Nova Iorque, domingo, dia 6 de janeiro de 1957. O programa de televisão “Ed Sullivan Show”, líder de audiência nos Estados Unidos, se preparava para entrar no ar, às 20 horas, cumprindo o mesmo ritual desde 1948, quando estreou na rede CBS. Nos bastidores, um corre corre de produtores se intensificou de repente, depois de circulada a notícia de que a grande atração da noite não poderia se apresentar, por motivos que acabaram não revelados. Ed Sullivan aparentemente se mostrou preocupado, uma vez que o convidado era ninguém menos do que a maior coqueluche da música nos últimos anos, o jovem Elvis Presley. Porém, tarimbado de situações semelhantes, o experiente apresentador havia reservado uma carta na manga. Ele convidara para aquela mesma noite uma cantora brasileira que vinha arrebatando corações pela América, uma mulher que diziam possuir a capacidade de alcançar notas acima da oitava, o que era algo raro. Sullivan não pensou duas vezes. Não poderia haver melhor substituto para Elvis em seu programa do que a latina, nascida na cidade de Santos, São Paulo. Seu nome: Hilda Campos Soares da Silva, ou Leny Eversong, como todos, de fato, a conheciam.
Antes de ingressar ao palco do “Ed Sullivan Show”, Leny havia conquistado a admiração do jovem Rei do Rock. Elvis afeiçoou-se à santista, que à época tinha 36 anos de idade. Em razão de seu físico, avantajado, corpulento, os amigos mais próximos do astro norte americano diziam que Leny parecia-se com Gladys Presley, mãe de Elvis, dai a empatia imediata. Mas, fosse qualquer outra razão, o certo é que ambos acabaram construindo uma boa amizade.
Apesar de ter iniciado uma trilha de sucesso no exterior, foi após o programa da CBS que Leny Eversong “explodiu” para o mundo. Suas interpretações de “El Cumbacheiro” e “Jezebel”(em inglês) se tornaram o fio condutor para uma avalanche de reportagens estampadas por toda a imprensa norteamericana, que se ocupou vastamente de falar sobre a brasileira de voz colossal. Leny estava nas nuvens, pois jamais poderia supor que alcançaria tamanho estrelato, levando em conta o que passara alguns anos antes.
O início
A santista, atuando com o nome de batismo, Hilda Campos, começou sua trajetória em 1932, aos 12 anos de idade, inscrevendo-se para tomar parte do programa “Hora Infantil da PRB-4”, produzido pela Rádio Clube de Santos. Passou pelos testes de forma brilhante e logo em seguida obteve um inesperado contrato para atuar na programação noturna da emissora. Ajudou, e mjuito, o fato de a menina aparentar ser mais velha, o que acabou sendo um impulso inicial em sua carreira. Em poucos anos, a menina já era conhecida como “Hildinha, a princesa do Fox Trot”.
Em 1935, numa das dependências do Parque Balneário Hotel, surgia a Rádio Atlântica de Santos, com a alcunha de “A Voz do Mar”. A nova emissora tinha um plano ambicioso de tornar-se uma das maiores do país. Buscando formar um “cast” com os artistas radiofônicos mais badalados, Hildinha acabou na mira da Atlântica e foi convidada a mudar de casa, recebendo a irrecusável proposta para ganhar 200 mil réis mensais (contra 80 mil que recebia da PRB-4). A jovem cantora não pensou duas vezes e não só mudou de prefixo, como também de nome. Foi aí que nascia “Leny Eversong”.
Subindo a Serra e os primeiros discos
Não demorou para a santista encantar o Brasil e ter de trocar sua cidade natal pela estrada. Leny era chamada para atuar nas maiores emissoras do país (Tupi, Cultura, Gazeta, Bandeirantes, Record, Nacional) assim como apresentar-se nos principais palcos brasileiros: Cassino da Urca, Copacabana Palace, Cassino do Guarujá, Night Clube de São Paulo, entre outros.
Em 1940, finalmente ela gravava seu primeiro Long Play (LP), pela Copacabana Discos, emplacando sucessos como o samba “Ele não veio” e a valsa “Roda, roda, roda”. Logo depois surgiram propostas da Columbia e Continental, onde Eversong pôs na cera hits como “I dig a dish”, “Kalambazoo”, “Candy”, “Put the Blame on Maine”, “Jezebel” e o samba carnavalesco “Eu não sabia”.
Leny Eversong era conhecida no meio musical como a maior intérprete nacional de música norte-americana, o que a levou a ganhar, em 1952, o cobiçado prêmio Roquete Pinto, além da medalha de ouro pela conquista do título de melhor cantora do rádio em 1952.
Auge da carreira
Foi na segunda metade dos anos 50 que Leny viveu o auge de sua carreira. Vez ou outra era capa das principais publicações brasileiras e trazia a tiracolo uma invejável agenda internacional (incluindo Las Vegas, Nova York e Paris), atuando em grandes teatros e cassinos. Para os críticos de arte da época, Leny fora a primeira brasileira a cantar em Las Vegas apenas por suas qualidades de cantora. Carmen Miranda fez sucesso antes mas, além de ser portuguesa, seu caso foi extraordinário, uma vez que a “Pequena Notável” obteve sua agenda na terra dos cassinos só depois de fazer cinema.
A santista também se apresentou em vários países de lingua latina, na América do Sul e México. E era aplaudida de pé até em lugares que não era tão famosa, como na Venezuela. Leny fez tudo o que um artista sonhava fazer, contando sempre com os melhores músicos, estúdios, arranjos e maestros. Gravou vários discos e seu nome estampou os letreiros das principais casas de show do mundo.
Abandonada e esquecida
Até o final dos anos 1960, sua carreira ia bem, até que teve seu marido sequestrado quando saiu para comprar cigarros (ele nunca mais foi visto). Leny entrou em depressão. O cantor Agnaldo Rayol foi quem a acolheu em seu sítio por um tempo. Depois do episódio, a santista afastou-se da vida artística e só aparecia esporadicamente em programas de televisão e eventos.
Com o passar dos anos, Leny Eversong foi sendo esquecida pelo público e pela mídia e acabou morrendo em 1984, aos 64 anos de idade, vítima de diabetes.
Curiosidades
Muitos críticos de arte diziam que Leny Eversong não sabia falar inglês e que tinha dificuldades para lembrar as letras das canções que interpretava. Para suplantar a dificuldade, diziam que a santista sempre carregava consigo um papel com as músicas e as cantava lendo, mas só quando o programa era na rádio. Quanto ao inglês, diziam que ela “embromava” o público decorando as palavras e as interpretando do seu jeito.
VEJA APRESENTAÇÃO DE LENY EVERSONG NO ED SULLIVAN SHOW – EL CUMBANCHERO
VEJA OUTRA APRESENTAÇAO DE LENY EVERSONG NO PROGRAMA DA CBS – JEZEBEL