Há muito tempo os santistas vêm comentando e discutindo sobre a necessidade de uma ligação seca entre a Ilha de São Vicente (onde estão os municípios de Santos e São Vicente) e a Ilha de Santo Amaro (onde está o município de Guarujá), que recentemente encontrou uma solução: o túnel submerso. Quando esta inauguração ocorrer, certamente será registrada como um fato histórico marcante, tanto quanto o que ocorreu no dia 7 de fevereiro de 1827, quando foi inaugurado o Aterrado de Cubatão, a ligação seca entre a cidade de Santos e o pé da Serra do Mar.
É isso mesmo. Antes dessa data, todos que quisessem sair da Ilha de São Vicente, ou seja, ir para Cubatão, São Paulo ou qualquer outra parte tinha que, obrigatoriamente, pegar um barco. E a partir da metade do século XVIII, essa condição começava a incomodar demais a Capitania de São Paulo, que aumentava sua produção agrícola e precisava escoar com mais velocidade e segurança os produtos até o Porto de Santos. O açúcar era o principal produto paulista e tinha validade curta. Quanto mais demorada a chegada aos navios, pior ficava a situação.
A primeira medida para melhorar as condições de viagem foi promovida pelo governador Bernardo José Maria de Lorena, que mandou construir uma estrada moderna (para a época) na Serra do Mar, que ficou conhecida como “Calçada de Lorena”. Com ela, aumentara sensivelmente a fluidez de animais e tropeiros na direção de Santos. Porém, esta viagem facilitada se encerrava nas margens do Rio Cubatão, onde havia um porto de passagem para a Vila de Santos. De lá, barcos cargueiros levavam as mercadorias diretamente para os armazéns da beira do cais santista. Os rios eram utilizados como estradas, o que acabava influenciando no encarecimento dos produtos, devido ao transporte e estocagem.
Em 14 de março de 1798, a Capitania de São Paulo promoveu uma arrecadação contributiva popular, organizada pelo capitão-general Antônio Manoel de Melo Castro e Mendonça, para levantar fundos que pudessem ser utilizados nas obras de aterramento entre o POrto Geral de Cubatão e a Vila de Santos. Era cada vez mais necessário evitar o trajeto por água (rio e mar), com baldeação difícil e encarecedora dos produtos, do lombo dos animais para as canoas e outras embarcações.
No início do século XIX, com as dificuldades agravadas em função da chegada cada vez maior de tropas com cargas e uma estocagem inadequada no Porto Geral de Cubatão, voltaram a surgir grandes movimentos de pressão ao governo, por parte dos donos de engenho de cana-de-açucar e de fazendeiros diversos.
A pressão deu certo e o trabalho foi iniciado naquele mesmo ano de 1798. Mas, os primeiros trabalhadores que iniciaram a tarefa não suportaram as péssimas condições do mangue. Além do calor excessivo, próprio do clima tropical úmido, a enorme quantidade de mosquitos infligia sofrimento e doenças. Sem saída e sem pessoas interessadas para a execução do trabalho, o governo recorreu à mão de obra escrava
Depois de muitas situações drásticas, quase trinta anos depois, o primeiro presidente da Província de São Paulo, Lucas Monteiro de Barros, teve o privilégio de inaugurar a estrada que percorria uma enorme área entre Cubatão e Santos, o caminho seco entre a Ilha de São Vicente e o pé da Serra. Esta esperada inauguração ocorreu a 7 de fevereiro de 1827 e ficou marcada na história.