A sede da municipalidade santista é também um dos principais cartões postais da cidade. O majestoso Palácio José Bonifácio reina imponente, desde 1939, na sempre ativa – e altiva – Praça Mauá, coração e centro nervoso de Santos. E, mesmo passados quase 80 anos, o prédio que abriga a Prefeitura e parte da Câmara Municipal, incluindo a sala de sessões, mantém sua magia e ainda impressiona santistas e visitantes, tanto pela sua arquitetura como por sua história. Realmente é difícil ignorar a beleza desse monumento, mesmo àqueles que já se acostumaram com sua presença.
Mas você sabia que, por duas vezes, a cara da Prefeitura santista poderia ser diferente? Que o endereço era para ser outro, que não a Praça Mauá? Ou que ao invés das estátuas de Hermes e Minerva, poderíamos ter esculturas de Braz Cubas e Martim Afonso de Souza dando as boas-vindas aos visitantes? Ou então enormes colunas gregas com águias imperiais impondo respeito?
Está achando brincadeira? Não é, não! Antes de bater o martelo num projeto definitivo, os santistas discutiram por várias vezes como e em que local construir a sede da administração municipal. A ideia era se livrar, de uma vez por todas, do incômodo aluguel de um dos blocos dos casarões do Largo Marquês de Monte Alegre (em frente à Estação de Trem do Valongo), utilizado como sede da Prefeitura e da Câmara Municipal desde 1895.
A primeira tentativa de viabilizar o Paço, assim, aconteceu no ano de 1903, quando a então Intendência Municipal abriu edital público para a recepção de projetos arquitetônicos visando a construção de uma edificação na área frontal ao Conjunto do Carmo, na atual Praça Barão do Rio Branco. Dez projetos foram apresentados, mas só dois foram escolhidos: O do engenheiro alemão Maximiliano Emílio Hehl, o mesmo que projetaria mais tarde a Catedral de Santos e o de seu conterrâneo germânico Oscar Kleinschmidt, que impressionou a comissão julgadora pela suntuosidade da sua proposta. Ambos projetos, porém, acabaram não sendo colocados em prática e o sonho da mudança teve de ser adiado.
Em 1927, a Prefeitura já tinha a posse da área defronte à Praça Mauá e, assim, havia mudado de ideia quanto ao local de sua futura sede. Neste ano surgiu uma segunda proposta, um pouco mais simples que as apresentadas em 1903. Ainda assim, faltava “grana” para a coisa andar.
Só no ano de 1936 é que surgiu a proposta que, finalmente, sairia do papel para tomar vida e fazer de Santos uma das poucas cidades brasileiras a ostentar um verdadeiro palácio como sede de seu poder executivo.
Bom, essa carinha você já deve conhecer, pois é a que todos podem olhar de perto ao visitar o Paço Municipal, na Praça Mauá.
E quanto às outras? São essas faces alternativas que você vai ver de perto agora, preservadas pelo arquivo da Fundação Arquivo e Memória de Santos – FAMS. São as faces de um passado que não se consumou.
O PROJETO DE 1903
Ao invés da Praça Mauá, a Praça Barão do Rio Branco. Como vizinhos, o Conjunto do Carmo e o Porto de Santos, que poderia ser visto das janelas posteriores da imponente sede da municipalidade santista, projetada em 1903 pelo engenheiro alemão Oscar Kleinschmidt que, mesmo não tendo sido o vencedor do edital que escolheria o projeto definitivo naquele ano, impressionou a comissão julgadora pela suntuosidade da sua proposta. O vencedor fora o também alemão Maximiliano Emílio Hehl, o mesmo que projetaria mais tarde a Catedral de Santos.
Tivesse saído este plano do papel, Santos teria, ao invés de um palácio construído à la Luis XV, de arquitetura fortemente influenciada pela escola francesa, algo mais gótico, quase uma cópia da prefeitura de Hamburgo, terra do dono desta proposta.
Há diversos pontos curiosos no projeto, como o fato do edifício ser maior do que o atual Palácio José Bonifácio e por ostentar, na entrada, esculturas de duas figuras históricas: Martim Afonso de Souza e Braz Cubas. Por conta disso, seria, talvez, o prédio batizado como Palácio Braz Cubas? Ou Martim Afonso?
Independente das conjecturas, o fato de as autoridades da época terem mudado de ideia quanto ao local para a construção acabou sepultando o projeto, considerado inviável para a nova área. A Prefeitura decidira desapropriar, em 1907, uma quadra inteira ao lado da Praça Mauá, o antigo Largo da Coroação, por entender que alí era o lugar mais apropriado.
O PROJETO DE 1927
O processo de desapropriação da quadra frontal ao Palácio dos Correios demorou, mas já estava consolidado na segunda metade dos anos 20.
Com isso, só faltava produzir um projeto para a área, que foi concluído em novembro de 1927, encomendado junto ao arquiteto e urbanista tcheco Josef Pitlik, o mesmo que desenhou o Museu de Arte do Espírito Santo.
Com o projeto em mãos, a Prefeitura pôde fazer um cálculo de custos para a execução da obra, orçada em Quatro Mil Contos de Réis. Obviamente, Santos não dispunha dos recursos e, assim, foi tentar obtê-los por empréstimo, junto a um banco inglês, por indicação dos ingleses da The City of Santos Improvements, maior empresa da cidade na época.
O empréstimo, porém, não saiu de imediato, como chegaram a acreditar os santistas e, assim, o projeto acabou engavetado.
Tivesse sido aplicado este projeto, teríamos um Paço menor do que o atual. Por outro lado, este prédio valorizaria mais as áreas abertas, com terraços laterais e um frontal, além de uma entrada com cobertura junto à rampa; colunas gregas com águias imperiais e ausência de escadarias nas laterais. Pela perspectiva artística, dá-se a ideia de sua altura não ultrapassar a do prédio dos Correios.
O PROJETO DE 1936
Depois de algumas tentativas fracassadas, somente em 1936 um projeto para o Paço Municipal andou para frente, tendo sido executado nos anos seguintes, até sua inauguração, em 1939. A principal barreira das autoridades santistas, na época, foi obter a verba necessária para a construção do prédio. No final dos anos 20, a municipalidade havia solicitado um empréstimo junto ao Bank of London & South America Ltd., no valor de 2,26 milhões de libras esterlinas, transação que só veio a ser formalizada em 1936. Daí o impulso para a produção do projeto arquitetônico.
Assim, depois de ter sido pensado por diversos homens, coube ao engenheiro Plínio Botelho do Amaral o privilégio de escrever seu nome na história, como o idealizador do lar do poder executivo santista.
O prédio, batizado como Palácio José Bonifácio de Andrada e Silva, possui linhas clássicas, de influência da arquitetura francesa. Ricamente construído, tem acabamento em mármore italiano e jacarandá, além de lustres de cristal da Bohêmia e vitrais com símbolos relacionados à Maçonaria. Abriga a imponente Sala de Sessões da Câmara, batizada com o nome da Princesa Isabel. Em sua inauguração, contou com a presença do então presidente do Brasil, Getúlio Vargas.