Poeta morto deixa homenagem a Saturnino de Brito

Palácio Saturnino de Brito, em 1937.
Palácio Saturnino de Brito, em 1937.

Tudo estava preparado naquele início de 1937. A cidade aguardava com expectativa a inauguração do majestoso palácio da Repartição de Saneamento de Santos (RSS), erguido na avenida São Francisco, 128, sobre a antiga estrutura do prédio que abrigara, décadas antes, o escritório de um dos grandes nomes da história santista, o engenheiro sanitarista Saturnino de Brito, responsável pelo maior plano de saneamento já visto até então no país. A edificação, totalmente repaginada, trazia uma história curiosa de transformações e crescimento. Surgira na paisagem urbana em 1902, como um sobrado de dois andares. Em 1919, sofreu uma pequena ampliação, até que voltou a crescer, em meados da década de 1930. No entanto, desta vez, o projeto não se limitara ao crescimento de espaço físico, mas também em pujança e beleza.

A edificação, que seria batizada como Palácio Saturnino de Brito, recebeu um verdadeiro “banho de loja”, por dentro e por fora, moldando-se à arquitetura moderna sem, contudo, fugir às linhas da arquitetura clássica, tão características na fachada anterior. No memorial de apresentação, o engenheiro Egydio José Ferreira Martins, diretor da Repartição de Saneamento na época, exaltou a importância simbólica do prédio para a história da cidade. “Este predio não só concorrerá para embelezar a paisagem urbana de Santos, como irá falar ao futuro, através do simbolismo impressionante de suas formas arquitetônicas, e testemunhando as disposições progressistas e previdentes do Governo do Estado de São Paulo”.

Os responsáveis pela obra realmente capricharam no acabamento. Prova disso era a lista dos fornecedores de mármores, vitrais e adornos. Nela, havia nomes como o do Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, de Sebastiano Sparapini (o mesmo que fez os mosaicos venezianos do Teatro Municipal de São Paulo), de Fichet Schwartz-Hautmont (parte metálica), da Casa Reingantz (Tapeçaria e cortinas); e da Casa Conrado (uma das mais famosas produtoras de vitrais do país).

Homenagem de um poeta morto – Como dissemos no início, tudo estava preparado para ser uma grande festa. A data escolhida fora o 28 de agosto. O poeta santista, José Martins Fontes, grande admirador de Saturnino de Brito, havia produzido um poema especial para ser publicado na imprensa na ocasião da inauguração do novo prédio. Infelizmente, não pode ver realizado este pequeno desejo. Martins Fontes faleceria no dia 25 de junho, dois dias depos de ter completado 53 anos de idade. Ainda assim, seus admiradores, conhecedores da ideia do poeta, fizeram questão de levar a pequena peça literária para o público que participaria da festa de inauguração. Inicialmente, a proposta era imprimi-la em um cartão de prata e afixá-la na herma do engenheiro sanitarista, que fora instalada no salão principal. Porém, desautorizados pelos diretores da RSS, os seguidores de Fontes resolveram imprimir vários cartões em fino papel, e os distribuíram entre o público presente à grande festa. Assim, dois grandes homens foram celebrados num dia memorável.

O Poema de Martins Fontes

À SATURNINO DE BRITO

Deve-te a minha terra esta homenagem
Falo-te pelos meus concidadãos
Recebe o aplauso unisono, a mensagem
Que eles te enviam pelas minhas mãos

Por onde andaste, em meio da ramagem
Através de florestas e desvios
Realizaste um prodígio de coragem
Deste um prêmio de amor aos teus irmãos

Grande Engenheiro, egrégio Saturnino
De Brito, alto caráter, o bronquel
Que embracaste era bronzeo e diamantino

Teu tesouro espalhavas à granel
Amaste a Augusto Comte, e ao seu ensino
Rigidamente, foste sempre fiel.

Martins Fontes, 1937

Aspecto da Rua São Francisco na década de 1920. Prédio da Repartição de Saneamento de Santos em destaque.
Aspecto da Rua São Francisco na década de 1920. Prédio da Repartição de Saneamento de Santos em destaque.
Prédio de 1919.
Prédio de 1919.
Matéria da inauguração em 28 de agosto de 1937.
Matéria da inauguração em 28 de agosto de 1937.
Vitral da Casa Conrado.
Vitral da Casa Conrado.

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