Vila Belmiro, fim de tarde do dia 15 de janeiro de 1956. A torcida do Santos Futebol Clube, o alvinegro praiano, estava nitidamente ansiosa, ao mesmo tempo que transbordante de alegria. A equipe dos “peixeiros” lutava com garra contra o aplicado time de Taubaté, que não se rendia facilmente aos que se mostraram mais competentes ao longo do Campeonato Paulista de 1955, torneio de pontos corridos iniciado em 3 de agosto daquele ano. O Santos era o líder, mas sem a mesma folga que tinha pouco mais de 15 dias antes, quando estava distante cinco pontos do segundo colocado. Nas duas partidas anteriores à final, saiu surpreendentemente derrotado. Primeiro, para o modesto São Bento, de São Caetano do Sul, pelo placar de 2×0, em partida disputada fora de casa. Depois, para o rival Corinthians que, em plena Vila Belmiro, impôs novo revés do time praiano, vencendo por 3×2, conseguindo uma virada espetacular, revertendo uma desvantagem de 2×0.
Os alvinegros, que agora se encontravam apenas com um ponto de vantagem sobre o vice-líder, o Corinthians, não podiam nem pensar em empatar, correndo o risco de perder um campeonato que estava ganho. Mas o Peixe entrou com o espírito da vitória e com jogadas sensacionais de Del Vecchio e defesas milagrosas de Manga, impôs um ritmo controlado que, se foi chato do ponto de vista tático, foi eficiente para a conquista.
O Santos, nos minutos finais da partida, vencia pelo placar de 2×1, gols de Álvaro e Pepe, contra o tento marcado por Berto, do Taubaté. Nas arquibancadas, os torcedores misturavam sentimentos de medo e regojizo. A explosão veio com o trilar do apito do juiz João Etzel, decretando a conquista do Santos, que abocanhava, assim, sua segunda taça de Campeão Paulista na história, vinte anos depois da primeira conquista (o Santos já tinha sido campeão em 1935).
Puderam, assim, os torcedores santistas, afinal, realizar todas as comemorações preparadas nos quinze dias que antecederam a grande data. Também no espírito dos profissionais praianos repercutiu o ambiente que reinava no gramado de “Urbano Caldeira”.
A partida não havia sido fácil. O Taubaté honrou o título santista, lutando com bravura, exigindo o máximo do antagonista. Prova disso foi o impulso que teve ao sofrer o primeiro gol, marcado por Álvaro. O time interiorano não desanimou e chegou ao empate com Berto. A partir daí, passou a encarar o Santos de igual para igual. Muita gente chegou a acreditar que o resultado, empate por 1 ponto, pudesse perdurar até o final do tempo regulamentar, tão firmes se mostraram os taubateanos. Mas, aos 20 minutos do segundo tempo, o Peixe marcou pela segunda vez, num lance que muitos julgaram ter sido precedido de falta. Entretanto, a penalidade não foi assinalada pelo juiz do encontro. Esforçou-se o Taubaté, tentando restabelecer a igualdade no marcador, mas a defesa local não permitiu nova queda do arco de Manga, vindo o encontro a terminar com a vitória do Santos.
Entre os campeões paulistas, era de se reconhecer os grandes méritos de todos os integrantes do quadro. Porém, cabia destacar o desempenho de Hélvio, Feijó, Ramiro, Urubatão, Álvaro e Del Vecchio. Esses jogadores formaram a alma do time.
Festa na cidade santista
Após o apito final, Santos entrou em clímax. Ruidosas manifestações tiveram início no próprio “Urbano Caldeira”, ao agitar de lenços brancos portados pela enorme torcida alvinegra, assinalando a despedida triunfal do certame paulista de 1955. Em delírio, grande massa popular invadiu o campo para festejar o memorável acontecimento, por duas vezes adiado com os resultados dos encontros com o São Bento e o Corinthians.
A Vila Belmiro testemunhou a formação de um autêntico Carnaval fora de época. De pé, nas arquibancadas, nas sociais e nas gerais, o povo agitava bandeiras, extravazava sua alegria, dava vivas aos componentes do alvinegro praiano. No campo, arrastados pela multidão, o mesmo acontecia com Athié Jorge Coury e Modesto Roma, os condutores da brilhante jornada de 1955.
Após o desfecho da partida, sob flama intensa de entusiasmo, todo o bairro da Vila Belmiro comemorava festivamente o feito heroico. Por mais de uma hora, sob o ruidoso espocar de foguetes, desfilaram pelo gramado do estádio uma série de grupos carnavalescos, alguns fantasiados, carregando o pavilhão alvinegro, além de dísticos, baleias e cartazes sugestivos.
De São Paulo, numerosos associados do Santos e simpatizantes ali residentes carregavam um grande cartaz em que saudavam o título conquistado. Felizes da vida, se associavam às ruidosas comemorações do povo desta terra.
Tal e tão contagiante foi a conquista do título máximo pelos praianos que as festas se estenderam a inúmeros lares, onde se comemorou, festivamente, a vitória dos “peixeiros”. Vila Belmiro viveu um dos seus maiores dias, maior do que o que resultara na vitória do Santos no Campeonato de 1935.
Corso no Gonzaga
Da praça de esportes “Urbano Caldeira”, em massa, o povo dirigiu-se para o Gonzaga, continuando ali as suas manifestações de alegria, numa demonstração surpreendente de regojizo. Fogos de artifício e rojões de grande poder explosivo foram arremessados ao ar, enquanto centenas de automóveis e caminhões, ao longo das duas pistas da praia e contornando por vezes a Praça da Independência, promoviam verdadeiro corso. A avenida Ana Costa foi tomada pelo povo que saiu às ruas, tornando a cidade num autêntico salão de Carnaval à céu aberto. Entusiasmada, a população santista logo passou a travar uma verdadeira batalha de confetes e serpentinas à passagem dos carros e dos conjuntos carnavalescos, que saíram à rua para comemorar a conquista do Campeonato.
No Clube XV
Associando-se às homenagens tributadas ao campeão paulista de 1955, o Clube XV promoveu excepcionais manifestações ao Santos F.C. , determinando desde logo, sua diretoria, a realização de um jantar festivo em homenagem ao Santos F.C.
Telegramas recebidos
Logo após a conquista do Campeonato de 1955 pelo Santos F.C., começaram a chegar em “Urbano Caldeira” centenas de telegramas de todos os pontos do país. Do Rio de Janeiro, vieram congratulações pela brilhante conquista, dos clubes Vasco da Gama, Flamengo, Fluminense, Botafogo, São Cristóvão, Bangu, América, Bom Sucesso, Olaria, Portuguesa e outras agremiações. O Jabaquara A.C. e a A.A. Portuguesa, ambos de Santos, também se associaram às grandes homenagens que vêm sendo recebidas pelo alvinegro.
Hasteada bandeira na Rua XV de Novembro
A cidade vive nos dias seguintes o jubilo intenso pela conquista do titulo de Campeão Paulista de 1955, pelo Santos F.C. Apesar do calor reinante do mês de janeiro, alguns carros circulavam na rua do Comércio e na Praça Mauá com afeiçoados alvinegros saudando o campeão, empunhando lança-perfumes e outros apetrechos carnavalescos.
Na Rua XV, pleno coração da maior praça cafeeira do mundo, às 15h30 do dia 17, foi hasteado o pavilhão do Santos F.C., no mastro de uma importante firma do comércio de café. Na sequência, corretores de café, exportadores, comissários e elementos ligados ao comércio da rubiácea, além de populares, deram início a inéditas manifestações, com a participação de representantes dos diversos clubes da cidade. Empunhando flâmulas, cartazes, organizaram-se grandes desfiles que percorreram as ruas centrais sob intensas aclamações do povo.
O time do Santos na grande final era esse:
Manga, Helvio e Feijó; Ramiro, Formiga e Urubatão; Tito, Álvaro, Del Vecchio, Negri e Pepe. técnico: Luís Alonso Pérez (Lula)
Os artilheiros do time praiano na competição foram: Del Vecchio, com 23 gols; Vasconcelos, com 13 gols; Álvaro, com 12 gols e Pepe, com 9 gols.