Há 220 anos, em 27 de julho de 1798, era criado o Serviço Postal entre Santos e São Paulo.
Quando pensamos, nos dias de hoje, em troca de mensagens ou correspondências, nossa mente logo nos remete aos mecanismos via internet: emails, aplicativos como o Whatsapp ou mesmo por intermédio das redes sociais. E a cidade de Santos, como de costume, ocupa um lugar de evidência, na qualidade de uma das localidades mais conectadas do país.
O privilégio de estar “ligado” ao mundo, porém, não é de hoje. Lá no final do século 18, os santistas testemunharam o surgimento de seu primeiro serviço de correio organizado, pioneiro na província de São Paulo, e que viria a se tornar modelo para muitas outras vilas do centro-sul brasileiro.
Origem do conceito
O serviço de correios como conhecemos atualmente se originou no século 14, na Europa, justamente quando o continente experimentava um desenvolvimento comercial acentuado, em paralelo à consolidação dos estados. A escrita se disseminava com mais eficiência graças à invenção da imprensa, que revolucionou os meios de transmissão de idéias e das reflexões que tanto contribuíram para a difusão dos valores humanistas do período renascentista.
No início do século seguinte, em 1500, o Brasil era descoberto, e a “boa nova” ao rei de Portugal se dera através da famosa carta de Pero Vaz de Caminha, que acabara se tornando, simbolicamente, numa espécie de certdão de nascimento, a primeira correspondência brasileira.
No período colonial, o “serviço” de entrega de cartas se dava na base da “camaradagem”. Foi somente em 25 de janeiro de 1663, que entregar correspondência virou ofício, pelo menos para o primeiro correio-mor do Brasil, Luiz Gomes da Matta Neto, cidadão experiente no exercício da função (ele era correio-mor em Portugal). Com sua nomeação, o serviço de entrega de cartas passou a funcionar no Brasil como uma organização qualificada, responsável por receber e expedir mensagens e encomendas por todo o Reino. Porém, o serviço era muito precário. As pessoas relutavam em pagar as taxas, que eram altas, e acabavam optando em utilizar mão de obra barata ou até gratuita, como tropeiros, bandeirantes e escravos. No entanto, as correspondências nem sempre chegavam ao destino.
O correio santista
Em Santos, a situação, que era a mesma do resto do país, chegou a ficar mais complicada em 26 de abril de 1730, quando o rei D.João V determinou a suspensão dos serviços oficiais, no tempo em que Antônio da Silveira Caldeira Pimentel era o capitão-general da Capitania. Somente em 1734 é que foi restabelecido o sistema, com a nomeação, em 16 de dezembro de 1734, de João de Azevedo Loureiro para o cargo de correio-mor entre a vila santista e o resto da Capitania de S. Paulo.
Em 20 de janeiro de 1798, durante o reinado de D.Maria I, mas sob a regência do seu filho D. João, ficou instituído, em caráter permanente, o serviço postal entre a Metrópole e o Brasil e entre as suas diversas capitanias. Diante do novo decreto, o correio de São Paulo a Santos acabou sendo inaugurado em 27 de julho do mesmo ano. Este era um serviço essencial para os paulistanos que desejavam manter contato rápido com a capital da Colônia, uma vez que as correspondências, depois de descerem a Serra, rapidamente embarcavam em navios que as remetiam, via marítima, para o Rio de Janeiro. Além da rapidez, o novo serviço era mais confiável do que o criado em 1° de setembro de 1773 por Morgado de São Mateus, que utilizava estafetas (correio a cavalo). Para conduzir os trabalhos de recepção e despacho das correspondências na Vila de Santos, foi nomeado o capitão João da Costa Aguiar o primeiro administrador para o Correio santista, em 28 de julho de 1798.
Correspondência em domicílio
Em 1835, o Correio da Corte passou a fazer a entrega de correspondência em domicílio. Até então, só tinham direito a concessão, pelo Regulamento de 1829, as casas comerciais e os particulares que pagassem uma contribuição anual (de 10 a 20 mil réis). Com o novo serviço, nasciam os primeiros carteiros do jeito como conhecemos hoje. Eles tinham de usar um uniforme especial, que vinha com uma bolsa com duas divisões: uma para guardar as correspondências a distribuir e outra para a introdução de cartas pelos remetentes. Em Santos este serviço só foi iniciado em 21 de dezembro de 1844.
Em 1852, o telégrafo era introduzido no Brasil e as pessoas que faziam a entrega de telegramas passaram a ser chamadas de mensageiros, enquanto que os que entregavam correspondências normais mantiveram o rótulo de carteiros, até hoje uma designação privativa dos serviços dos Correios.
Os prédios dos Correios
O serviço postal santista funcionou inicialmente numa pequena sala do antigo prédio do Colégio dos Jesuítas, junto à Alfândega, até que na década de 1880 passou a ocupar um espaço no pavimento exterior do Convento do Carmo. Neste local, além do controle da distribuição de correspondências para os santistas, havia o serviço de expedição de malas, seja para quem fosse viajar para o interior pelos trens da São Paulo Railway, ou para a vizinha São Vicente, por trem (dos Emmerich).
Um pouco mais à frente, perto da virada do século XIX para o XX, toda a estrutura dos correios se mudou para um imponente edifício localizado no Largo do Rosário (Praça Rui Barbosa). O prédio, retratado em inúmeras imagens pela sua exuberância, foi utilizado até 1924, quando o serviço de correios foi transferido para a Praça Mauá, entre as ruas D. Pedro II e Augusto Severo, onde está até hoje (atual rua Cidade de Toledo), sendo o novo edifício inaugurado em 30 de novembro. A unidade de Santos logo se tornou referência em todo o estado de São Paulo, pelos serviços de “Colis Posteaux” (Serviço internacional de importação de remessas contendo mercadorias e outros produtos), instalado em 23 de dezembro de 1924, por decreto-lei que autorizou a sua execução diretamente à administração de Santos, assim como ao de outras localidades.
Os correios hoje
Duzentos e vinte anos depois, o serviço de correios de Santos, embora não mais exclusivo (e tampouco líder) para a troca de correspondências, mas ainda bastante ativo para outros serviços, como o de encomendas, possui 13 agências, sendo cinco da própria Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), além de seis franqueadas, uma comunitária e uma agência comercial terceirizada.