Os primeiros habitantes de Santos se abasteciam de água potável diretamente das nascentes dos rios que cortavam a antiga vila, ou de poços artesianos cavados nas proximidades das margens destes mesmos rios. Era óbvio, contudo, a qualidade da água pega diretamente das bicas, como, por exemplo, a do Itororó, que era comumente chamada de fonte. Com o crescimento da vila e sua transformação em cidade, a partir de 1839, os santistas viram prejudicada sua coleta de água em poços, uma vez que a urbe crescia e poluía cada vez mais os rios locais, como o São Jerônimo, o Nossa Senhora do Desterro e o Itororó. Assim, água boa mesmo, só das bicas.
Diante da dificuldade para abastecer as casas com água para lavar roupa, fazer comida e até tomar banho (de banheira), muitos santistas passaram a depender dos “aguadeiros”, homens humildes que pegavam água nas fontes e levavam até o domicílio de quem quisesse contratá-los. Os mais ricos tinham seus próprios aguadeiros (geralmente negros escravos) e não era difícil vê-los caminhando pelas ruas da cidade carregando na cabeça recipientes diversos, como barris de madeira. Quem não podia pagar pelo serviço, era obrigado a caminhar muito para obter água nas bicas ou nos poços abertos ao público. Muitas vezes era necessário enfrentar grandes filas, além do peso dos recipientes nas duras viagens de volta para casa. Por muitas vezes havia até disputa pelo acesso à água.
Para minimizar a situação, a partir do início do século XIX, os santistas começaram a construir chafarizes em locais estratégicos. Tais estruturas recebiam água canalizada vinda dos rios locais (porém não de suas nascentes), o que não resultou em grandes benefícios e manteve viva a figura do “aguadeiro”.
Entre os primeiros chafarizes da ainda Vila de Santos estavam os do Porto do Bispo, localizado nas proximidades da Igreja e Convento de Santo Antonio do Valongo e o do Forte da Vila (Nossa Senhora do Monte Serrat), onde hoje está o atracadouro das barcas que rumam para Vicente de Carvalho, atrás da Alfândega.
O de maior destaque entre os pioneiros foi o Chafariz da Coroação, inaugurado com pompa e circunstância no dia 18 de setembro de 1846, diante da presença de ninguém menos do que o Imperador D.Pedro II. Há uma história curiosa acerca da inauguração desta fonte. O soberano teve a honra de ser o primeiro a abrir a torneira do chafariz, Mas, ao invés de água, foi vinho tinto que jorrou até o copo do Imperador, surpreendendo a todos. Refeitos do susto, os santistas confessaram que o milagre era, na verdade, uma brincadeira feita em homenagem ao monarca por um cidadão português, morador da cidade. Ele havia ligado os canos do Chafariz da Coroação a um barril de vinho do Porto. No dia seguinte, o chafariz passou a jorrar a pura água do Itororó.