O Cristo de Areia e a placa resgatada

Se o Rio de Janeiro possui o Cristo Redentor mais famoso do planeta, uma das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, a cidade de Santos pode se orgulhar de possui o Cristo Redentor mais singular, incomum, feito de… areia do mar! Inaugurado na entrada da cidade, na Praça Lion Clube, em dezembro de 1980, o monumento foi recentemente recuperado (agosto de 2017), assim como todo o entorno.

Uma das tarefas para a recuperação total do Cristo foi a de refazer uma nova placa, uma vez que a original fora roubada há alguns anos. No entanto, ninguém na cidade se recordava dos dizeres dela e tampouco se encontravam imagens que pudessem revelar o que nela estava escrito. Assim, entregaram a mim a tarefa deste resgate.

A primeira linha de raciocínio me levou ao arquivo do jornal A Tribuna, onde tive acesso à coleção dos jornais de 1980. Na reportagem sobre a inauguração, publicada na edição de 9 de dezembro daquele ano, verifiquei que a foto utilizada para a ilustração da matéria exibia o então prefeito Paulo Gomes Barbosa descerrando a placa. Só que ela, no clique do fotógrafo, ainda estava coberta pelo tecido do cerimonial. Não seria aquela imagem útil ao propósito da investigação.

Mas, não foi difícil deduzir (ainda mais sendo jornalista e tendo trabalhado em jornais impressos) que, certamente, o fotógrafo encarregado da cobertura naquele dia haveria produzido outras imagens, e os negativos destas consequentemente guardados no acervo.

E, adivinhem?

Depois de quase meia hora de trabalho, com a ajuda do amigo Rogélio, funcionário do setor de pesquisa de A Tribuna, encontrei não só a desejada imagem da placa, mas várias outras, que agora tenho o prazer de dividir com os leitores do Memória Santista, junto com um resumo da matéria sobre a inauguração do Cristo de Areia, de Pedro Germi.

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Inauguração do Cristo Redentor de areia do Mar, em dezembro de 1980
Inauguração do Cristo Redentor de areia do Mar, em dezembro de 1980

ENTRADA DA CIDADE JÁ TEM O CRISTO REDENTOR

Uma estátua totalmente santista. Esta foi a definição, na época, para o que representava o Cristo Redentor da Praça Lions Clube, inaugurado numa ensolarada tarde de segunda-feira, dia 8 de dezembro de 1980. E não era para menos. Afinal, o bloco de granito que formou a base do monumento, de 2,45 metros de altura, fora extraído dos morros da cidade. A própria estátua, com 2,75 metros de altura e 900 quilos de peso, era feita com a areia do mar da praia do Gonzaga, com um processo ainda secreto de vitrificação, também desenvolvido em Santos. Então, definitivamente, nada mais santista do que isso!

A inauguração do Cristo aconteceu às 10h30, com a presença do então prefeito Paulo Gomes Barbosa, representantes do Exército, da Aeronáutica e do Comando de Policiamento da Área/6, além de alunos do Colégio Mário de Alcântara e Martins Fontes. Estava também na festa vários secretários municipais. Um deles, o de Higiene e Saúde, José Pereira Sartori, até teve de trabalhar durante a cerimônia, tendo que atender duas integrantes do Coral Municipal de Santos que passaram mal sob o forte sol do dia.

O evento contou com a apresentação do poeta Horácio Gonçalves, que observou uma coincidência em relação à data: “O Cristo Redentor está sendo inaugurado justamente no dia da Imaculada Conceição, o dia de sua mãe”. Para abençoar o monumento, esteve presente o monsenhor João Vicente Leite, que representou o bispo diocesano de Santos.

A foto original que saiu publicada na edição de 9 de dezembro de 1980.
A foto original que saiu publicada na edição de 9 de dezembro de 1980.

FÓRMULA SECRETA DE GERMI

O autor da singular obra de arte, o escultor Pedro Germi, disse à reportagem que sua técnica inovadora seria mantida em segredo por muitos anos. Ele alegou que não iria dividir seus conhecimentos porque os mesmos ainda estavam em formação, em fase de experiências.

Germi contou que, para fazer o Cristo Redentor, trabalhou durante 66 dias, 16 horas em cada um deles, contando com um ajudante na fase inicial, e uma equipe de seis na fase de montagem das partes. Ele alegou que as emendas, bastante visíveis ainda na inauguração, desapareceriam entre três a quatro meses, já que elas escureceriam naturalmente, enquanto que o corpo da estátua, bastante escuro, iria ficar mais claro, até que ambas se igualassem.

O escultor, que era tataraneto de italianos (ele faleceria em 20 de setembro de 1997), nasceu em Lins, interior de São Paulo, em 1930 (12 de janeiro). Na época da inauguração do Cristo, ele já se dedicava à arte da escultura havia 41 anos, sendo 17 anos aos trabalhos com areia do mar. A primeira tentativa com este material ocorrera em uma visita a Santos em 1947. O processo que ele desenvolveu ao longo do tempo se solidificou em 1958, quando suas esculturas começaram a ganhar fama no Brasil e até no exterior.

 

Nesta imagem é possível ver claramente a placa e seus dizeres.
O prefeito Paulo Barbosa observa o novo monumento da cidade. Nesta imagem é possível ver claramente a placa e seus dizeres.
A primeira-dama do município, Maria Ignêz Barbosa, deposita flores ao pé da estátua do Redentor, em 8 de dezembro de 1980.
A primeira-dama do município, Maria Ignêz Barbosa, deposita flores ao pé da estátua do Redentor, em 8 de dezembro de 1980.

 

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