Carmem Miranda não era brasileira de nascimento. Era portuguesa. Porém, sua imagem projetada no mundo inteiro foi de uma legítima mulher carioca, brasileira da gema. Adorada em todo o país, como em todo o globo, Carmem alcançou o status de estrela do cinema norte-americano e suas palavras ganhavam dimensões extraordinárias.
Carmem Miranda esteve em Santos por três vezes, uma delas em pleno período de Carnaval, a festa que tanto projetou para fora do país, com sua dança irreverente, alegre e colorida. Em terras santistas, nos idos de 1936, a cantora revelou o que sentia a respeito da cidade portuária paulista, ao vivo, na Rádio Atlântica, “A Voz do Mar”, patrocinadora de suas vindas para cá. “Eu acho que Santos se parece tanto com o Rio de Janeiro, que tenho a impressão que o santista é um carioca em miniatura”.
A estrela nacional se referia ao jeito extrovertido do santista, de espírito afável e carnavalesco. Afinal, Santos tinha o segundo Carnaval do país, em tamanho, irreverência e tradição.
O saudoso jornalista e historiador do Carnaval santista, Bandeira Júnior, certa vez abordou o fato em uma de suas colunas “Bossa Nova”, publicada em A Tribuna. Disse sobre a semelhança “das gentes da Guanabara e do Valongo, cujas cidades tropicais, marítimas e praianas, apresentam outros interessantes pontos de contato geográficos, etnográficos, sociológicos, desportivos e momísticos”.
“Nas duas populações predominam o elemento lusitano, nordestino e afro-brasileiro. Lá se fala em Cais do Porto, aqui em Companhia Docas. Cá e lá, favelas há. Para um morro alinhado como o de Santa Tereza, nós opomos o nosso Santa Terezinha (Suiça Brasileira). As praias do Leme, Copacabana, Leblon e Ipanema, nós contrapomos as praias do Embaré, Boqueirão, Gonzaga e José Menino. Para um “Mengo”, o mais popular do Brasil, nós temos um “Santos”, o mais popular do Mundo! Se o Maracanã apresenta Garrincha, na Vila Famosa apresenta Pelé”
“Assim, cariocas e santistas são uma coisa só, o que permite a um carioquíssimo Silvio Caldas virar santista, sem o menor constrangimento e a um santista da gema, Vicente Paiva (co-autor da marcha “Mamãe eu Quero”) tornar-se carioca, com a mesma facilidade”
Bandeira Júnior enumera outras razões para corroborar a frase da “Pequena Notável” que, em absoluto, não quis diminuir (ou minimizar) a importância do santista perante o carioca, mas, sim, mostrar a similaridade de alma das duas populações, marítimas, portuárias e carnavalescas como poucos no país da folia.