Santos, terça-feira, dia 16 de julho de 1907. Eram quase três horas da manhã, quando, de repente, o silêncio no lar da família Rodrigues, situado na pacata rua Dois de Dezembro (a atual D. Pedro II, no Centro Histórico de Santos), era quebrado pelo choro vigoroso do varão do casal Cassiano Osório e Dulce da Silva. No calendário católico, aquele era o dia consagrado à Nossa Senhora do Carmo e, assim, gratos por ganharem um menino tão pleno de vida e saúde, o batizaram Olao do Carmo Rodrigues, o primeiro de uma prole que somou, ao longo de uma década e meia, onze filhos, curiosamente quase todos com nomes que iniciavam com a letra “O” (Olao, Odair, Oacy, Osório, Osmar, Osmário, Ivo, Orival, Ondina, Dulce e Dilma), o que indicava uma espécie de predileção por parte de Cassiano, um dedicado despachante aduaneiro, quinto oficial da Alfândega de Santos.
O menino Olao, assim como seus irmãos, teve uma vida regrada, controlada de perto pelo exigente pai. Nem mesmo jogar bola na rua era facilmente permitido pelo rigoroso Cassiano. Aos sete anos de idade, o primogênito dos Rodrigues iniciou sua vida estudantil, ingressando no ensino primário do Grupo Escolar Barnabé, localizado a poucas quadras de sua casa. Atento às coisas que aconteciam na cidade, Olao se encantava com os grandes fatos, como os primeiros voos de aeroplanos em solo brasileiro, verificados nas areias da praia do José Menino. Já adolescente, foi cursar o ginásio no Grupo Escolar “Cesário Bastos”, concluido, contudo, no Externato Santa Rita, onde percebeu pela primeira vez que possuia habilidades para as letras e, consequentemente, para o jornalismo.
Apesar de bastante elogiado pelos professores, Olao parecia não ter tomado gosto pelos estudos. Ele acreditava que a simples observação do mundo, aliado ao comprometimento às tarefas impostas pela vida lhe garantiriam o “saber” de forma ampla, passando longe da necessidade de vivenciar plenamente o universo escolar.
E foi investindo nesta capacidade para absorção de conhecimento que Olao aprimorou-se como um autodidata clássico. Desde muito cedo debruçava-se sobre livros, jornais e revistas, solidificando sua maturidade na literatura e na gramática. Era na companhia desses dois aliados, que ele sentia-se confiante para enfrentar uma máquina de escrever e depositar no papel suas histórias, que seriam muitas, acumuladas na longa jornada que iria empreender.
Estreia de fogo no jornalismo
Em 1932, aos 24 anos de idade, o jovem Olao foi indicado por um amigo, Newton Nora Carrijo, para falar com o tenente Mário Amazonas, diretor e proprietário do Jornal da Noite, órgão de imprensa cuja sede situava-se na Praça da República, 38. Lá, ele ganharia a oportunidade para galgar os primeiros degraus numa carreira que se aventava brilhante. O redator-chefe do vespertino (o jornal circulava no final da tarde) era o professor Cleóbulo Amazonas Duarte e o secretário, dr. Júlio Barata (que viria a se tornar ministro do Tribunal Superior do Trabalho – TST – em 1946, e Ministro do Trabalho e Previdência Social em 1972, no governo do Presidente Emilio Garrastazu Médici).
Quando Olao pisou na redação do periódico pela primeira vez, já como contratado, o novo chefe lhe apontou uma máquina de escrever que ficava numa mesa de canto e lhe incumbiu à tarefa de redigir as notas esportivas do dia. De acordo com o próprio Olao, em relatos sobre o fato, narrado no livro “Eu, Repórter”, editado em 1971, “foi uma surpresa que me deixou embaraçado e mais nervoso que apostador da Loteria Esportiva ao ouvir pelo rádio o resultado dos jogos do teste”. O jovem repórter, entretanto, agradeceu o fato de ter assistido na véspera, a partir das gerais do estádio Urbano Caldeira, a um jogo noturno entre o Santos Futebol Clube e o América do Rio. O compromisso, sem querer, acabou lhe abastecendo de assunto o suficiente para encher algumas laudas.
E assim fora a estreia do novo foca do Jornal da Noite. Olao trabalhou incessantemente para que pudesse entregar a contento o material que lhe fora solicitado pelo secretário de redação. Ao concluir a tarefa, entretanto, acreditou, ingenuamente, que havia cumprido a missão do dia. Ledo engano. Para sua surpresa, Julio Barata o chamou de canto e lhe entregou mais uma missão. Deveria substituir o repórter policial, que havia faltado naquele dia. Sua segunda reportagem era cobrir um caso fresco de homicídio, ocorrido no Mercado. O chefe fora enfático: – “Anote tudo o que houve por lá. Investigue. Pegue entrevista com o criminoso e testemunhas, vá à polícia e venha correndo descrever o caso. Reservaremos mais de uma página”. Olao, assustado, pensou: “Bela estreia! O que eu tenho a ver com polícia?”.
O caso em si, ocorrido na Praça Iguatemi Martins, envolvia um comerciante sirio, que abatera a tiros de revolver um indivíduo bêbado que fazia xixi na porta de sua loja de armarinhos, e diante da jovem balconista que, por sinal, era filha do estrangeiro. O episódio até poderia ser narrado com simplicidade, mas Olao, dono de uma aptidão extraordinária para escrever, redigiu o trágico acontecimento empregando contornos dramáticos e sensacionalistas, convertendo a factual reportagem praticamente num conto policial.
E assim sucedeu-se sua estreia de fogo no mundo jornalístico.
Passagem por outros jornais
Durante três anos, Olao trabalhou no Jornal da Noite como redator dos noticiário esportivo e policial. Na segunda sessão, dividia a tarefa com o colega que havia faltado no dia de seu debute. Era Esmeraldo Soares Tarquínio de Campos (que viria a se tornar pai de um grande político da cidade, eleito prefeito do município de Santos e cassado antes da posse). Além de Tarquínio, outros nomes importantes conviveram com o jovem Olao na redação do vespertino, como Antonio Sarabando, Rosinha Mastrângelo e Edmar Morel.
Por conta do seu reconhecido trabalho no Jornal da Noite, e devidamente inserido no meio jornalístico da cidade, Olao começou a receber outras ofertas de trabalho, fosse para tarefas de longo prazo ou, como se diz no jargão da imprensa, “freelancers” (serviços temporário ou ocasionais).
Depois que deixou a casa jornalística que lhe abriu as portas para a profissão, no início de 1935, Olao acabou sendo contratado para trabalhar no periódico Diário da Manhã, dirigido por Luis Antonio Alvarenga, e onde atuavam grandes nomes da imprensa local, como seu amigo e padrinho de casamento Ramiro Calheiros. Aliás, o companheiro de redação assumiu essa condição em razão de uma situação puramente emergencial, uma vez que o escolhido original, um parente que residia no Rio de Janeiro, Julio Pereira da Silva, informara de última hora que não poderia comparecer ao casório. Sem saber o que fazer, Olao pediu ao amigo o favor, atendido prontamente.
No Diário da Manhã, Olao produzia toda sorte de reportagens, incluindo as esportivas. Mas ele não ficaria muito tempo naquele órgão de imprensa, assim como passaria ainda mais rapidamente por outras redações em serviços temporários. Rodrigues deixou suas marcas na Gazeta Popular, Gazeta Esportiva e, brevemente, na sucursal santista da Folha da Manhã (jornal da capital – atual Folha de São Paulo). E como freelancer, foi correspondente do periódico carioca “A Noite” (que deu origem ao jornal O Globo, de Roberto Marinho) e da Associated Press, agência telegráfica norte-americana.
O casamento
No dia 9 de fevereiro de 1935, Olao Rodrigues, que entã contava com 27 anos de idade, se uniria em matrimônio com a jovem filha de imigrantes espanhóis, Maria Leonor Padrão, de 24 anos.
A chegada em A Tribuna
Depois de casado, o irriquieto Olao pretendia realizar o seu maior sonho no jornalismo: trabalhar em A Tribuna. E a oportunidade surgiu num sábado à noite, dia 26 de outubro de 1935. Antônio Barja, secretário de redação do renomado jornal, conhecedor do trabalho despojado e valoroso de Rodrigues, chamou-o para que fosse até a redação a fim de lhe oferecer uma vaga temporária, em substituição a um rapaz que apanhava telegramas e notícias por telefone oriundas da sucursal que o periódico santista mantinha na capital bandeirante. O dito funcionário estava hospitalizado e iria sofrer ligeira intervenção cirúrgica.
Trabalhar no tradicional periódico criado por Olímpio Lima em 1894, era um desejo antigo que Olao almejava. Talvez aquela não fosse um ingresso dos mais nobres, ou seja, fazendo “cozinha” (reescrever texto de outra fonte, no jargão de imprensa) e ainda na condição de substituto do repórter “telefonista”. Mas já era algo que, ao menos, o colocava na redação do jornal dirigido pelo cearence Manuel Nascimento Júnior. Sem pensar duas vezes, ele topou o desafio.
Três dias depois, em 29 de outubro, Barja convocou Olao para uma conversa reservada. O tribuneiro novato pensou ter feito algo errado, mas pelo contrário, foi bastante elogiado. O secretário de redação fez questão de avisá-lo sobre o resultado de uma reunião realizada pela direção do jornal, que decidiu contrata-lo em definitivo. Naquela noite, o novo empregado de A Tribuna nem conseguira dormir direito, tamanha a alegria que lhe invadia a alma.
Na redação de A Tribuna, Olao passou a fazer de tudo um pouco: esporte, política, polícia, sociedade. Era o que todos chamavam de “generalista”. Já acostumado com as agruras da realidade, procurava não se envolver emocionalmente com os dramas que se desenrolavam em muitas de suas matérias, por mais duros e tristes que fossem. Porém, certo dia, com dois anos de casa, ele não conseguiu escapar ileso do choque ao tomar conhecimento de uma ocorrência que chegava aos seus ouvidos num dia de folga.
A morte trágica do pai
Era um domingo, dia 28 de novembro de 1937. O pai de Olao, Seu Cassiano, estava feliz por ter sido convidado para ser padrinho de uma lancha a motor, batizada de “Ana Pinto”, comprada por um companheiro de Alfândega, Primo Peres Pinto. A fim de festejar o acontecimento, o dono do barco convidou alguns amigos para um piquenique no sítio Cachoeira, situado no canal de Bertioga. Após o lanche, os escursionistas foram até a ponta de Bertioga, em passeio, retornando logo em seguida. No regresso a Santos, um dos passageiros, José de Freitas, visivelmente alcoolizado, quis tomar o comando do leme da lancha, que estava sendo conduzida pelo experiente marítimo Martiniano de Sant’Anna. Este, logo se opôs às intensões do passageiro, alegando que o canal estava cheio de “coroas” e que corriam o risco de encalhar. Freitas, no entanto, insistiu e tentou levar à efeito seus desejos, alegando que viraria o barco se não o conseguisse. Diante de nova resposta negativa, o inconveniente passou a balançar a lancha. Incomodados com a situação, os demais passageiros correram para onde estava o desordeiro a fim de censurá-lo. Porém, tal movimento fez com que o barco perdesse o ponto de equilíbrio, por ficar aglomerado no mesmo bordo. Pesado em um dos lados, ele adernou violentamente e, de fato, virou, ficando com os fundos para o ar.
Foram momentos de pavor. Os que sabiam nadar procuravam alcançar a terra, mas logo esbarravam no lodo flacido, no qual se enterravam. Outros tentavam se agarrar ao fundo da embarcação. Da margem do canal, pessoas que se encontravam nas proximidades, em outras embarcações, correram em socorro dos náufragos, recolhendo-os à medida do possível. Ao final, três haviam desaparecido: Arnaud de Freitas, 21 anos; Antonio Joaquim da Costa, 35 anos, e o pai de Olao, seu Cassiano Osório Rodrigues, de 52 anos de idade.
A notícia da morte do pai caiu como uma bomba na cabeça do jovem reporter de A Tribuna. Abalado, ele pediu ao superior que o afastasse por tempo indeterminado das pautas policiais. E assim foi, por muitos anos.
Olao Carnavalesco
O que o jornalista Olao Rodrigues gostava mesmo era cobrir as festas Carnaval, assim como o fazia desde os primeiros tempos de atuação na imprensa. No Jornal da Noite era ele o responsável pelas matérias sobre as atividades da Folia de Momo. Sua dedicação ao Carnaval lhe inseriu num grupo seleto de cronistas, que incluia nomes como os de Oswaldo du Pain, do Diário de São Paulo; Mário Castro, do jornal O Estado de São Paulo; Oacy Rodrigues, seu irmão, do Diário da Manhã; Maurício Rothmann, de “O Diário”; José Cardoso Pinto, da “Gazeta Popular” e Achilles Massa Neto, do “Correio Paulistano”. Porém, e sem sombra de dúvida, seus maiores companheiros de folia eram os santistas Bandeira Júnior e José Muniz, considerados os maiores memorialistas do Carnaval de Santos.
Nos períodos da festa de Momo, Olao redigia suas colunas em A Tribuna assinando-as com o pseudônimo “Cabo Diavolino”, o título que ganhara do mundo do Carnaval. O entusiasmo pela popular festividade o levou também a tomar parte de momentos importantes, como a criação do Centro dos Cronistas Carnavalescos do Estado de São Paulo, no qual era tesoureiro.
Em 1967, a ele foi outorgado outro título honorífico, o de “Marechal do Samba”, conferido pelo Grêmio Recreativo e Escola Império do Samba. Dez anos depois, Olao voltaria a ser homenageado, desta vez emprestando seu nome a uma premiação outorgada às personalidades que, de uma maneira ou outra, demostravam alguma afetividade às Escolas de Samba.
Olao sindicalista
No início dos anos 1940, a classe jornalística de Santos pleiteava a instalação, na região, de uma delegacia do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo (Olao fora um dos primeiros profissionais de Santos a matricular-se na entidade, com o registro de número 1423). Desde 1937, quando foi criada a entidade, os trabalhadores da imprensa santista eram atendidos em suas reivindicações por um representante da sede paulistana, Francisco Azevedo. A partir daí é que a classe se mobilizou a fim de reivindicar o direito que, por sinal, era bem visto pelo presidente da entidade na época, Joaquim Camargo.
Destarte, Olao e alguns de seus companheiros de A Tribuna e de outros órgãos de imprensa locais, criaram um movimento neste sentido, instalando, finalmente, o escritório regional do sindicato, em 27 de junho de 1942, tendo sido o próprio Olao eleito como o primeiro presidente da delegacia, para o biênio 42/43. O curioso desta primeira eleição de Olao, era que o seu nome constava em cinco das sete chapas inscritas no pleito. Ele voltaria ocupar o posto máximo em outras três gestões (49/51, 55/57 e 57/59).
Foi Olao quem inaugurou também a primeira sede da Delegacia do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, que ficava na Praça Rui Barbosa, 14, 2º andar (edifício Rio Branco, hoje inexistente). Isso aconteceu em 27 de junho de 1943.
Olao também idealizou e organizou, anos mais tarde, a criação da Associação Profissional dos Jornalistas de Santos, São Vicente, Guarujá e Cubatão, instalada em 7 de outubro de 1961, em assembleia realizada no Centro Português. Ele ocupou o posto de vice-presidente, sendo o titular o jornalista e companheiro Carlos Henrique Klein. A missão dessa nova entidade era instalar a Casa do Jornalista. Para isso, o grupo obteve terreno na avenida Ana Costa, 342. Olao chegou a assumir a presidência da entidade em 1968, ano em que ela acabou dissolvida e seu patrimônio revertido para a Delegacia de Santos do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo.
Servidor público municipal
Olao Rodrigues foi servidor público da Prefeitura de Santos, admitido em 2 de junho de 1955, e direcionado para trabalhar no Conselho Municipal de Turismo (órgão que cumpria a tarefa da atual Secretaria Municipal de Turismo). Suas atividades como servidor praticamente foram neste setor. Ele chegou a alcançar o mais alto escalão no CMT. Seu registro funcional era o de número 4.994 (cargo de oficial de administração A). Ele se aposentou pela Prefeitura em fevereiro de 1972.
Diabetes, um drama pessoal
Apesar de ter redigido muitos textos sobre esportes e Carnaval, Olao Rodrigues não era muito afeito à vida saudável. Sedentário convicto, era considerado também um bom garfo. O estilo de vida não muito regrado, aliado a questões genéticas, o levou a desenvolver uma forma agressiva de diabetes mellitus, quando contava com mais de 50 anos de idade.
Em 1971, Olao teve complicada a sua condição de saúde, desenvolvendo uma úlcera (ferida) no pé direito, em função de circulação sanguínea deficiente e os níveis de glicemia mal controlados. O quadro, considerado grave, o levou a sentir formigamento e queimação constantes na perna. Não conseguindo realizar um tratamento eficiente, Olao acabou tendo a perna amputada na altura do joelho.
Olao optou por fazer uso de uma prótese, o que lhe deu certa autonomia e qualidade de vida. O assunto, entretanto, lhe era bastante constrangedor, sendo que ele só mencionava alguma coisa a respeito de seus problemas tão somente a amigos muito próximos e familiares. Ainda assim, só tocava na “ferida” quando ousavam lhe perguntar. A discrição com que tratou do seu drama foi tanta, que muita gente nem sabia da situação.
Olao escritor
O triste episódio se configurou um baque na vida do ativo jornalista. A partir dali, com limitações de mobilidade, Rodrigues acabaria por desencadear um novo rumo produtivo, desta vez na seara literária.
Foi no Conselho Municipal de Turismo que Olao Rodrigues deu o pontapé inicial na carreira de escritor, com o lançamento, em 1966, da Cartilha do Turista, obra que reunia fotos coloridas de pontos de lazer da cidade de Santos, assim como histórias pitorescas locais. Além dessa publicação, editou nos anos de 1966 e 1967, dois livros com dados estatísticos e curiosos da cidade, o qual intitulou “Santos em Números”. Esses primeiros trabalhos o inspiraram a criar o projeto que marcou sua trajetória como memorialista e pesquisador: o Almanaque de Santos, cuja primeira edição surgiu em 1969.
O Almanaque de Santos foi, sem dúvida, uma aposta comercial de Olao que, àquela altura, já contava com 62 anos de idade e desejava poder usufruir de uma vida mais tranquila financeiramente. Para viabilizar o projeto, Rodrigues teve como sócios seus melhores e mais próximos companheiros de jornalismo: Adriano Neiva da Motta, o De Vaney, que fazia as vezes de secretário de redação e Pedro Bandeira Júnior, que ficou com o encargo de diretor, enquanto ele mesmo se colocara como redator responsável pelo almanaque. O time era completado pelo fotógrafo José Dias Herrera, o Zezinho; o ilustrador Lauro Ribeiro da Silva, o Ribs; os assessores de publicidade Mário Morais e Alfredo Latorraca e o chefe de produção Deusdedith Gomes da Silva.
No Instituto Histórico e Geográfico de Santos e na Academia Santista de Letras
Os notórios trabalhos de Olao Rodrigues em prol da história da cidade santista, assim como pela literatura regional o alçaram ao status de personalidade cultural de ponta, e desejado pelas tradicionais instituições, como o Instituto Histórico e Geográfico de Santos e a Academia Santista de Letras.
Em 9 de abril de 1969, Olao Rodrigues assinava proposta para ingressar como membro titular do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, assumindo a cadeira nº 126 da instituição, cujo patrono era Arthur Neiva.
Já o ingresso na Academia Santista de Letras ocorreu na Assembleia marcada para o dia 20 de dezembro de 1975, ocasião em que fora votada a sua candidatura, assim como a do advogado Gilberto Freitas Guimarães. Estiveram presentes à Assembleia, entre outros, os acadêmicos monsenhor Benedito Vicente dos Santos, presidente da instituição; Archimedes Bava, Costa e Silva Sobrinho, Aristeu Bulhões, Jaime Franco, João Freitas Guimarães, Clóvis de Carvalho, Milton Teixeira e Pedro Uzzo. Olao assumiu a cadeira de nº 8, cujo patrono é Galeão Coutinho. Porém, acabou não tomando posse oficial, fato consumado apenas em 10 de março de 1978, em solenidade ocorrida no auditório do jornal A Tribuna, ocasião em que foi saudado pelo acadêmico Camilo Abrantes.
Neste período, a partir de 1971, Olao produziu como nunca. Além dos Almanaques de Santos, editados até 1972, vieram os Almanaques da Baixada Santista, editados entre 1973 e 1976. Em 1971, também, o jornalista reuniu várias de suas histórias pessoais na imprensa no livro intitulado “Eu, Repórter”, que foi um sucesso na cidade.
Em 1973, Olao supreenderia com o vigoroso trabalho “Veja Santos”, um livro com mais de 650 páginas contendo a história de todos os 910 logradouros conhecidos da cidade até aquele ano. A obra rendeu rasgos de elogios da cronista Lydia Federici e do escritor Roldão Mendes Rosa, que escreveu: “Só mesmo o espírito escarafunchador do veterano jornalista seria capaz de cumprir esta tarefa de forma primorosa. Olao Rodrigues contornou dificuldades neste trabalho de fôlego, árduo e cheio de obscuras armadilhas. É o melhor trabalho jornalístico já empreendido”.
Incansável, ainda lançou naquele mesmo ano o “Dicionário de Curiosidades de Santos”, contando eventos e fatos do passado santista.
Em 1976, foi a vez da obra “Nos tempos de nossos Avós”, reunindo os artigos que ele escrevia desde 1972, em A Tribuna aos domingos, numa coluna que tinha o mesmo nome e era sucesso entre os leitores do periódico santista.
Três anos depois, em 1979, Olao produziria dois grandes trabalhos: “A História da Imprensa em Santos”, um compêndio sobre os principais fatos narrados nas páginas de jornais e revistas locais. Esta foi uma tarefa de envergardura, em razão da dificuldade de acesso às fontes históricas. O jornalista fez uso dos acervos da Prefeitura, Instituto Histórico e Geográfico e da biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados do Comércio.
Para dar uma relaxada após o hérculeo trabalho, Olao lançaria um livro de contos humorísticos intitulado “Mulheres de Outros Homens”, utilizando como tema central da obra a conduta de relacionamento entre os representantes de ambos os sexos. Esta obra foi escrita durante um período de férias, na cidade de Águas da Prata, um refúgio apreciado pelo jornalista.
Em 1980, era a vez do lançamento do livro “Cartilha da História de Santos”, que reunia os principais levantamentos históricos produzidos por Olao para os seus almanaques e alguns artigos novos. Este foi o último livro lançado pelo jornalista.
O adeus de Olao
Acometido de coma diabético, Olao do Carmo Rodrigues foi à óbito em 14 de dezembro de 1981. Foi um dia de luto para a cidade de Santos, que perdera um de seus grandes nomes. Apesar de aposentado, o veterano jornalista de 74 anos permanecia oferecendo seus préstimos e conhecimento à sociedade, escrevendo regularmente a coluna “Nos Tempos de Nossos Avós”, em A Tribuna. Faltava-lhe apenas um ano para completar o cinquentenário no jornalismo. Foi sepultado às 17 horas no Cemitério do Saboó.
O último legado
Além de “Mulheres de Outros Homens”, Olao havia produzido um outro livro durante seu descanso em Águas da Prata. Era “Santos de Pijamas”, uma obra com proposta humorística que trazia várias aspectos satíricos sobre a cidade santista e seus personagens. A ideia era lança-lo em 1982, ocasião em que completaria 50 anos dedicados ao jornalismo. Como homenagem, seus familiares e alguns colegas de A Tribuna, bancaram a edição, que acabou sendo lançada em 1983 e foi um tremendo sucesso. Todos os exemplares colocados à venda no balcão de A Tribuna esgotaram-se em três dias.
E assim foi a rica trajetória desse que é um dos maiores e mais importantes nomes da imprensa e da literatura memorialística de Santos.