Esta semana, mais precisamente no dia 5 de abril, Vicente Augusto de Carvalho foi lembrado e homenageado pelos 150 anos de seu nascimento. Advogado, jornalista, poeta, o ilustre santista, nascido em 1866, era reconhecido por sua excepcional capacidade oratória, letras finas e conduta reta, inteiramente coerente com seus princípios e valores. Vicente de Carvalho foi um aguerrido abolicionista e republicano. Chegou a ingressar na carreira política, elegendo-se deputado estadual em 1891 e, no ano seguinte, ocupar o cargo de secretario de interior no governo paulista de José Alves de Cerqueira César. Porém, logo cansou-se da burocracia e dos meandros do universo político e decidiu direcionar sua vida ao jornalismo, à agricultura (até 1901) e aos seus poemas, que o elevaram ao patamar de um dos mais importantes escritores do país. Das dezenas de obras literárias que produziu, a que especialmente marcou sua carreira, Poemas e Canções, foi lançada um ano antes de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, onde ocupou a cadeira nº 29, no lugar do maranhense Artur Azevedo, no dia 1º de maio de 1909. Vicente de Carvalho foi casado com Ermelinda Ferreira de Mesquita, a Biloca, com quem teve quinze filhos.
De todos os seus feitos, que não foram poucos, o que mais impactou os santistas foi sua luta pela preservação da faixa de orla praiana, alvo da especulação imobiliária no início da década de 1920. Na época, grandes palacetes começavam a modificar a paisagem local, a maioria construída a mando de influentes comerciantes de café. Os carros também já tomavam conta das velhas ruas e avenidas de areia batida dos bairros da praia e, assim, o ambiente se transformava. Atraídos pelo potencial econômico, um grupo de empresários iniciou uma forte articulação política para “tomar” a faixa de areia, com planos até de tornar a praia “particular”. Tal movimento alertou parte considerável da sociedade santista, em especial Vicente de Carvalho, figura de peso na imprensa paulista e ardoroso defensor de sua terra natal.
Assim, em 21 de agosto de 1921, o ilustre santista resolveu escrever uma carta aberta dirigida ao presidente da República, Epitácio Pessoa, que estava de passagem pela cidade, solicitando a transferência dos terrenos da orla (onde estão hoje os jardins), pertencentes à União, para o município, para que este pudesse promover um projeto urbanístico que salvaguardasse a orla marítima, onde já existiam trechos “ajardinados”, como descreveu em sua mensagem. Vicente de Carvalho foi enfático, duro em alguns momentos, prevendo que, caso os empresários tivessem êxito em sua empreitada, “o interesse particular, e é ele que se empenha nessa obra sacrílega de destruição abre lentamente, como micróbio ativo e tenaz, caminhos subterrâneos por onde se infiltra mesmo em organismos resistentes. Paira sobre Santos a ameaça de ser privada da melhor das belezas de sua terra, da linda praia da Barra, joia doada pela natureza, e que a nossa cidade vem, de geração em geração, gozando largamente e conservando com carinho”.
A carta surtiu o efeito desejado e o presidente Epitácio Pessoa providenciou, cinco meses depois, em 20 de janeiro de 1922, a concessão, enviado pelo ministro da Fazenda, ao coronel Joaquim Montenegro, prefeito da cidade na época, de aforamento gratuito da Praia da Barra à Câmara Municipal de Santos. O documento indicava que “não serão permitidas edificações no local, nem transpassa-lo ou subafora-lo”. Com a determinação, a praia estava salva e os jardins logo surgiriam, para o orgulho dos santistas, que devem a Vicente de Carvalho esta vitória pela preservação da orla santista.