O automóvel, apesar de já existir no Brasil desde a última década do século 19, testemunhou sua popularização a partir dos anos 1920, quando deu-se início a uma onda de exportação em larga escala no país. Com isso, as antigas e estreitas ruas de velhas cidades, como Santos, passaram a sofrer grandes transformações, a fim de proporcionar mais espaço àqueles veículos barulhentos e “fumacentos”.
Os santistas podiam se considerar privilegiados em relação ao restante do Brasil, pois, via de regra, acabavam tendo contato, antes de qualquer outra cidade (à exceção do Rio de Janeiro), com as grandes novidades sobre quatro rodas que desembarcavam pelo seu porto oriundas da Europa e Estados Unidos.
Assim, Santos registrou, por exemplo, o pioneirismo em serviços de combustível em bomba (de rua), em 1919, além de ter sido o destino final da segunda viagem automobilística entre duas cidades do Brasil (São Paulo-Santos), em 1908.
Diante destas situações, aliadas à prosperidade advinda da riqueza do café, Santos se tornou uma cidade vanguardista nos anos 1920. Com isso, parte de seus habitantes, em especial a nova elite que se formou com o comércio do “ouro verde”, elegeu o automóvel como o principal “objeto de desejo” .
Notando o surgimento de uma demanda ávida por investir dinheiro em carros, alguns empresários mais visionários decidiram montar em Santos “Garages” de venda de automóveis (o que hoje se convenciona a chamar de “Concessionária de Veículos”).
Uma das primeiras Garages de Santos surgiu no final de julho de 1926, no bairro do Macuco (localidade estrategicamente situada entre a Vila Nova, bairro da classe média alta, e a orla, onde surgiam os primeiros palacetes da elite abastada da cidade).
Fundada pelo empresário Antônio dos Santos, com capital em sociedade, a empresa, chamada “Garage Fiat”, trazia a responsabilidade de revender os veículos da famosa marca italiana, liderada pelo respeitável empreendedor Giovanni Agnelli, que dominava 80% do mercado da Itália.
A Garage Fiat foi devidamente instalada na Rua Campos Mello, 77, dispondo de um galpão abundantemente iluminado e com capacidade para alojar 100 veículos. Tinha área para pintura dos automóveis, além de escritórios e oficinas. Logo à entrada havia uma elegante e moderna bomba de gasolina da Texaco.
O ato inaugural da empresa atraiu muita gente importante da cidade, constituindo-se num grande acontecimento, amplamente coberto pela imprensa santista. Houve até uma espécie de benção dos veículos, promovido pelo padre da Catedral de Santos, na Praça José Bonifácio.
A Garage Fiat dominou o mercado de Santos por algum tempo, até o surgimento de outras boas concessionárias.