Conheça o Coronel Joaquim Montenegro, o prefeito de Santos em 1920

 

Nascido na cidade de Santos em 9 de novembro (c. 1860), Joaquim Montenegro logo se tornaria uma das figuras mais influentes da cidade. Admirador de Silva Jardim, se tornou um republicano fervoroso, ingressando na vida pública pelo Partido Republicano Municipal, em 1896, como vereador. Seu espírito combativo, de liderança, logo o alçaria à condição de peça de destaque dentro do Conselho de Intendência de Santos (nesta época ainda não existia a Prefeitura, como instituição do executivo municipal), chegando a assumir o posto de intendente (cargo equivalente ao de prefeito) de 4 de maio de 1898 a 7 de janeiro de 1899, por conta da renúncia do vereador Antônio José Malheiros Júnior, ocupante anterior do cargo. Eleito para mais uma legislatura, Montenegro se manteria na Câmara nos primeiros anos do século 20, até 1902, quando deixou momentaneamente a política para dedicar-se à sua carreira no direito e no ramo de seguros.

Uma curiosidade da vida pós Câmara foi sua participação ativa na criação do primeiro clube de futebol da cidade, embora não tivesse estado na primeira partida realizada na praia do Boqueirão, organizada por Dick Martins. Montenegro fez parte, em 1903, da gestão do Clube Atlético Internacional de Futebol, na condição de vice-presidente da agremiação.

Fervorosamente contrário à perspectiva de o Brasil voltar a ter um presidente militar (em 1909 o general Hermes da Fonseca – sobrinho do marechal Deodoro da Fonseca, primeiro presidente do país –  disputaria o cargo, tendo como principal adversário o civil Ruy Barbosa), Montenegro, um autêntico “civilista”,  apoiou o jurista baiano, chegando a participar de manifestações de repúdio à sua candidatura. No entanto, Hermes da Fonseca venceria Ruy Barbosa nas eleições de março de 1910, se tornando presidente do Brasil a partir de 15 de novembro.

Diante do viés, Montenegro voltaria a participar ativamente da política local e regressaria à Câmara em 1914, agora contando com mais de cinquenta anos de idade, experiência e confiança. Assim, não demorou muito para conquistar seus novos pares e obter importantes postos na administração pública. Em 1916, ele ajudaria a fundar o Albergue Noturno de Santos, ato que lhe projetou na sociedade.

Em 1918, Montenegro foi alçado ao cargo de vice-prefeito na gestão de Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva. Ele era constantemente acionado a participar de atos solenes e inaugurações, como a do sistema de balsas entre Santos e Guarujá, na região da Ponta da Praia. Naquele mesmo ano foi reconhecido pelos atletas da cidade como presidente honorário da Associação Santista de Esportes Atléticos, em razão de seu intenso apoio aos esportes da cidade, em especial o futebol.

O coronel Joaquim Montenegro era um homem de ações contundentes. Certa feita chegou a determinar aos inspetores municipais que exercessem uma fiscalização rígida sobre a venda de peixes por ambulantes, a fim de não permitir que comercializassem pescados em estado de deterioração. Ele exigia também a mais absoluta higiene dos tabuleiros onde os peixes eram expostos. Ao mesmo tempo era visto como um homem severo, era também considerado uma personalidade solidária. Durante o surto de gripe espanhola, que assolou a cidade santista entre outubro e dezembro de 1918, ele foi determinante na garantia do atendimento médico à população, coordenando todas as ações junto aos hospitais. Por seus atos chegou a receber uma medalha instituída pelo então presidente da República, Wenceslau Brás.

Familiares

Joaquim Montenegro era casado com Ana Bastos Montenegro e tinha uma filha, Dulce Montenegro de Albuquerque Lima, que foi casada com Pedro Oswaldo de Albuquerque Lima, comerciante. Era irmão do poeta Cyro Costa. (carece de mais informações sobre a família)

Prefeito de Santos

Ligado ao Partido Republicano Paulista, o coronel Joaquim Montenegro tinha como companheiros de legenda nomes como o de João Galeão Carvalhal, Benedicto de Moura Ribeiro e Carlos Luiz de Affonseca, grandes personalidades políticas do período. Assim, com uma base forte, se tornou prefeito de Santos, assumindo o cargo em 15 de janeiro de 1920. A cidade vivia um de seus períodos mais áureos do ponto de vista econômico e de desenvolvimento. Naquele mesmo ano, Montenegro recepcionaria em Santos o rei e a rainha da Bélgica, num dos acontecimentos mais marcantes daquela década. O prefeito foi condecorado pelo soberano daquele país europeu com a medalha da Ordem de Leopoldo II.

Foi no governo de Joaquim Montenegro que surgiram a Bolsa do Café e a Praça da Independência (Monumento dos Andradas), além do início da ocupação mais intensa da região da orla praiana e outros grandes melhoramentos. O trecho hoje ocupado pelos jardins também foi entregue ao município pelo governo federal durante sua gestão.

Ainda em 1920, assumiu a presidência da Cruz Vermelha Brasileira. Ao longo de seu mandato, que se prolongou até 29 de novembro de 1925, Montenegro inaugurou linhas de bondes, abriu ruas, urbanizou bairros, como a Vila Belmiro, e promoveu melhorias em todo o município, principalmente em Guarujá e Cubatão (ambos ainda pertenciam a Santos). Após a saída da Prefeitura, ele se aposentou pelo 8º Ofício, recebendo serventia vitalícia.

Recolhido à sua casa, na rua Tolentino Filgueiras, 159, Gonzaga, Joaquim Montenegro veio a falecer no dia 26 de março de 1930. O enterro aconteceu no dia seguinte, 27, às 17 horas, no Cemitério do Paquetá.

Na sessão que a Câmara Municipal realizou a 7 de abril de 1930, sob a presidência do dr. Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, foi comunicado oficialmente pelo dirigente dos trabalhos o trespasse do cel. Joaquim Montenegro, ocasião em que comunicado que o funeral fora realizado às expensas da Municipalidade. Discursou sobre a personalidade do extinto o dr. J. de Sousa Dantas, que requereu, ao final, constasse da Ata voto de profundo pesar.