Nesta postagem encerramos a jornada através de antigas fotografias de 1908, preservadas no acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Santos. Nos dois primeiros artigos, as imagens exploraram o atual Centro Histórico e os bairros vizinhos, como Paquetá e Vila Nova; enquanto no segundo, foram revelados locais um pouco mais afastados, como Macuco, Gonzaga e Vila Mathias. Nesta terceira e última etapa da viagem, as fotografias nos transportam para áreas ainda mais distantes, comumente chamadas de “arrabaldes” ou “cercanias”, em uma época em que os atuais municípios de Cubatão, Guarujá e Bertioga ainda faziam parte do território santista. Uma das imagens, no entanto, captura a vizinha São Vicente, que já era autônoma, embora a sociedade paulista da época insistisse em se referir a ela, e a grande parte do litoral, como “Santos”.
Então, aperte os cintos, pois já estamos decolando!
Pilões (Cubatão)
Na segunda metade do século 19, Santos começou a enfrentar os primeiros sinais de poluição em seus principais mananciais de água potável, resultado da ocupação desordenada das encostas dos morros e do antigo Centro da cidade. Diante desse cenário preocupante, as autoridades da época decidiram buscar soluções para garantir o abastecimento. Uma das primeiras iniciativas foi captar água de fontes mais distantes, como a cachoeira do José Menino, transportada por meio de tubulações que percorriam as atuais avenidas Marechal Floriano Peixoto – então conhecida como Rua do Encanamento – e Conselheiro Nébias. No entanto, esse manancial não era suficiente em termos de volume de água, o que levou os santistas a buscarem alternativas mais promissoras.
Foi então que o sopé da Serra do Mar se destacou como uma opção viável. Além de apresentar uma quantidade abundante de água, as nascentes do Rio Pilões e do Rio das Pedras ofereciam um recurso de qualidade notavelmente superior. Diante dessas vantagens, um grupo de empresários obteve a concessão para a construção de um novo sistema de captação e distribuição de água potável para Santos, que permanece em funcionamento até os dias de hoje.
Nas imagens do acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, estão os registros fotográficos que mostram o trecho das águas da Cachoeira do Pilões, além do depósito de água, ou reservatório, ambos localizados em áreas de uma exuberante beleza natural.
Estrada de Ferro (Cubatão)
Não muito distante de Pilões, havia outro ponto estratégico para os santistas: a estrada de ferro que conectava Santos e a região ao alto da Serra e à capital. Em 1908, este era o único, sim, o único meio de transporte viável entre Santos e São Paulo, pois as estradas de rodagem ainda não haviam sido restauradas. A única via terrestre anterior era a antiga Estrada do Vergueiro, uma rota para carruagens abandonada desde 1870. Curiosamente, foi também em 1908 que o primeiro automóvel conseguiu cruzar a Serra do Mar, partindo da capital até Santos, em uma verdadeira odisseia que durou mais de 37 horas.
A estrada de ferro, então conhecida popularmente como “A Ingleza”, era administrada pela São Paulo Railway, uma empresa de capital britânico. Construída na década de 1860, essa linha férrea era considerada uma das maiores obras de engenharia da época, principalmente por superar os desafios impostos pela complexa geografia da Serra do Mar, com seus abismos e escarpas. O trecho da Serra contava com um sistema de tráfego singular, auxiliado por uma malha de correias chamada “cremalheira”, que transformava o trem em um verdadeiro funicular, facilitando a subida e descida por declives acentuados.
Nas imagens do acervo, é possível observar a grandiosidade dessa construção. Uma das fotografias mostra o famoso Túnel 13-12, onde o sistema de cremalheira é evidente, enquanto outra imagem retrata o Patamar III da Serra, uma seção da linha conhecida por ser um trecho plano, sem declives.
São Vicente (Santos)
Embora a história de Santos tenha se iniciado como um sítio vinculado à Capitania de São Vicente, a cidade vizinha começou a perder seu status de referência principal nos mapas e relatos sobre o litoral já no século 19. Santos passou a assumir essa posição de destaque, em alguns casos de maneira exagerada, já que quase todo o litoral sul passou a ser classificado como parte de “Santos”. São Vicente foi incluída nessa generalização, como comprovado por diversos postais da época e também pela imagem presente no acervo do Instituto Histórico.
A imagem em questão retrata a belíssima praia do Gonzaguinha, nas proximidades da Biquinha de Anchieta e da atual Praça 22 de Janeiro, local onde se encontra o primeiro monumento público do litoral paulista. Trata-se do monumento em alusão ao 4º Centenário do Descobrimento do Brasil, inaugurado em abril de 1900. Na fotografia, é possível observar o Morro dos Barbosas estendendo-se até a areia da praia, compondo uma paisagem deslumbrante, emoldurada por belos casarões ao fundo e áreas adornadas por majestosas palmeiras imperiais.
Estação de Trem no Guarujá
Como mencionado no início deste artigo, o território de Santos incluía o atual município de Guarujá, que só se tornou uma cidade autônoma em 1947. Em 1908, o lugar, então uma estância balneária e um dos principais destinos turísticos do país, era formada por pequenos bangalôs de madeira e um luxuoso hotel, o La Plage Hotel e Cassino. O acesso a esse paraíso exclusivo se dava apenas por uma linha de trem que partia de Itapema. Os turistas e proprietários de residências no Guarujá tomavam barcas que saíam de Santos com destino à estação de Itapema, de onde embarcavam na “Maria Fumaça” até a atual praia das Pitangueiras. Na imagem do acervo, pode-se observar a estação final do trem, situada bem em frente ao hotel. Um detalhe curioso que se destaca na fotografia são os postes de iluminação, que ainda funcionavam a gás.
Assim, encerramos nossa viagem pela Santos de 1908, ao longo destes três artigos, com a esperança de poder embarcar em novas jornadas em futuras oportunidades. Que estas páginas tenham despertado o interesse e a curiosidade pela nossa rica história, e que possamos continuar explorando outros momentos fascinantes pelas linhas de “Era Uma Vez…Santos”.