José Bento Renato Monteiro Lobato, um dos mais importantes nomes da literatura brasileira, nutria relação especial com a cidade de Santos, onde esteve por diversas vezes, muitas delas em busca de inspirações para seus contos, como “O Faroleiro”, publicado pela primeira vez em 1917. Durante anos, o escritor possuiu endereço certo em terras santistas, a residência de número 55 na Ponta da Praia (referência diferenciada numa época em que ainda não existiam ruas no bairro). O imóvel, pertencente ao seu cunhado, Heitor de Morais, situava-se de frente para o mar (na atual avenida Bartolomeu de Gusmão, próximo à esquina com a rua Oswaldo Cochrane – terreno hoje ocupado pelo Edifício Gaivota). E era na varanda daquela casa que o homem sensível e sonhador, típica figura do interior paulista, gostava “por demais” deleitar-se do aprazível aroma marinho e da refrescante brisa praiana. Lobato também era costumeiro frequentador das atividades oferecidas pelo inesquecível Recreio Miramar, gigantesco espaço turístico e de lazer do Boqueirão que costumava exibir em suas propagandas as suas virtudes “mesmo debaixo de chuva”.
Mas, a relação de Lobato com a terra santista vinha de longa data, iniciada na época em que estudava Direito em São Paulo, a partir de 1900. Formado, tornou-se promotor no município de Areias, SP, e casou-se em 28 de março de 1908 com Maria Pureza de Castro Natividade, a quem se referia carinhosamente de “Purezinha”. A lua de mel, indefinida entre Taubaté, Rio de Janeiro ou Santos, recaiu-se sobre a última. Em uma carta trocada com o velho amigo Godofredo Rangel, publicada no livro “A Barca de Gleyre”, Lobato narra a sua aventura e desventura nas areias da praia de Santos: “…os dias anteriores ao casamento passei-os aqui em S.Paulo, atrapalhado com as mil coisas concernentes. Depois de casado fui luademelar à beira do oceano, em Santos, Zé Menino. Mas lá, um belo dia, às 3 da tarde, quando tomávamos banho e brincávamos nas ondas como dois peixes nupciais, eis que pisamos num molusco venenosíssimo. Senti aquela moleza. Logo depois sobreveio um queimor na pele da sola, e veio uma comichão continua e por fim rebentou a infecção – purulenta e dolorosa. E isso em nossos quatro pés – os dois meus e os dois de Purezinha.”
Lobato e Purezinha encerraram a lua de mel e voltaram para a capital paulista, onde ficaram um mês de cama “com os pés em posição horizontal, incapazes de um passo, os dois a gemerem e maldizerem o mar com todos os seus moluscos”. Mesmo tendo uma recepção não muito agradável, por muitos anos Lobato e sua esposa frequentaram a cidade e aqui se deleitaram com suas belezas e boa energia.