Assim como a sociedade vem se transformando ao longo das décadas, o mundo do cinema também sofreu grandes mudanças, muito em função das questões tecnológicas: cor, sonorização (estéreo), imagem (alta definição, 3D), entre outras sutilezas. Com o segmento de salas de exibição, embora em escala tenha sido menor, as transformações foram grandes, mas, ao contrário da indústria cinematográfica, estas foram determinantes para a queda livre dos empreendimentos Brasil afora. Em Santos não foi diferente.
A cidade santista, que tivera privilégios, como o de ter sido uma das primeiras do país a conhecer a magia da Sétima Arte (Em Santos aconteceu as primeiras exibições de cinema, em junho de 1897, menos de dois anos depois do próprio cinema ter sido inventado, na França, pelos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière, em 13 de fevereiro de 1895), também foi palco de outras marcas neste segmento. Por exemplo, em outubro de 1929, Santos promoveu pela primeira vez a exibição de um filme “falado”, no Cine Coliseu. Esta exibição é considerada a segunda do Brasil. Mas em relação às salas, Santos chegou a ser conhecida como uma cidade de cinéfilos, uma vez que possuía a maior quantidade de espaços de exibição “per capita” do país.
No início do século XX, a cidade testemunhou o surgimento das primeiras empresas especializadas em exibição de filmes, como o Cine Parque Miramonte (1904), localizado na atual esquina das ruas Riachuelo e João Pessoa, mesmo ano da instalação de uma sala dentro do Teatro Guarany. Nos anos e décadas seguintes, o surgimento de novos espaços garantia aos santistas o lazer das grandes telas. A partir dos anos 1930, Santos testemunhou um boom de salas de cinema, muitas delas localizadas do turístico bairro do Gonzaga, que mais tarde ganhou o apelido de Cinelândia.
Foi nesta leva que surgiu o Cine Roxy, inaugurado em 15 de março de 1934 com a apresentação do filme “Cântico dos Cânticos”. É o único da velha geração que ainda brilha na cidade santista, pois soube se adaptar aos novos tempos, tornando-se múltiplo.
Sua capacidade de inovar vem desde sua origem, quando encantou o público santista por apresentar uma infraestrutura aos moldes das grandes salas dos EUA, que incluía o moderníssimo ar condicionado. Na segunda metade da década de 1950 passou por uma grande reforma e modernização, finalizada em outubro de 1957, quando reabriu para exibir o filme “Ilha dos Trópicos”, dirigido por Robert Rossen e estrelado por James Mason e Joan Fontaine.
Totalmente remodelado, o Cine Roxy passou a contar com 1500 confortáveis poltronas instaladas em declive para assegurar a total visibilidade da tela, anunciada como umas das maiores do Brasil. O tratamento acústico da sala também mereceu atenção especial com revestimento de Eucatex e som estereofônico com 4 faixas magnéticas.
Por conta de sua alta qualidade de som, era o cinema preferido da cidade até o surgimento das salas nos shoppings, que traziam um conceito multiplex inovador, com salas de menores dimensões. Seus proprietários, não querendo ficar atrás, promoveram nova remodelação, a partir de 2003, transformando o Roxy no mais moderno cinema de rua da cidade, no esquema de múltiplas salas.
O local também teve seu conceito reforçado se tornando o palco principal do Festival de Curtas Metragens de Santos (o Curta Santos), um dos mais importantes do país.
Definitivamente, o Roxy deixou de ser simplesmente uma sala de exibição e passou a ser considerado um espaço cultural dedicado ao mundo do cinema e do entretenimento. Com o advento da exibição em 3D, passou a transmitir jogos da Copa Europeia, ao vivo, em 3 dimensões; apresentações do Ballet Bolshoi, da Rússia e até mesmo a entrega do Oscar, com direito a comentaristas especializados em cinema dentro da sala.
Hoje o Roxy é mais do que um cinema do Gonzaga, mas uma marca de peso neste segmento, tendo ampliado suas operações para outros pontos do bairro (dentro do Shopping Pátio Iporanga), em São Vicente e em Cubatão, sendo neste cidade industrial, a pioneira do segmento.