Por 25 anos ele foi o símbolo de uma época em que compras e lazer se misturavam
Santos, 18 de novembro de 1972. Os moradores do bairro do Boqueirão, bem como de toda cidade, estavam eufóricos quando ocorreu a inauguração do Supermercado Eldorado, instalado na avenida Conselheiro Nébias, 802, a duas quadras da praia. A diferença para menos nos preços de seus artigos em relação aos concorrentes trouxe a esperança de um melhor rendimento às bolsas das donas de casa santistas, assim como nas das turistas e veranistas. O Eldorado foi considerado o primeiro hipermercado da cidade de Santos, contando com um investimento de cerca de Cr$ 18 milhões (Dezoito Milhões de Cruzeiros – cerca de R$ 150 milhões atuais), entre a aquisição do terreno, a construção do prédio e todas as suas instalações. Em estoque, a empresa investiu outros Cr$ 8 milhões (Cerca de R$ 60 milhões atuais).
Praticamente a inauguração, seguida de um coquetel, foi um grande encontro das cúpulas políticas, empresariais e sociais de Santos, a começar pela presença do então interventor federal (prefeito nomeado), General Clóvis Bandeira Brasil, e sua esposa, além de titulares das secretarias do município, vereadores e outras autoridades civis e militares. Coube ao bispo de Santos, D. David Picão, proceder com a benção às instalações.
Uma grande palmeira, testemunha histórica da região (ela pertencia ao antigo Parque Indígena, propriedade do falecido comendador Júlio Conceição), deu um toque especial à entrada do hipermercado. Solitária e imponente, à noite tinha sua copa iluminada, fazendo com que o verde aparecesse e desse o contraste com o vermelho da estrutura de concreto. Vinte e cinco caixas (para o pagamento) cercavam a frente da grande loja, onde tudo era exposto no andar térreo, à exceção de uma bela lanchonete edificada em forma circular ao fundo, oferecendo 98 cadeiras para clientes.
Até um terço da frente da área de vendas havia um bazar, com a exposição de cerca de 35 mil itens à venda: artigos de caça e pesca, televisores, geladeiras, fogões, brinquedos e outros utensílios domésticos e gerais para o lar. Na área seguinte, que ia até os fundos, estavam os produtos alimentícios, como: peixaria, frango assado, laticínios, feira de cereais, frutas, legumes, padaria, loja de artigos importados (150 itens) e açougue. Na época diziam que não havia lugar na cidade com preço da carne menos do que o Eldorado. O hipermercado também tinha suas marcas próprias, como o Veja e o Eldora.
Serviço de crediário e entrega em domicílio
O Eldorado criou um serviço de vendas por crediário instalou um escritório bancário dentro da loja. O hipermercado também promovia as entregas em domicílio das compras, inclusive para os municípios vizinhos. Para isso mantinha 20 peruas a disposição dos clientes. Uma grande novidade do Eldorado era oferta de um estacionamento com capacidade para 100 veículos. Sua localização fez com que o hipermercado conseguisse, mediante o pagamento dos custos, a transferência da linha de Trólebus que passava pela rua Roberto Simonsen, para a Heitor de Moraes.
O Eldorado começou a trabalhar das 7 da manhã até às 22 horas, de segunda a sábado, e das 7 às 13 horas aos domingos e feriados, contando com 500 funcionários e capacidade para atender de uma só vez duas mil pessoas (12 mil por dia).
O dono do pedaço
O Eldorado integra um grupo econômico liderado por J. Alves Veríssimo, de origem portuguesa, com ramificações em todo o país. Mais dois hipermercados do grupo funcionavam em Campinas e na capital paulista. Como atacadista a empresa, que tinha capital fechado, dispunha de 16 filiais, uma indústria de óleo, outra de doces e o Moinho Paulista, em Santos.
A Lanchonete Circular
Além da enorme oferta de itens para compras, o Eldorado se tornou uma grande referência por conta de sua lanchonete circular, que oferecia em seu cardápio os mais variados tipos de pratos para almoços (como o irresistível filet a parmegiana com fritas, sempre muito crocantes), além de lanches e sobremesas especiais, como os tradicionais “Sundae” e “Banana Split”, apreciadíssimo pela garotada. Quem quisesse tomar um cafezinho, aquele também era um lugar ideal, pois exalava o gostoso cheiro dos grãos torrados. Muita gente relatava que ficava na lanchonete espiando as pessoas fazendo compras, fazendo daquela espécie de “mirante”, um motivo de diversão extra. Muitos casais jovens marcavam seus encontros nesta lanchonete.
O fim do Eldorado
Em 16 de dezembro de 1997, foi anunciada a compra da rede paulista Eldorado pelo grupo francês Carrefour, que na época liderava o ranking dos supermercados no Brasil. Os números não haviam sido divulgados, mas estimava-se que a aquisição das ações do Eldorado tivesse chegado à marca de R$ 200 milhões (R$ 100 milhões atualizados para 2021)