Uma batalha na Baía de Santos

ESTAMPAVANESPILBERGENtratadaEstampa holandesa produzida em 1621 mostra batalha naval em plena Baía de Santos
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Caminhar pela beira d´água nas praias santistas é um hábito praticado por milhares de pessoas, que aproveitam a bela visão da tranquila Baía de Santos para relaxar, esquecer os problemas do dia a dia. Diante disso, o que você diria se, ao invés de um mar de rosas, testemunhasse uma verdadeira batalha naval, daquelas que enchem os olhos nos filmes de Hollywood, como Piratas do Caribe? Pode parecer surreal, mas foi exatamente o que aconteceu no dia 3 de fevereiro de 1615, quando uma expedição organizada pela Companhia das Índias Ocidentais e comandada pelo navegador holandês Joris Van Spielbergen, chegava à barra com intenção de aportar na vila de Santos. O objetivo dos estrangeiros era abastecer os navios com água potável e mantimentos, assim como descer alguns homens doentes à terra a fim de tratá-los melhor, com medicamentos naturais. Santos era a última escala que os holandeses planejaram fazer antes de atravessar o temível Estreito de Magalhães, de onde teriam caminho livre para dar a volta ao mundo, como outros navegadores já haviam feito anteriormente. Mas para o azar de Spielbergen e seus comandados, os santistas não estavam muito afeitos a hospitalidade. A razão para tamanha repulsa se dava em função do trauma que os santistas vinham carregando no espírito por conta de algumas incursões piratas, em especial de corsários ingleses, que deixaram marcas profundas na vila. Por este motivo, antes mesmo de lançar as âncoras, os holandeses foram logo enxotados pelos colonos e seus aliados índios.

Indignados diante da má acolhida, os estrangeiros deram meia volta e resolveram capturar uma caravela portuguesa que naquele momento chegava à Baia de Santos, carregada de prata, relíquias e bulas de indulgência, oriunda da região do Prata. A notícia do assalto logo se espalhou e, poucas horas depois, um imenso conflito foi deflagrado em toda a região, mobilizando tropas formadas por colonos e nativos aliados, além do contingente de todas as fortalezas locais. O exército em terra atacou as seis naus inimigas holandesas estacionadas na Baía de Santos. Balas de canhões foram atiradas para todos os lados. O conflito, bastante longo, se finalizou com a desistência dos estrangeiros pela permanência em Santos.

Algum tempo depois, em 1621, Jan Janez, um editor de Amsterdam, publicou um livro  contendo duas estampas desenhadas a partir dos relatos da viagem de Spielbergen que, afinal,  conseguiu dar sua volta ao mundo. Uma delas, intitulada Le portrait de Capo de St. Vincent en Brésil, retrata o conflito na Baia de Santos, com detalhes da batalha.

Por isso, da próxima vez que você for caminhar na beira d´água na praia de Santos, feche os olhos e tente imaginar o épico combate entre os holandeses de Spielbergen e os colonos santistas, fato que um dia transformou as águas calmas da Baía num autêntico cenário de filme de piratas.

LEGENDAS

 Elucidário original da estampa de Jan Janez, de 1621
(vertido do francês para o português)

A – São seis chalupas, com as quais enviamos gente a terra

B – São nossos soldados, em formatura, a fim de que pudéssemos mais seguramente refrescar a Armada

C – É a Igreja de S. Marie de Nague, com uma casa trapiche de açúcar

E – São tropas armadas, tanto de portugueses como de naturais, aparecendo à beira do mar

D – É um dos nossos navios postos de sentinela

F – É a forma da cidade de São Vicente

G – É a forma da cidade de Santos

H – É uma fortificação levantada na costa, junto ao rio

I – São 4 das nossas chalupas subindo o rio em busca de “refresco”

J – É um dos nossos navios que monta guarda sobre nossas chalupas

L – São também tropas mistas, de portugueses e naturais, que se mostram junto ao mar

N – É uma escaramuça onde perdemos quatro dos nossos homens

M – É um pequeno navio que aprisionamos aos portugueses

O – É toda a nossa frota

P – Como destruímos o navio português

Q – O modo como se vestem os brasileiros, tanto os homens como as mulheres

R – É a maneira como muitos dormem, em uma rede, presa às árvores

 

 

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