As imediações da Praça Mauá e Rua XV de Novembro, no passado, abrigaram diversas instituições bancárias internacionais. Uma delas foi o Bank of London and South America (Bolsa), conhecido entre nós como o Banco de Londres e América do Sul. Seu prédio, ainda existente, data do final da década de 1920, justamente quando a instituição britânica inicia suas operações no Brasil.
O Memória Santista obteve alguns documentos cartográficos e iconográficos interessantes sobre este imóvel, que possui endereço em duas importantes vias do Centro: Rua Cidade de Toledo (fundos) e Rua XV de Novembro (frente). O interessante é notar que hoje o imóvel é ocupado por outra instituição bancária, o Bradesco, mas este inverteu as posições de entrada e saída.
Vamos contar um pouquinho da história do Banco de Londres e da América do Sul, que operou no Brasil entre os anos de 1923 e 1971.
Origens
O Bolsa foi fundado na Inglaterra em 27 de setembro de 1862, como “London, Buenos Ayres and River Plate Bank” (Banco de Londres, Buenos Ayres e Rio da Prata). A proposta inicial dos ingleses era operar apenas na capital da Argentina. Porém, com o tempo, ganhando a confiança do mercado, seus proprietários abriram outras agências nas cidades do entorno de Buenos Aires. Como resultado da expansão, em 1865 a instituição mudou seu nome para “London and River Plate Bank” (Banco de Londres e do Rio da Prata).
A empresa expandiu-se ao longo dos anos e passou a operar também no Uruguai, Brasil e Chile. Em 1918, a instituição foi adquirida pelo Lloyds Bank Limited.
Em 1923, os novos donos promoveram a fusão do Banco de Londres e do Rio da Prata com o Banco de Londres e do Brasil (London and Brazilian Bank), com o objetivo de impedir que as duas instituições concorressem diretamente entre si. Com isso, nascia o Banco de Londres e América do Sul. A diretoria do Lloyds sempre manteve um grande interesse na nova instituição ao longo de sua história subsequente.
Em 1936, o Banco de Londres e América do Sul assumiu algumas operações de seu principal rival, o Anglo-South American Bank, que havia entrado em liquidação. As aquisições incluíram o Banco de A. Edwards, um dos maiores bancos do Chile.
Em 1958, o Bolsa formou uma joint venture com o Bank of Montreal, conhecido como Bank of London and Montreal (Bolam), com sede em Nassau, Bahamas.
O banco inglês contribuiu para a joint venture utilizando-se de suas filiais na América Central e do Norte da América do Sul. Em 1970, o Bolsa comprou seus parceiros de joint venture e recuperou suas filiais na América Central, Colômbia, Equador e Peru, mas não suas filiais na Venezuela, que a Bolam havia fechado em 1965.
Em 1971, o Lloyds Bank comprou o controle acionário do Banco de Londres e América do Sul e o fundiu com o Lloyds Bank Europe para formar o Lloyds e o Bolsa International Bank. Neste ano, a instituição deixou de operar no Brasil.
Em Santos
No final dos anos 1920, no auge das operações do Bank of London and South America, a instituição aportava em Santos, tida como uma praça de altos ganhos, em função da grande movimentação comercial proporcionada pelo porto, principalmente pela exportação de café (o maior commoditie nacional).
Em abril daquele ano, a empresa Christiani & Nielsen, contratada pelo Bolsa, requereu junto à Prefeitura a licença para construir a edificação, registrada no endereço da Rua XV de Novembro, 130. Um velho casario colonial seria demolido para dar lugar ao novo espaço. Os fundos da edificação ficariam na Travessa Mauá (atual Cidade de Toledo).
A edificação leva a assinatura dos renomados e premiados arquitetos Robert Russel Prentice (escocês) e Anton Floderer (austríaco), autores do Museu Histórico e Diplomático do Itamaraty (Rio de Janeiro), construído na mesma época, entre 1928 e 1930, para guardar os arquivos, biblioteca e mapas doados ao governo pelo Barão do Rio Branco.
Prentice também foi responsável por inúmeros projetos arquitetônicos em estilo art decó na capital carioca, como o cine Metro-Tijuca, o edifício Sulacap na rua da Alfândega, os edifícios Castelo, Raldia e Nilomex na av. Nilo Peçanha, o edifício Standard na av. Pres. Wilson, o conjunto “A praia do Flamengo” e o edifício Itaoca em Copacabana.
O projeto santista, realizado para o Banco de Londres e da América do Sul, possui estilo eclético, com ligeiras influências do “art noveau” e “art déco”, que iniciavam um grau de interferência na arquitetura do final da década de 1920.
O arquiteto que tomava conta do dia a dia da obra foi João Thomaz Tangary, que era da região e tem se nome eternizado em uma rua do Guarujá.
O edifício possui dois pavimentos e uma sobreloja, além de um piso subsolo, onde ficavam os arquivos e o cofre da instituição. O térreo era dedicado ao atendimento e o primeiro piso aos escritórios do banco. A sobreloja tinha apenas um espaço para zeladoria da edificação.
O interessante na constituição arquitetônica é o uso de claraboias para promover a iluminação do pavimento térreo, com o corte de dois trechos do piso superior, que pode ser visto nas plantas.