Explorando a História na Imagem: A Rua do Comércio em 1928

Neste curioso cartão postal da década de 1920, podemos fazer observações intrigantes sobre a Rua do Comércio naquela época, uma das principais artérias comerciais da cidade, abrigando lojas renomadas, como a “Casa Excelsior” e a “Casa dos Três Irmãos”. Os estabelecimentos, claramente em busca de atrair clientes, estendiam grandes faixas promocionais de um lado ao outro da rua.

 

**Trecho da Rua**

O trecho fotografado correspondia às quadras finais da Rua do Comércio, próximo à Praça Ruy Barbosa (antigo Largo do Rosário). Notavelmente, a fotografia mostra um grande número de veículos Ford estacionados dos dois lados da via, que na época tinha sentido oposto ao atual. Além disso, não havia trilhos de bonde no local, indicando que não era parte da rota dos carris, como aconteceu a partir de 2000, quando uma linha turística foi estabelecida.

 

**Agente da Ford**

No primeiro plano à esquerda da imagem, vemos uma placa da Loja de Peças e Acessórios para veículos Ford, Lincoln e Fordson (trator), localizada na Rua do Comércio, 48. De 1921 a 1925, pertenceu a Oswaldo Conceição & Cia, que era agente da Ford em Santos. Eles também representavam máquinas de escrever “Underwood”, pneus “United States”, tinta automotiva alemã “African” e correias de transmissão “Rainbow” e “Shawmut”. Além de peças para veículos Hudson, Essex, Cole, Velie, Dor e Briscoe. Em 1925, a firma Machado Del Nero & Cia assumiu o estabelecimento. Em 1926, a empresa passou a ser conhecida como Domingos Del Nero & Cia. Em 1930, a representação da Ford passou para os agentes autorizados “Hafers, Caiuby & Cia”, conforme indicado na placa.

 

**Casa Excelsior**

A Casa Excelsior, uma alfaiataria tradicional estabelecida em 1919 e situada na Rua XV de Novembro, 31 (onde hoje é um estacionamento), estendeu sua faixa promocional na interseção com a Rua do Comércio. Um incidente envolvendo essa loja ocorreu na madrugada de 27 de julho de 1936, quando a Casa Excelsior, já instalada na Praça Mauá, 24, foi atingida por um grande incêndio. Um guarda noturno testemunhou o início do fogo e relatou ter visto um homem com um isqueiro saindo apressadamente do estabelecimento. O Corpo de Bombeiros foi chamado, mas o incêndio causou danos significativos.

 

**Casa Silva Monteiro (Pianos Zeitter Winkelmann)**

À direita da imagem, podemos ver o letreiro da Casa Silva Monteiro anunciando a venda dos renomados pianos “Zeitter Winkelmann”. Essa empresa alemã teve origem em 1837 como Winkelmann Klavier, produzindo cerca de 20 pianos de mesa por ano. Em 1851, Friedrich Zeitter, um fabricante de pianos em Londres, juntou-se a eles. Sob o nome Zeitter & Winkelmann, eles se destacaram na fabricação de pianos com estrutura de metal e cordas cruzadas, recebendo uma medalha na Grande Exposição de 1851 no Crystal Palace. Na década de 1870, eles estabeleceram uma parceria com a Steinway e marcaram seus pianos como ‘System Steinway New York Zeitter & Winkelmann Braunschweig’. Após a morte de Otto Winkelmann em 1890, a relação com a Steinway terminou, e a empresa continuou sob a administração de sua esposa. Em 1899, Rudolf Winkelmann Segundo, o filho mais novo, assumiu as vendas e o marketing. A empresa expandiu-se globalmente e obteve sucesso notável em exportações para a América do Sul, Filipinas, Europa Oriental e Austrália. Na década de 1930, enfrentou dificuldades devido à Grande Depressão e fundiu-se brevemente com outras empresas de pianos alemãs. A produção foi reduzida, e a empresa passou por várias mudanças. Durante a Segunda Guerra Mundial, a fábrica foi bombardeada, e após a guerra, a família fugiu da Alemanha Oriental. A produção foi retomada sob licença em Braunschweig, até que a marca foi adquirida por outras empresas e a fabricação foi transferida para a China.

**Produtor do Postal**

Curiosamente, este cartão postal foi produzido promocionalmente por um estabelecimento que não estava localizado na paisagem capturada, a “Casa O.M.N.I.A. Estylo”, com sua principal loja na Rua Frei Gaspar, 44, e uma segunda na Rua General Câmara, 160. No verso do cartão, escrito em alemão e inglês, a loja anunciava a venda de artigos de madeira feitos com belas madeiras brasileiras, abajures transparentes, suportes, vasos, caixas, bandejas, caixas de cigarro, madeira incrustada com asas de borboleta, arcos e flechas feitos por nativos, além de cartões postais. Eles convidavam os interessados a visitar sua exposição.