Caminho do Mar (Estrada Velha de Santos) teve a primeira pista de concreto da América Latina

“Se você pretende saber quem eu sou
Eu posso lhe dizer
Entre no meu carro na Estrada de Santos
E você vai me conhecer”

O trecho da música “Pelas Curvas da Estrada de Santos”, de Roberto e Erasmo Carlos, inspira a refletir o vanguardismo dos caminhos da Serra do Mar, que desde os tempos remotos sobressaíram-se historicamente no contexto da memória nacional. Trilha inicial do bandeirantismo, responsável por extrapolar as fronteiras brasileiras interior adentro, os caminhos concretizados pelo homem no curto trecho da Mata Atlântica, compreendido entre o Vale de Pilões o e Vale do Quilombo, ganharam notoriedade por todas as suas peculiaridades.

A trilha ancestral dos índios Guainás, percorrida pelo homem branco a partir de 1508, e substituída pelo Caminho do Padre Anchieta, em 1554, já demonstravam uma linha de raciocínio lógica de geografia espacial, uma vez que eram traçadas de tal forma que facilitasse a ascenção da íngrime Serra do Mar. Mas ambas foram superadas em inovação pela Calçada do Lorena, de 1788, que alcançou o status de “Maior Obra da Engenharia Portuguesa no Brasil”, em razão de seu incrível traçado em zigue-zague, com 180 curvas, medida esta que evitava qualquer obstáculo hidrográfico.

A Calçada de Lorena só foi substituída em 1841, com a abertura do traçado do caminho batizado como Estrada da Maioridade, por onde iniciou o transporte de passageiros entre São Paulo e Santos por meio de diligências. Em 1864, esta estrada, de terra, recebeu diversas melhorias, com recursos dispensados pelos barões do café paulista, sob a liderança de Nicolau Vergueiro. Assim, ela teve seu nome trocado para “Estrada do Vergueiro”.

Com o advento da ferrovia, a partir de 1867, as estradas das carruagens caíram no esquecimento e só foram lembradas a partir da década de 1910, quando ocorreu a formação de um consórcio denominado “Caminho do Mar”. Na década seguinte, diante da popularização do uso do automóvel, o então governador de São Paulo, Washington Luiz, que vencera as eleições de 1920 com o mote Governar é abrir estradas”, resolveu por sua meta em prática, tornando a estrada para Santos a primeira a receber pavimentação de concreto no Brasil (e da América Latina), inaugurando uma era de construção de novas rodovias por todo o país. O sucesso do caminho santista foi a inspiração que o “estradeiro” Washington Luiz precisava para tornar o seu governo, como presidente da República (1926-1930), um exemplo de expansão rodoviária.

Para a base do revestimento de concreto foi aproveitado o antigo macadame (pavimento formado por pedras), que foi lavado e teve suas juntas limpas. Depois desse processo, adotou-se a dosagem de uma barrica de cimento para 1 metro cúbico de pedra britada, 500 metros cúbicos de areia e 300 litros de água.

“Concretizado” o sonho, a Estrada de Santos, ou Caminho do Mar, passou a ser uma das rodovias mais importantes do país. E assim foi por alguns anos.

A estrada “Caminho do Mar” na década de 1920.
A estrada “Caminho do Mar” na década de 1920.
Em 1922, o Caminho do Mar ganhou algumas edificações, como o Pouso Paranapiacaba, onde as linhas de ônibus que faziam o trajeto entre São Paulo e Santos promoviam suas paradas.
Em 1922, o Caminho do Mar ganhou algumas edificações, como o Pouso Paranapiacaba, onde as linhas de ônibus que faziam o trajeto entre São Paulo e Santos promoviam suas paradas.
Outra imagem do Pouso Paranapiacaba.
Outra imagem do Pouso Paranapiacaba.
Imagem do Caminho do Mar bem no início das operações do consórcio, na década de 1910, ainda sem a pavimentação de concreto.
Imagem do Caminho do Mar bem no início das operações do consórcio, na década de 1910, ainda sem a pavimentação de concreto.



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