A idade leva em conta os anos como vila (470 anos), mas o dia de assoprar a velinha é baseado na elevação do status de vila para cidade (177 anos).
Santos completa 470 anos no próximo dia 26 de janeiro. A data, contudo, é motivo de grande controvérsia, uma vez que ela, na verdade, assinala o dia em que Santos foi alçada à categoria de cidade, o que aconteceu somente no ano de 1839 e que nos levaria a ostentar enxutos 177 anos.
O rito que tornou o povoado santista em vila, representado, por exemplo, na belíssima obra de Benedicto Calixto exposta no Salão de Pregão da Bolsa do Café (Leitura do Foral de Vila por Braz Cubas) não possui um registro pontual no que se concerne ao dia exato em que aconteceu. Até hoje, nenhum historiador obteve provas documentais que definissem o dia em que o fundador procedeu administrativamente ou cerimonialmente com a fundação oficial da Vila de Santos.
O que se sabe é que Braz Cubas, feito capitão-mor da Capitania de São Vicente em 8 de junho de 1545, resolveu não mudar-se para a vila vicentina, onde residiram todos os seus antecessores, preferindo ficar nas terras que recebeu de seu antigo senhor, Martim Afonso de Sousa, no povoado que até pouco tempo antes chamavam de Enguaguaçu. O lugar, desde a criação do pequeno hospital intitulado Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos, herdara um pedaço da sua nomenclatura (Santos), por conta da fama obtida junto aos navegantes e aventureiros de passagem pela costa sul brasileira.
Alguns pesquisadores, incluindo o barão do Rio Branco em suas “Ephemérides Brasileiras”, acreditam que Braz Cubas tenha dado o foro de Vila ao povoado santista logo depois de obter o cargo mais importante da Capitania, em 15 de junho de 1545. Mas essa informação jamais teve comprovação documental.
Considerado o primeiro pesquisador da história santista e vicentina, Frei Gaspar da Madre de Deus (1715-1800), também tentou, em vão, por anos a fio, encontrar provas desta data tão relevante para a memória de Santos. No entanto, o mais próximo que chegou foi encontrado em livros de escrituras onde a palavra “Vila de Santos” estava registrada. Mas o primeiro registro dessa natureza só ocorreu em janeiro de 1547. O frei constatou que até novembro do ano anterior, os escrivães ainda se referiam a Santos como “povoado”. Portanto, para o pioneiro pesquisador da história local, o foro de vila fora dado entre esses meses.
Esta tese também foi seguida por Francisco Martins dos Santos, grande historiador santista da primeira metade do século 20. Ele ainda acreditava que a elevação ao status de vila se dera em 1º de novembro, que é o Dia de Todos os Santos, coincidindo na data com a fundação da Santa Casa de Misericórdia, ocorrida neste mesmo dia, três anos anos (1543).
Teses contrastante à parte, o certo é que em 1996, a Prefeitura, numa clara ação de marketing, objetivando valorizar o aniversário da cidade, resolveu misturar as elevações (de vila e cidade) num caldeirão só. Santos completaria 157 anos, a partir da sua mudança de status de vila para cidade (1839). Mas, considerando o ano de 1546 como sendo o da fundação da vila, seriam 450 anos de histórias, ou seja, um apelo muito maior. Assim, como não havia dados sobre o dia exato sobre a fundação de Braz Cubas, optou-se em manter o 26 de janeiro como data de aniversário, provocando uma mistura ao mesmo tempo polêmica e divertida.
Independentemente da confusão, 470 ou 177 anos, Santos é uma cidade em que, até em confusão, é vanguardista, um exemplo de amor à terra pouco comparável neste imenso Brasil.