Ano de 1974. O que se podia fazer em Santos? Quais eram seus principais passeios e atrações? E os melhores lugares para comer ou divertir-se? Quais eram as novidades da cidade e os meios de hospedagem? E na vizinha São Vicente, a nossa irmã mais velha? Para estas indicações, o Memória Santista reproduz parte de uma publicação daquele ano, um Índice Turístico, editado pela União Santista de Economia, cujo diretor presidente era Nivaldo Conrado e o redator, o jornalista Gentil Castro, com fotos de Carlos Marques.
O ano de 1974 esteve repleto de muitas agitações, frustrações e algumas poucas alegrias. Os santistas procuravam seguiam em frente e buscavam fazer de sua cidade o melhor lugar para se viver, ainda que dentro de um contexto nacional conturbado.
Naquele ano, o Brasil trocava de líder, mas não de regime político. Afinal, os generais ainda permaneceram no poder, apesar da tentativa dos civis em lançar Ulysses Guimarães à presidência da República. De qualquer forma, deixava o poder um general linha dura, Emilio Garrastazu Médici, e entrava um militar mais moderado, Ernesto Geisel, o que não deixava de ser um indicativo de mudanças.
No esporte, um destaque de alegria, representado pelo segundo título na Fórmula 1 do brasileiro Emerson Fittipaldi (6 de outubro), e um de frustração, simbolizado pela campanha decepcionante da Seleção Brasileira de futebol, até então a melhor do mundo (Campeã de 1970, México), durante a Copa da Alemanha, na qual terminou em quarto lugar, colecionando três vitórias, dois empates e duas derrotas.
Os brasileiros também choravam uma das maiores tragédias provocadas por fogo em sua história, a do incêndio que destruiu completamente o Edifício Joelma, no Centro de São Paulo, ocorrido em 1º de fevereiro e que apresentou um saldo de 191 mortos e mais de 300 feridos.
Em Santos, uma mudança no poder municipal, lastreada na substituição presidencial. Deixava o cargo de prefeito nomeado, o general Clóvis Bandeira Brasil (ligado à Médici) e assumia o posto um membro da Arena, Antônio Manoel de Carvalho, o Carvalhinho (ligado à Geisel), igualmente nomeado interventor. Os santistas ainda não haviam reconquistado o direito de eleger seu representante maior, uma prerrogativa cassada pelo decreto presidencial de 12 de setembro de 1969, que configurou Santos como área de segurança nacional.
Mas a vida seguia e os santistas curtiam como podiam e recebiam seus turistas e visitantes com a alegria característica de sempre.
Na época, a cidade contava com cerca de 345 mil habitantes (segundo o Censo de 1970), número contestado pelas autoridades, em razão da chegada de muita gente à região por conta do boom imobiliário. Havia uma percepção, entretanto, que Santos tivesse atingido a marca de 440 mil pessoas, embora não confirmada oficialmente.
As atrações
As principais atrações turísticas da cidade eram o Aquário, o Museu de Pesca, o Parque Rebouças (intitulado à época como a Disneylândia Santista), o Morro de Santa Terezinha (que era aberto à visitação pública à época), a Casa do Café (situado nos armazéns internos do Porto), o Orquidário Municipal, a Lagoa da Nova Cintra, a Ilha das Palmas, o Monte Serrat e Gruta de Nossa Senhora de Lourdes (muito procurada por religiosos).
Uma das estrelas era o passeio pela Loirinha, uma lancha de grande porte que fazia um giro pela Baía de Santos e, aos sábados, um minicruzeiro até o Distrito de Bertioga (que pertencia a Santos), com saída às 9h30 e retorno às 16h30. A atração possuía serviço de bar e música ao vivo.
No Centro santista, ainda não chamado de “Histórico”, os turistas eram convidados a conhecerem as velhas igrejas, o Outeiro de Santa Catarina e o Panteão dos Andradas.
Nos catálogos turísticos ainda constavam o Engenho dos Erasmos, a Fortaleza da Barra e o Instituto Histórico e Geográfico de Santos que, à época, exibia alguns quadros de Benedicto Calixto, armas históricas, coleções de minerais, moluscos, crustáceos e elevado número de aves nacionais e estrangeiras empalhadas, reunidos numa espécie de museu.
Calendário de Eventos
A Divisão de Turismo da Prefeitura caprichava no calendário de atividades da cidade. Em 1974, aconteceu de tudo um pouco. Em janeiro, no aniversário da cidade, os santistas e visitantes foram agraciados com o show de Benito de Paula e Trio Mocotó. Na sequência, os primeiros movimentos para a festa de Carnaval que, em Santos, possui um significado especial. Os desfiles começaram em 26 de janeiro, com a chegada festiva do Rei Momo e a participação das escolas de samba da cidade. O Baile Oficial aconteceu em 16 de fevereiro, no belo salão do novíssimo Clube XV. Aliás, o mês de fevereiro inteiro foi dedicado ao Carnaval, uma festa e tanto na terra santista.
O ano de 1974 tinha em seu calendário de eventos outras atividades interessantes, como o concurso Mestre-Sala, que ocorria em julho; a Procissão de São Pedro, dia 30 de junho; a Eleição da Garota Turismo, que contou com a presença de Luiz Américo e Carlos Eloy; além da Noite de Iemanjá, em agosto e os Festejos de Nossa Senhora do Monte Serrat em setembro.
Comes e Bebes
Por sua característica de cidade turística, Santos reunia um bom número de restaurantes, bares e casas noturnas, que ofereciam boa comida e lazer para os santistas e visitantes. Os destaques eram:
A BALNEÁRIA – Especializada em frutos do mar, a casa era muito conhecida e elogiada. Localizada na avenida Presidente Wilson, 21, no Gonzaga, tinha a “Pescada Cambucú” como a estrela do cardápio. Polvo, lagostas de várias formas, ostras trazidas de Cananéia e caranguejos de Bertioga, completavam a lista principal do menu local.
BALEIA – Era um restaurante de cozinha internacional. Um dos destaques era a “Sopa de Tartaruga”, bastante comentada. Outra indicação da casa era a “Lagosta ao Termidor”. O prédio que abrigava a BALEIA resiste até hoje na paisagem santista, na avenida Vicente de Carvalho, 30. Na época, o restaurante ficou conhecido por ser um dos primeiros a oferecer um espaço para a criançada passar o tempo. O salão também tinha como novidade um sistema de ar-condicionado e música ambiente.
ATLÂNTICO – O restaurante do Hotel Atlântico era considerado um dos mais tradicionais de Santos, oferecendo culinária internacional, com destaque para o “Camarão Coquetel” como antepasto. Para os apreciadores de carne, a pedida era o “Filet a Don Vilar”. Localizado na Avenida Ana Costa, 574, esquina com a praia, já oferecia como diferencial sua ampla área externa.
ANHANGÁ – Situado na avenida Epitácio Pessoa, 30, quase na Conselheiro Nébias, o Anhangá tinha como destaque, às sextas-feiras, a famosa “Rabada”. Aos sábados, o local oferecia aos clientes a “Feijoada Desengordurada” e aos domingos, o “Nhoque de Frango”. O restaurante já trabalhava com serviços de pizza para viagem.
XIKOTE – Situado na Vicente de Carvalho, 34, Boqueirão, o Xikote oferecia três ambientes distintos, sendo dois internos, um dos quais com pista de dança, e uma área externa. Era tida como a casa mais completa do gênero, mantendo um serviço de churrascaria no melhor estilo gaúcho.
VALENTIM – Ficava na Praça dos Andradas, 6, a poucos metros da Rodoviária. Mantinha um cardápio variado de primeira linha e um salão amplo bastante cuidado. No Valentim, o segredo era pedir o “prato do dia”: Nas segundas-feiras era o “Mocotó à Espanhola”; nas terças a “Feijoada Completa”: às quartas, o “Cozido à Espanhola”; nas quintas havia as “Rabadas”; nas sextas, o “Bacalhau”; aos sábados, a “Feijoada Tradicional” e aos domingos o badalado “Nhoque”, além de “Perú e Leitão à Brasileira” e o “Coelho à Caçadora”.
GUG’S SARAVÁ – Restaurante especializado em cozinha brasileira, o Gug’s era uma espécie de “point” de balada noturna também. Localizado na avenida Bartolomeu de Gusmão, 131, esquina com o canal 6, na Ponta da Praia, o lugar oferecia petiscos e aperitivos sensacionais, com destaque para a “Casquinha de Siri”. Lá se comia o autêntico “Vatapá”, normalmente servidos por moças com vestimentas à caráter. O salão era bem decorado e havia um amplo estacionamento no local. Em anexo havia uma sorveteria exclusiva e muitas músicas, com “tapes” atualizados.
CALDEIRA – Localizado na esquina da rua Carvalho de Mendonça com a Bernardino de Campos, o Caldeira era famoso por seu “Chopp”, tirado pelo proprietário, o Paulo Borges. A casa ficava aberta até 1 hora da madrugada e era o ponto de encontro de muitas famílias após as saídas dos jogos na Vila Belmiro. Os destaques do menu eram o “Escalope à Romana” e o “Filet à Moda”.
FIFTY-FIFTY – Restaurante de cozinha internacional, localizado na avenida Bartolomeu de Gusmão, 119, na esquina da Januário dos Santos, era conhecido por ter um cardápio altamente sofisticado da culinária francesa, onde não faltava “Saumon Furne” e “Escargos de Borgogne”, além de “Coquilles San Jacques”, “Boulaibeisse”, “Filet Bernaisse” e “Filet Stragon”. Entre as sobremesas, “Profiterol Les Du Roy”, “Mont Blanc”e “Crepe Suzette”. Foi um dos primeiros estabelecimentos a aceitar cartões de crédito em Santos.
LÍDER – Situado na Amador Bueno, 59, no Centro, tinha lanchonete e panificadora própria. Servia diariamente “Polvo” e era conhecido pelas feijoadas, de quarta e sábado. “Tudo Sempre em Ordem” era o lema do Restaurante Líder.
A vida noturna santista
Escutar uma boa música, tomar um chope bem gelado, bater um papo informal e assistir a bons espetáculos, era a tônica da cidade em 1974. Entre as casas mais badaladas na época, destacamos:
THE PINK PANTHER – Era considerado o ambiente mais requintado da orla santista, uma boate finamente decorada que oferecia o melhor em matéria de conforto aos seus frequentadores. Apresentava música sempre atualizada e shows bem montados. Oferecia um ótimo serviço de bar e atendimento a cargo de recepcionistas poliglotas. Ficava na avenida Presidente Wilson, 143, 2º andar, no edifício Universo Palace.
THE FUGITIVE – Era uma das estrelas da chamada “Boca” de Santos, no Paquetá. Possuía atrações internacionais e shows variados, sob a direção de Tony Fernandes. A casa oferecia dentro de um conforto “fora de série” e uma decoração aprimorada, o que melhor existia no gênero. O ponto alto da festa eram os espetáculos de “Strip-Teases”. Ficava na Travessa Adelina, 31.
CHÃO DE ESTRELAS – Situado na avenida Epitácio Pessoa, 190, Embaré, era uma casa de espetáculos que reunia os melhores shows da cidade. Oferecia um repertório exclusivamente brasileiro e possuía capacidade para 400 pessoas sentadas. O Chão de Estrelas possuía um magnífico bar e um perfeito sistema de ar condicionado. O lugar era conduzido pelo Galvão, um dos experts da noite santista. Sua grande vantagem sobre os demais lugares era o seu estacionamento, para 120 automóveis.
PILEQUINHO – Localizado no José Menino, era a casa com as melhores “Batidas de Frutas” da cidade. O lugar oferecia música ao vivo e um chope bastante comentado entre os jovens.
CHOPP CANAL 4 – Alicerçada no slogan “Música, Alegria e Som Bom”, a casa tinha duas pistas de dança, aberta a partir das 19 horas. Ficava na Siqueira Campos, 800. Tinha estacionamento em frente da Cantina Firenze.
GRUTA DO MINOTAURO – Situava-se na Ponta da Praia, na avenida Almirante Saldanha da Gama, aberta a partir das 21 horas.
LAS VEGAS – Casa comandada por Abel e Julinho, dois nomes dos mais conhecidos na noite santista, ficava no coração das “Bocas”, no bairro do Paquetá.
São Vicente
A parte final do guia era dedicada à vizinha São Vicente, falando sobre suas praias e atrações de interesse turístico, assim como sobre restaurantes e casas noturnas, com destaques para o Juá, Terraço Chope, The Pub, Sambão de Ouro e a discoteca Penhasco.