Quem não conhece, em Santos, a Praça Patriarca José Bonifácio, aquela mesma que tem em seu entorno espaços importantes da cidade como o Fórum Municipal, a Catedral, o Coliseu, o prédio da Sociedade Humanitária e a sede da subseção de Santos Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)? Certamente, muita gente! O que, talvez, a maioria absoluta desconheça é que a referência nominal da praça ao Patriarca da Independência tenha tido como ponto de partida apenas o ano de 1961, mesmo sendo o lugar conhecido como Praça José Bonifácio desde 1887.
As provas dessa referência antiga estão expostas em centenas de cartões postais e fotos publicadas em jornais e revistas a partir do final do século XIX, que registram, sem sombra de dúvida, o nome de José Bonifácio de Andrada e Silva como o homenageado no logradouro. Como explicar, então?
Voltemos no tempo. O quadrilátero correspondente à atual área da praça foi conhecido inicialmente como “Quadra Mauá”, formatado como parte do plano de expansão da cidade (que avançava para os lados do Paquetá), iniciado na década de 1860. Loteada, a quadra tinha basicamente dois proprietários: o major Manoel Luis Ferreira e o desembargador Alves Gavião Peixoto. Em 1883, a Municipalidade decidiu desapropriar os terrenos para a criação de um espaço público com jardim a área de lazer. Após ter sido inteiramente aterrado, o lugar finalmente foi batizado, em 1º de setembro de 1887, como Largo José Bonifácio, mas não o José Bonifácio Patriarca, mas o sobrinho dele, conhecido como “O Moço”. A iniciativa da homenagem partiu do vereador Américo Martins dos Santos.
José Bonifácio, o Moço, era filho de Martim Francisco e de Gabriela Frederica Ribeira de Andrada (respectivamente irmão e filha do Patriarca). Isso o tornava sobrinho e ao mesmo tempo neto de José Bonifácio de Andrada e Silva. Nascido em Bordeaux (França), em 1827, por conta do exílio de seu pai, “o Moço” ocupou papéis de alta relevância na política brasileira. Foi deputado e senador do Império do Brasil de 1879 a 1886, além de ministro da Marinha em 1862 e do Império em 1864. Participou do movimento abolicionista defendendo a libertação dos escravos de forma imediata e sem indenização. Morreu em 26 de outubro de 1886.
Assim, no ano seguinte, os santistas resolveram homenageá-lo. Apesar de não ter nascido na cidade, suas raízes estavam aqui fincadas. Por muitas décadas, o Largo, que logo virou Praça, foi um dos espaços públicos mais belos e frequentados da cidade. Com o tempo, muitos passaram a confundir os Josés da Praça. A maioria acreditava que o lugar tinha o nome do ártificie da Independência. Desta forma, diante de tantas dúvidas e confusões, em 13 de dezembro de 1961, por meio da Lei nº 2.481, o nome da Praça foi definitivamente alterado para Praça Patriarca José Bonifácio e ratificou a “escolha” popular. Para compensar “o Moço”, outra praça foi criada em sua homenagem, em 1959, na confluência das avenidas Nossa Senhora de Fátima, Alfredo das Neves, Bandeirantes e Via Anchieta (na entrada da cidade).