Santos, 27 de novembro de 1884. Eram três horas da tarde quando Suas Altezas Imperiais, a Princesa Isabel Cristina e seu marido, Gastão de Orléans, o Conde D’Eu, desembarcavam de uma composição especial da São Paulo Railway na Estação do Valongo, onde um grande público já os aguardava. O local estava totalmente enfeitado com flores e panos coloridos, numa recepção esplêndida e plena de alegria.
Além da grande massa popular, aguardavam a comitiva imperial e os demais acompanhantes diversas autoridades e membros da Câmara Municipal. Isabel e Gastão haviam estado por 21 dias na capital paulista, visitando diversos locais da cidade bandeirante. Além do casal herdeiro do trono imperial, vinham na visita a Santos os príncipes Pedro de Alcântara (9 anos), Luís (6 anos) e Antônio (3 anos); o presidente da Província de São Paulo, José Luís de Almeida Couto; o marechal de campo, José Miranda da Silva Reis; o Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira; a baronesa de Suruhy, Carlota Guilhermina de Lima e Silva e suas filhas; o dr. Benjamin Franklin de Ramiz Galvão e família; o professor Fritz Stoll, tutor dos jovens príncipes; entre outras pessoas.
Uma grande quantidade de gente se aglomerou na plataforma da estação, misturando-se pessoas do povo e autoridades, como o juiz de direto Dr. Ledo Vega.
Após desvencilharem da confusão, Suas Altezas foram conduzidas para a residência do sr. Antônio Nicolau de Sá, onde ficaram hospedados a pedido do Visconde do Embaré, principal cicerone da comitiva imperial.
A cidade de Santos estava em festa. Ruas e navios foram decorados com as cores da bandeira imperial. Após o almoço, Isabel e Gastão de Orléans empreenderam um passeio de bonde até a Barra (atual zona da orla de Santos) para testemunharem o lindo panorama que se descortinava a partir daquela região, onde se podia observar a exuberante Baía de Santos e a velha Fortaleza da Barra Grande, dona de tantas histórias ancestrais.
Na volta à cidade, a princesa e seu marido foram à Matriz, onde fizeram oração. Depois visitaram a Casa de Câmara Municipal, onde foram recebidos com entusiasmo pelos vereadores locais. A visita oficial seguiu para a Beneficência Portuguesa e a Santa Casa de Misericórdia, hospital mais antigo do país, fundado no longínquo ano de 1543 pelo capitão-mor Braz Cubas, filho de Portugal. Quando estiveram na Matriz, Suas Altezas puderam ver a lápide do fundador de Santos, onde se lia: Sepultura de Braz Cubas, cavaleiro fidalgo da casa de El-Rei. Fundou e fez esta vila, sendo capitão, e casa de misericórdia, ano de 1543; descobriu ouro e metais no ano de 1560; fez fortaleza por mandado de El-Rei D. João III. Faleceu no ano de 1592.
Isabel se interessou pela história de Braz Cubas e quis saber mais sobre o fidalgo fundador da vila portuária e outras realizações. Para saciar a sede de curiosidade da augusta princesa sobre a trajetória da Santa Casa, o provedor da Irmandade pegou o relatório datado de 22 de junho de 1837, escrito por Claudio Luiz da Costa, que dizia: “Os marinheiros que chegavam enfermos ou adoeciam depois de cá estarem, padeciam de muitas necessidades por falta de casa destinada para o curativo dos pobres. Desejoso de socorrer estes miseráveis entrou Braz Cubas ao projeto de fundar um hospital e irmandade da Misericórdia que o administrasse, comunicou seu intento aos moradores principais do porto e aprovando todos eles uma obra tão pia, erigiram na povoação, em 1543, a primeira confraria da Misericórdia que teve o Brasil, a qual confirmou D. João III em Almeirim, aos 2 de abril de 1551, concedendo-lhes todos os privilégios dados por seu pai às Misericórdias do Reino. O mesmo Braz Cubas, com esmolas e adjutórios dos confrades edificou uma igreja com o título de Nossa Senhora da Misericórdia e junto a ela um hospital com apelido Santos, à imitação de outro que em Lisboa tinha o mesmo nome. Este título que somente era próprio de hospital depressa se comunicou à povoação e dai em diante chamaram-lhe todos de Porto de Santos.
Depois da Santa Casa, Isabel e Gastão Orléans e demais membros da comitiva foram rumo ao Valongo, onde subiram a bordo de um paquete com destino à cidade de Paranaguá. Eles partiram da terra santense às 18 horas.
Dessa passagem relâmpago por Santos, Isabel seria lembrada pela Câmara Municipal que, em 1888, em homenagem à princesa Regente, batizaria a Sala de Sessões como “Sala Princesa Isabel”, ainda na Casa de Câmara e Cadeia (Praça dos Andradas). Com a transferência da Câmara para os casarões do Valongo, no Largo Marques de Monte Alegre, em 1896, a sala de sessões manteve o nome, bem como quando mudou para o Palácio José Bonifácio, o Paço Municipal, em 1939. Esta sala existe até hoje e em breve será aberta para visitação, após passar por restauro.