O equipamento, inagurado por Getúlio Vargas há 75 anos, é dono uma história repleta de sorrisos e protagonismos
Santos, 2 de julho de 1945. O presidente da República, Getúlio Vargas, curioso aos detalhes, caminhava ao lado do prefeito de Santos, Antônio Gomide Ribeiro dos Santos, e do comandante da Marinha do Brasil, Armando Pina, pelos corredores do novo equipamento turístico da cidade santista: o Aquário Municipal. O chefe da nação brasileira havia participado, pouco tempo antes, da inauguração do novo hospital da Santa Casa de Misericórdia, no bairro do Jabaquara, e estava contente com o resultado das belas obras de engenharia feitas para abrigar não só o hospital mais antigo do Brasil, mas também aquele pequeno prédio situado na orla da Ponta da Praia, que além de ser o primeiro Aquário público do país, prometia se tornar o equipamento de turismo mais visitado de São Paulo.
Lá fora, uma multidão entusiasmada saudava o chefe da nação, enquanto nos corredores do prédio turístico, algumas dezenas de espécies animais marinhos se agitavam à passagem da comitiva presidencial, devidamente guiada pelo médico veterinário Joaquim Ribeiro de Moraes, o primeiro responsável pelo Aquário de Santos. Lá estavam os cavalos-marinhos, os peixes morcego, galo, roncador, as corvinas, tainhas, guaiviras, garoupas, polvos, siris, peixes espadas, moreias, camarões, entre dezenas de outras espécies do mar e também de água doce, como as piranhas, carpas, pacus e peixes dourados. Getúlio sentia-se como se estivesse no fundo do mar e estava visivelmente encantado, como uma criança.
E este era o espírito do equipamento: encantar as crianças e ter a capacidade de conduzir os adultos à sua porção juvenil, infantil. Com o passar dos anos, o Aquário de Santos confirmava os prognósticos e se tornava a atração turística mais badalada da cidade, bem como do Estado Bandeirante. Para se ter a ideia do sucesso do equipamento, no ano seguinte, em 1946, só no mês de setembro foram registradas a passagem de pouco mais de 135 mil pessoas pelo lugar. Até meados dos anos 1960, a média anual ultrapassava facilmente a casa do milhão de visitantes.
Não havia cobrança oficial de ingresso. Por alguns anos, o Aquário chegou a pedir contribuições voluntárias, no valor de Cr$ 1,00 (Um cruzeiro) – O equivalente hoje a CR$ 8,50) – para serem repassadas em doação à Santa Casa de Misericórdia e Cruz Vermelha Brasileira.
Compadre, Batuque, Tamborim, Cuica & Cia.
A alegria da criançada e da criança interna de todos os adultos era, sem sombra de dúvida, as focas, os pinguins e os leões marinhos. Normalmente eles ganhavam nomes e se tornavam estrelas na cidade. O mais antigo da turma foi o célebre leão marinho batizado como “Compadre”. Ele, que aparecera semimorto nas areias da Praia Grande, seriamente ferido pelo ataque de tubarões, acabou recolhido pelo cidadão Vicente Molinari e se recuperou totalmente pelas mãos do dr. Moraes. Logo passou a ser referido como o “rei do Aquário”. Compadre aprendeu a “plantar bananeira”, nadava de lado, deixando à mostra sua nadadeira e fazia toda sorte de piruetas, para alegria dos visitantes. Algum tempo depois chegava ao aquário o primeiro pinguim local, batizado de “Batuque”, achado na praia das Tartarugas, Guarujá . A divertida ave marinha, depois de tratada e devidamente “domesticada”, circulava livremente pelos corredores do equipamento. Também virou celebridade. Percorria todo o Aquário Municipal ostentando sua “casaca de gala”, ao ritmo de seu passo peculiar. Chegava a procurar o diretor até em seu gabinete. Pouco tempo depois, mais dois hóspedes vieram para somar à trupe: eram as focas Tamborim e Cuica, ofertadas pelo cidadão Cássio Junqueira, que as recolheu em Bertioga.
Ao longo das décadas seguintes, o Aquário de Santos abrigou diversos outros animais que se tornaram celebridade, como a foca Kri-Kri (batizada após concurso polêmico nos anos 1970) e o leão-marinho Macaé, que chegou a Santos em 1976, vindo de Macaé/RJ, onde vivia numa comunidade pesqueira, e viveu no equipamento até sua morte, em 1995, ostentando incríveis 26 anos de idade (a idade máxima de vida em cativeiro para esta espécie de animal é estimada em 21 anos, o que confirma os bons tratos oferecidos ao leão marinho santista). Depois vieram Macaezinho (1995-2011) e Abaré (2011-2019).
Estrutura única e suas mudanças
O Aquário Municipal de Santos, além de pioneiro na América do Sul, possui um sistema até hoje elogiado. A água salgada utilizada no equipamento é puxada diretamente do mar, por canalização direta com 178 metros de extensão, passando duas caixas de retenção e 8 chicanas antes de chegar ao tanque de sedimentação. Em 1945 ele tinha capacidade para 300 mil litros. Hoje, mais do que dobrou. Na inauguração, o complexo ainda abrigava uma caixa de distribuição com 30 mil litros, tanques pequenos para alimentos e setores internos com mesas de microscopia, química, hidrobiologia e autópsia, sem contar com os diversos tanques para os animais marinhos, que consumiam cerca de 207 mil litros de água. Esses números tornaram o Aquário de Santos num dos maiores existentes no mundo (Ele figurou no Guinness Book até 1995 como o maior do país).
Em 1956 houve a primeira obra de remodelação do Aquário. Depois dessa, em 1997, quando foram desmontados alguns tanques para a construção de um auditório e para a ampliação do setor técnico. A terceira e última até agora, ocorreu 2004, iniciada em 16 de agosto a um custo orçado em R$ 2,5 milhões. Neste período, A atração, o lobo-marinho Macaezinho ficou hospedado no lontrário do Orquidário Municipal. A reinauguração aconteceu em 26 de janeiro de 2006, com a presença do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Painel Mundial
Em 2008, o renomado artista plástico norte-americano Robert Wyland pintou um de seus famosos “Whaling Wall” (98º mundial e o primeiro na América do Sul) no Aquário santista. Espalhados por vários países, os painéis de Wyland buscam conscientizar sobre a importância da preservação oceânica. Santos, com o painel, se tornou a referência latino-americana na luta pela preservação da natureza, de forma efetiva, principalmente, pelo compromisso de disseminar a ideia através de propostas concretas no combate às agressões ao meio ambiente.
Com uma história tão plena de “magia”, não é à toa que o nosso Aquário está indelevelmente marcado na essência de várias gerações de santistas. Feliz 75 anos!