Na história de Santos, foram muitos os grandes estabelecimentos comerciais que desapareceram, mas que deixaram marcas importantes na cidade. Entre tantos, este post trata da história da “Sociedade Anonyma Assucareira Santista”, fundada em abril de 1918, e autorizada a funcionar por meio do Decreto nº 12.970, assinado pelo então presidente da República, Venceslau Braz Pereira Gomes.
Os primeiros registros, porém, datam de 1915, quando foi constituída a sociedade Goulart e Cunha, que criou efetivamente a “Assucareira Santista”, empresa que se especializaria no comércio e distribuição de açúcar para Santos e região. O armazém de estocagem e escritórios ficavam na então Rua Conselheiro Nébias (não era ainda avenida), números 57 e 59.
Em 1918, logo após a autorização governamental para funcionamento, a Assucareira Santista abriu ações na Bolsa de Valores de Santos, com capital de 200 contos de réis (o equivalente a oito milhões de reais nos dias de hoje)
A empresa tinha como principal proprietários o comendador José da Silva Gomes de Sá, importante figura da cidade santista, tendo sido ele também presidente do Moinho Santista, da Beneficência Portuguesa e mesário da Santa Casa de Misericórdia (falecido em 17 de maio de 1929). Ele era casado com Claudina Neves Gomes de Sá, com quem teve quatro filhos (José Carlos, Helena, Maria e Amâncio).
Em 1936, a Companhia, já nas mãos do grupo empresarial Bento de Souza, & Cia., decidiu ampliar seus negócios para a torrefação de café, mas encontrou resistência junto ao Departamento Nacional do Café, que julgou ofensivo os direitos de comércio da empresa santista. O caso foi parar na 3ª Vara Federal, onde a Assucareira Santista entrou com um mandato de segurança visando garantir os trabalhos. Para fazer o transporte do café torrado, de Santos para a capital paulista, era necessário uma guia fornecida pelo DNC.
Na capital paulista, a Assucareira Santista tinha sua rede de distribuição localizada na Rua da Consolação, 66.
Na fachada do edificio da Conselheiro Nébias aparece o nº 159, referente ao número telegráfico da companhia (vale lembrar que na época, o telégrafo era um dos grandes meios de comunicação entre as empresas) .
A falência da Assucareira Santista foi considerada um choque no mercado. O jornal Correio Paulistano, em sua edição de 23 de março de 1939, assim noticiou o fato: “UMA FALÊNCIA RUIDOSA – Está percorrendo no fôro local uma falência que se está tornando ruidosa. Requerida há dias a falência da antiga e prestigiosa firma Bento de Sousa e Cia, que abrangia grandes negócios, que se estendiam à indústria, com a exploração da antiquissima Assucareira Santista, cujos produtos eram grandemente acreditados não só em Santos como em outras regiões do Estado, processou-se a mesma normalmente, sendo nomeada sindico a firma Francisco Matarazzo e Cia, como principal credor. O passivo da firma falida era, entretando, apreciável, causando estranheza como uma firma tão sólida e tão acreditada ruisse assim inesperadamente. Tal notícia estourou, pois, como uma bomba. Com o desenvolvimento do processo, entretanto, novas surpresas surgiram, chegando-se a atribuir a falência o caráter fraudulento, em virtudes de denuncias que surgiram. Agora, acaba de ser requerido na polícia local, um inquérito contra os últimos responsáveis pela firma, sendo autor do requerimento o sr. Edgardo Boturão, por sinal parente próximo dos falidos. O requerimento foi apresentado à polícia pelo sr. dr. Amazonas Duarte, como procurador daquele cavalheiro. O desenrolar das diligências policiais está sendo acompanhado com ansiedade, muito embora os interrogatórios das testemunhas estejam sendo feitos sob segredo. Este inquérito está correndo sob a presidência do 2º delegado.”