A Ponta da Praia, além de ter sido o último bairro da zona da orla santista a ser urbanizado, também foi o espaço que abrigou a maior quantidade de atividades esportivas praticadas na cidade, historicamente falando. Sua proximidade com as águas do canal da barra grande o tornou um ponto privilegiado para os adeptos dos esportes náuticos como o remo, a vela, a natação, o polo aquático e… os saltos ornamentais.
Sim, Santos já foi uma referencia importante para este esporte que, atualmente, é praticado somente em piscinas mas que, naquele tempo, era comum em águas marítimas, rios e até lagos. Aqui, em terras santistas, nenhum lugar se encaixava de maneira mais apropriada do que as tranquilas águas da barra grande (atual entrada do porto de Santos), na Ponta da Praia.
Na virada das décadas de 1920 para 1930, antes mesmo da inauguração de sua sede social, o Clube de Regatas Saldanha da Gama investiu na construção de uma “torre de saltos” defronte à praia, na direção da Fortaleza da Barra Grande, que logo se tornou referencia em todo o Estado de São Paulo. A imprensa paulista comemorou o grande feito do “Clube de Perdigão” (Edgar Perdigão, vitorioso remador santista), pela acuidade na construção de um equipamento que atendia todas as exigências da Federação Paulista de Esportes Aquáticos.
A torre, a primeira construída na Ponta da Praia, tinha forma quadrangular, com 3 x 3 metros de área e 12 metros de altura, considerando-se as marés mínimas. Suas pranchas eram em número de 10, dispostas de metro em metro, possibilitando que até 10 homens saltassem ao mesmo tempo sem se tocarem. Nas alturas de um, dois e três metros estavam dispostas as pranchas móveis, em pares. As quatro restantes se configuravam em plataformas fixas, cada qual com três metros de largura.
A inauguração da torre de saltos pioneira aconteceu no dia 2 de fevereiro de 1930, juntamente com a disputa do Torneio “Dr. Ismael de Souza”, que reuniu duas provas de natação e três de saltos, sendo estas últimas abertas a todos os clubes federados de São Paulo. Sem dívida, foi um dia de grande festa na cidade.
Trocando por uma plataforma de alvenaria
Por quinze anos, esta plataforma mantida pelo C.R. Saldanha serviu para abrigar todas as necessidades dos atletas santistas da modalidade, assim como recebeu diversas provas promovidas pela Federação Paulista de Saltos Ornamentais. Porém, as intempéries do tempo e a ação do mar corroeram boa parte da estrutura original (de madeira), obrigando a cidade a pensar seriamente na troca do equipamento.
Foi então que, em 1945, o então prefeito Antônio Gomide Ribeiro dos Santos, sugeriu que o município fizesse a obra, aproveitando o esforço que sua administração vinha fazendo por meio dos melhoramentos que ocorriam no bairro, em especial com a urbanização da avenida Almirante Saldanha da Gama (incluindo a criação de uma muralha de pedras de contenção, com a colocação de um muro abalaustrado – que se tornaria décadas mais tarde num símbolo da cidade, as famosas muretas dos canais) e a construção de um atracadouro de alvenaria, para os barcos (Ponte Edgar Perdigão) que funcionavam na travessia para a praia do Góes e Ilha das Palmas. Antônio Ribeiro propôs a troca do famoso trampolim de madeira, por um de concreto armado, no que apresentou um projeto.
A nova plataforma, no caso, serviria para atender a demanda de uso dos quatro clubes de regatas da Ponta da Praia (Internacional, Regatas, Vasco e Saldanha). Só a parte de concreto custaria Cr$ 52.450,00 (cinquenta e quatro mil e quinhentos cruzeiros), o equivalente hoje em dia a cerca de R$ 420.000,00 (Quatrocentos e vinte mil reais). A ideia era mais extensa, e incluía também a construção de uma área reservada em concreto para a prática de natação e polo aquático.
Ao final, o projeto não foi realizado como pretendido. O que de fato ocorreu foi a construção de uma base de concreto montada no mesmo local que a torre de saltos de rústica. A plataforma do novo trampolim, entretanto, voltou a ser de madeira, ou seja, sem a pretensa modernidade anunciada.
Dona Dorotéia usava o trampolim
O uso do equipamento nem sempre foi para atividades esportivas. No período de Carnaval, os foliões que brincavam a patuscada “Dona Dorotéia, Vamos Furar Aquela Onda? “, também faziam uso do trampolim para o Gran Finale do evento. Era divertido testemunhar os marmanjos vestidos de mulher saltando das plataformas mais altas, de forma destrambelhada.
Sobre o esporte Saltos Ornamentais no Brasil
No Brasil, os principais registros deste esporte datam do início do século 20. Os primeiros saltos no país foram realizados às margens do rio Tietê, em São Paulo, no Clube Espéria, em 1911. A primeira competição ocorreu em 1913, na Enseada de Botafogo, no Rio de Janeiro. O Fluminense F.C. foi o primeiro clube a construir uma piscina destinada somente aos saltos ornamentais, com trampolins de um e três metros e plataforma, em 1919.
O primeiro Campeonato Nacional aconteceu em São Paulo em 1921, que a partir de 1928 passou a se chamar Campeonato Brasileiro. Foi nesta época que os clubes santistas começaram a participar das competições. Em 1934 foi disputado o primeiro Campeonato Sul-Americano. No ano seguinte, foram admitidas as competições femininas no Brasil. Nas décadas de 1940 e 50 foram construídas muitas piscinas com aparelhagem para saltos ornamentais em São Paulo (C.R. Tietê, C. Germânia, atual E.C. Pinheiros, C. Espéria, S.E. Palmeiras e Pacaembu) e no Rio de Janeiro (C.R. Guanabara e C.R. Vasco da Gama).
Em 1951 foi disputado o primeiro Campeonato Pan-Americano. A partir de 2000 o Brasil tomou grande impulso e os resultados internacionais começaram a aparecer.