Água Barulhenta. Essa é a tradução, do tupi para o português, da palavra “Itororó”, que já foi um dos cursos d’água mais importantes da história de Santos, assim como fonte de água mineral de qualidade incontestável. Pelo nome, é provável que tenha tido, nos idos coloniais, uma nascente robusta, caudalosa, que brotava das entranhas do Monte Serrat certamente como uma cachoeira (daí a justificativa para o “barulhenta”).
O ribeirão Itororó (que também já recebeu o nome de ribeirão do Carmo), formado por esta nascente, percorria um caminho pouco sinuoso, passando por detrás do convento do Carmo e desaguando no lagamar portuário na altura da atual Praça Barão do Rio Branco. Suas águas foram utilizadas, inicialmente, por Braz Cubas, fundador de Santos, que mantinha junto à nascente um pequeno curtume (onde se curte o couro bovino para fins de produção de vestuário e móveis).
Por alguns séculos, as límpidas águas do Itororó foram as preferidas da população santista para uso doméstico e consumo próprio. Tanto que, na década de 1840, foi esta a nascente escolhida para abastecer o Chafariz da Coroação (o mais importante da cidade), localizado onde hoje está a Praça Mauá.
Mais à frente, na segunda metade do Século XIX, a nascente do Itororó recebeu melhorias, ganhando uma fonte moderna e bonita (inaugurada em 7 de setembro de 1878). O entorno foi contemplado com um jardim arborizado, incluindo belas palmeiras imperiais, que transformaram o espaço num dos mais concorridos para o lazer dos santistas. Aliás, pode-se dizer que foi um dos primeiros espaços santistas dedicados ao lazer. Era um dos orgulhos da cidade.
Mas aí veio o progresso. A cidade crescia a olhos vistos e os velhos ribeirões coloniais, cada vez mais poluídos, foram sendo canalizados, um a um. Ao Itororó restou, ao menos, sua nascente e fonte, ainda envolta pelo pequeno parque arborizado, local de passeio e, na virada do século XIX para o XX, onde se podia tirar fotografias de lambe-lambe.
Na década de 1920, as águas da nascente do Itororó passaram a ser exploradas comercialmente, pelo empresário Rui Carlos Herdade, que obteve concessão da Prefeitura (dona dos terrenos do Itororó) em 1924, por meio de edital, para construir um pavilhão que englobaria um bar e restaurante. O contrato de arrendamento, de 20 anos, foi assinado em 1925. Herdade chegou e engarrafar e gaseificar as águas do Itororó no período em que esteve explorando o local, até 1945, quando a área e todas as benfeitorias feitas ali, voltaram para as mãos do município.
Com a ocupação residencial das encostas do Monte Serrat, a nascente do Itororó também acabou condenada e da velha fonte, hoje, só restou a lembrança das glórias deste grande símbolo santista.
A Música
A cantiga de roda “Fui no Itororó” tem uma origem bastante controversa. Quem a registrou foi o maestro Villa-Lobos, em 1926, mas só depois de introduzir algumas alterações. A realidade é que não há paternidade para a cantiga, tão popular quanto “Cai Cai Balão” ou “Marcha Soldado”. “Fui no Itororó” é cantada por todos os cantos do Brasil e até em Portugal. Por algum tempo existiu uma polêmica sobre a verdadeira localização da Itororó cantada pelo Brasil. Há quem diga que a referência seria o Dique do Tororó, localizado na Bahia. Mas isso já foi superado e os santistas venceram a batalha da paternidade.
Eu fui no Itororó
Beber água, não achei,
Achei bela morena
Que no Itororó deixei.
Aproveite minha gente
Que uma noite não é nada;
Se não dormir agora
Dormirá de madrugada.
Oh ! Mariazinha!
Oh ! Mariazinha!,
Entrarás na roda
Ou ficarás sozinha !
Sozinha eu não fico,
Nem hei de ficar!
Pois eu tenho Joãozinho
Para ser o meu par.
Ponha aqui o seu pezinho
Ponha aqui junto do meu
Mas depois não vá dizer
Que você se arrependeu
Grande Rio e o Carnaval 2016
Recentemente a Fonte do Itororó voltou à tona no imaginário nacional. Com a escolha da cidade de Santos como tema do Carnaval 2016 do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Grande Rio, o velho símbolo foi lembrado, por conta do mote: “Fui no Itororó beber água, não achei. Mas achei a bela Santos, e por ela me apaixonei…”. Certamente será um grande espetáculo, tão grande quanto a importância do Itororó na história de Santos.