado. O novo serviço apontou para a extinção do serviço das telefonistas, mas não a curto prazo, uma vez que elas ainda tinham que ser acionadas em casos de ligações interurbanas.

O serviço de discagem automática de Santos foi um dos primeiros do Brasil. Além das instalações de linha e novos aparelhos, a cidade teve inaugurada sua primeira Estação Telefônica, situada na Rua Braz Cubas, esquina da Rua Júlio de Mesquita (atualmente o prédio é ocupado por uma concessionária de veículos. Antes chegou a ser ocupado pela Discoteca Mythos). No local era possível fazer uso de aparelhos telefônicos modernos, com o tal acionador em disco, ou discador.

Durante a inauguração da Estação, uma bela festa, com direito a mesa de doces e refrescos, o ato da primeira ligação automática coube ao então prefeito municipal, Aristides Bastos Machado.

A cidade ficou curiosa com a novidade. Para matá-la, a Cia Telefônica colocou à disposição da população um aparelho de demonstração no escritório sede da empresa, na Praça Mauá, 1. Nele, os santistas podiam fazer ligações de testes e ouvir explicações de funcionários treinados para ensinar o correto uso do novo sistema.

Na reportagem publicada no jornal A Tribuna, em 14 de janeiro de 1934, são mencionados os investimentos da Companhia Telefônica Brasileira no sistema inovador:

“O aparelhamento telefônico que a Cia. Telefônica Brasileira vem de instalar em Santos representa o que há de mais eficiente existe. Esse aparelhamento instalado num prédio especialmente construído para alojá-lo servirá a todos os assinantes de Santos, de modo que, com a sua inauguração, desaparecem totalmente os antigos telefones manuais.

Cumpre notar, desde logo, que com a introdução do serviço automático em Santos nenhuma telefonista ou qualquer outra funcionária da Companhia Telefônica foi dispensada; continuam todas trabalhando normalmente nos novos e variados serviços que a ampliação da rede telefônica desta cidade veio criar.

Esse, aliás, tem sido o procedimento da Companhia em todas as demais cidades onde já introduziu o serviço automático.

Nas instalações realizadas pela Companhia em Santos, foram levados em conta não só as necessidades atuais como também o futuro crescimento do serviço, que por certo se verificará com o progresso da cidade.

A rede urbana de cabos telefônicos subterrâneos e aéreos foi completamente renovada. Só na parte central da cidade e adjacências a Companhia instalou cerca de 14 quilômetros de cabos subterrâneos, através de dutos ou canalizações especialmente construídas. Nas demais zonas da cidade, a Cia. estendeu cerca de 50 quilômetros de cabos aéreos novos.

Pode-se avaliar o número de fios que esses cabos aéreos e subterrâneos conduzem, atentando-se em que a sua capacidade varia de 52 a 2.424 pares de fios por cabo. Esses fios são todos de cobre delgado disposto em pares dentro do cabo, destinando-se cada par de fios a um assinante.

Todos esses fios são revestidos de material isolante adequado.

No prédio da estação automática a Companhia fez instalar um aparelho elétrico destinado a regular a temperatura e a umidade, mantendo-as no nível considerado satisfatório para a conservação e o funcionamento do complexo mecanismo.

Conseguiu-se, assim, evitar a influência desfavorável das condições climáticas de Santos sobre as delicadas peças metálicas do aparelhamento automático, que, de outra forma, estariam sujeitas à rápida corrosão ou deterioração.”

No mesmo prédio da nova estação automática, a Companhia fez instalar um centro interurbano inteiramente novo, moderno e de grandes proporções. Esse é mais um melhoramento que, sem dúvida alguma, influirá de forma decisiva para a maior presteza, nitidez e eficiência das comunicações interurbanas entre Santos e todas as demais localidades.

As redes telefônicas de Guarujá e Cubatão foram também remodeladas, passando essas localidades a ter serviço automático, idêntico ao de Santos, embora em menores proporções, como é natural.”

Anúncio publicado no jornal A Tribuna, em 13 de janeiro de 1934
Anúncio publicado no jornal A Tribuna, em 13 de janeiro de 1934
No dia 4 de janeiro de 1934, a Companhia Telefônica Brasileira já começava a avisar a população e seus assinantes sobre as mudanças que viriam a mudar a forma de comunicação por telefone.
No dia 4 de janeiro de 1934, a Companhia Telefônica Brasileira já começava a avisar a população e seus assinantes sobre as mudanças que viriam a mudar a forma de comunicação por telefone.
Recorte a A Tribuna, em 13 de janeiro, mostrando o novo edifício da Companhia Telefônica Brasileira, na esquina da Júlio de Mesquita e Bráz Cubas.
Recorte a A Tribuna, em 13 de janeiro, mostrando o novo edifício da Companhia Telefônica Brasileira, na esquina da Júlio de Mesquita e Bráz Cubas.

COMO CURIOSIDADE, ASSISTA ESTE VÍDEO NO YOUTUBE MOSTRANDO UM COMERCIAL NOS EUA SOBRE AS MUDANÇAS DO SISTEMA MANUAL PARA AUTOMÁTICO, POR DISCAGEM…

http://www.youtube.com/watch?v=GbNYu0rfq4w

 

 

 

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