Um santista na Big Apple

Monumento em homenagem ao santista José Bonifácio, em Nova Iorque.
Monumento em homenagem ao santista José Bonifácio, em Nova Iorque.

 

“Bonifácio não é patrimônio exclusivo dos brasileiros. Sem dúvida pertence a todo o hemisfério ocidental”
Spruille Braden, diplomata norte-americano em discurso durante a inauguração da estátua em homenagem a José Bonifácio de Andrada

Sexta-feira, 22 de abril de 1955. Estava uma manhã agradável em Nova Iorque, a famosa metrópole norte-americana, a Big Apple que sempre abrigou todas as gentes do mundo. Centenas de pessoas lotavam as imediações da esquina da Sexta Avenida (6th Avenue) com a Rua 42 Oeste (W42nd St), numa das bordas do encantador Bryant Park, para prestar homenagem a um homem que, para a história das Américas, figurou entre os seus herois, um “libertador”, tal qual foram Simon Bolivar, José de San Martin e George Washington. Reconhecido em todo o mundo por seus ideais de igualdade entre as pessoas, nos Estados Unidos, o santista Andrada (como seu nome era mais difundido por lá) era comumente comparado com Benjamim Franklin (já que o pensamento de ambos foi influenciado pelo iluminismo do século 18) e isso era motivo de orgulho para os brasileiros.

Nota publicada no jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro
Nota publicada no jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro

Assim, naquela manhã primaveril novaiorquina, uma estátua em referência a José Bonifácio era inaugurada, um privilégio único (nunca um brasileiro havia sido homenageado de tal maneira em solo norte-americano). A ideia partira do próprio governo brasileiro em conjunto com o Ministério de Relações Exteriores dos Estados Unidos, como forma de reiterar a relação de amizade entre os dois países.

As tratativas se iniciaram em 1951, com a mediação do então prefeito de Nova Iorque, Vicente Impellitteri. A proposta era a de promover um concurso entre escultores brasileiros, que acabou vencida por José Octávio Correia Lima (na época, diretor da Escola Nacional de Belas Artes), cujo projeto impressionou bastante a banca de seleção. O produto deveria ser feito totalmente em broze, com nove pés de altura e base de granito.

Enquanto a estátua era produzida, o prefeito Impellitteri decidiu sugerir o melhor local para sua instalação. E, sem dúvida alguma, logo propôs para que fosse em Bryant Park, no lado voltado para a Sexta Avenida (já conhecida pelo apelido de Avenida das Américas), em Manhattan, não muito longe do Central Park South, onde já estavam os monumentos dedicados aos outros libertadores da América do Sul: San Martin e Simon Bolivar. Os brasileiros, satisfeitos com a indicação, aceitaram a ideia.

O trabalho de Correia Lima foi concluído em 1953, ano em que o governo brasileiro o doou à cidade de Nova Iorque. No entanto, foram necessários quase dois anos para preparar toda a burocracia, obras de apoio e atos protocolares para, finalmente, ter condições de inaugurar o monumento, o que acabou ocorrendo naquela manhã de sexta-feira, 22 de abril de 1955, data estrategicamente escolhida por se tratar do aniversário de descobrimento do Brasil.

O evento contou com a presença do sucessor de Impellitteri, o prefeito Robert Ferdinand Wagner Jr., além do embaixador brasileiro nos Estados Unidos, João Carlos Muniz, que representava oficialmente o então presidente Café Filho (* Quando a homenagem foi proposta, em 1951, o presidente era Getúlio Vargas, que havia acabado de retornar ao cargo por via eletiva. Provavelmente ele estaria em Nova Iorque para a festa de entrega da estátua. Mas Getúlio suicidou-se em 24 de agosto de 1954).

Nota publicada no jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.
Nota publicada no jornal Diário de Notícias, do Rio de Janeiro.

Nos discursos, o embaixador brasileiro comparou Bonifácio aos ilustres norte-americanos Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, lembrando que o santista, como grande influenciador da libertação do Brasil, fora um dos primeiros a adotar a Doutrina Moore (anunciada pelo presidente estadunidense James Monroe – presidente de 1817 a 1825 – em sua mensagem ao Congresso em 2 de dezembro de 1823), cujos ideais se resumem na célebre frase  “América para os americanos”. A Doutrina Moore consistia em três pontos: a não criação de novas colônias nas Américas;  a não intervenção nos assuntos internos dos países americanos; a não intervenção dos Estados Unidos em conflitos relacionados aos países europeus como guerras entre estes países e suas colônias.

João Carlos Muniz também exaltou a relação de amizade que une o Brasil aos Estados Unidos. “Cento e trinta anos se escolaram desde o início das relações entre os nossos países. Através de todas as vicissitudes e crises, nossos dois povos permaneceram lado a lado, na defesa dos mesmos valores de civilização

Da esquina para o meio do Parque

Quando foi inaugurado, o monumento do santista José Bonifácio de Andrada, ficava na esquina da Sexta Avenida com a Rua 42 Oeste. No final dos anos 80, o Bryant Park passou por uma grande remodelação (havia alguns anos o local se transformara em um ponto degradado e de consumo e venda de drogas). Para reverter a situação, a cidade de Nova Iorque montou uma comissão para revitalizar o parque e seu entorno, medida lograda de êxito. Quando o Bryant ficou pronto, em meados dos anos 90, houve um problema com a escultura de Bonifácio, que não foi colocada no seu lugar original, mas em uma posição que inicialmente não a valorizava. À época, a Comissão de Arte intercedeu no caso até que ele fosse resolvido. E foi assim que o monumento acabou mais uma vez movido, sendo posicionado para um local mais visível e valorizado, na borda da 40 oeste, no espaço conhecido como Nikola Tesla Corner.

Monumento a José Bonifácio de Andrada, na margem da Sexta Avenida, em Manhattan. Foto de Peter Roan (Flickr)
Monumento a José Bonifácio de Andrada, na margem da Sexta Avenida, em Manhattan. Foto de Peter Roan (Flickr)

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