José Martins Fontes nasceu às 17h30 do dia 23 de junho de 1884, véspera de São João, no solar de número 139 que sua família mantinha na aprazível Quadra Mauá, lugar que mais tarde receberia o nome de Praça José Bonifácio, na esquina com a Rua Braz Cubas. Era filho do renomado médico, Dr. Silvério Fontes, que foi inspetor de saúde pública do Porto de Santos e um dos mais assíduos colaboradores da Santa Casa de Misericórdia; e de Isabel Martins Fontes, mãe zelosa que ficou ao seu lado até o último suspiro.
Zezinho, como todos se acostumaram a chamar-lhe ao longo da vida, logo cedo revelou seus dotes para as letras, publicando aos oito anos de idade o primeiro poema, em um jornal manuscrito chamado “A Metralha”. Antes disso, com pouco menos de quatro anos de idade, foi visto declamando, do peitoril da janela de sua casa, um belo discurso, escrito pelo pai, alusivo à Abolição da Escravatura. Entre os espectadores, estava um dos maiores abolicionistas do Brasil, Silva Jardim, colega de Dr. Silvério.
Martins Fontes passou o início da vida escolar pelas mãos de grandes mestres, como Dona Leopoldina Tomaz Coelho e Tarquínio Silva, emérito conhecedor da língua e insigne pedagogo. Após uma experiência não muito feliz em um colégio interno em Jacareí, Zezinho retornou a Santos a fim de terminar seus estudos; e era cobrado duramente pelo pai, que não costumava perdoar suas falhas nas aulas de Latim. Quando o filho se embaraçava, a bronca era sempre a mesma: “O resultado disso é a poesia! Poesia é sobremesa, menino! Você precisa é de carne e pão!”. Mesmo com o pito, Martins Fontes preferia a poesia.
Passado os estudos da juventude, Zezinho saiu de Santos e foi para o Rio de Janeiro cursar Medicina, como desejava o pai. Na então capital do Brasil, Martins Fontes conheceu seu maior ídolo, Olavo Bilac, com quem logo tratou de se grudar. No grupo do renomado poeta carioca, o santista não era chamado de Fontes, mas de “Cachoeira”, alusão feita por conta do volume de ideias e belos textos que o rapaz com pouco mais de 16 anos já desenvolvia. Na Faculdade, Zezinho logo se destacou e foi chamado para trabalhar em diversos setores, inclusive ao lado de Oswaldo Cruz, na profilaxia suburbana. Formou-se em 1908, logo voltando para sua terra natal, para clinicar.
Inquieto e curioso, Martins Fontes resolveu envolver-se em um árduo trabalho sanitário no Acre. Porém, sempre arranjava tempo para escrever seus poemas e contos, ou então colecionar textos de grandes nomes da literatura, muitos deles seus amigos. Neste período conheceu e casou-se com Nicota Teles, cujo pai acompanhara em viagem de cura a Paris, na França. Na Cidade Luz, Zezinho ficou encantado com as coisas do Velho Mundo, mas não com a esposa, de quem logo se separou. Ainda em Paris, foi sócio de Olavo Bilac e de um amigo italiano, Alfredo de Ambris, da “Agência Americana”, empresa de propaganda para produtos brasileiros na Europa e em outros países.
De volta a Santos, se entregou de corpo e alma à profissão, trabalhando na Sociedade Humanitária, na Delegacia de Saúde do Estado e na Santa Casa
Em 1932, durante a Revolução Constitucionalista, chegou a atuar como soldado na arrancada final de julho. Alistou-se no movimento como cruzado da primeira linha e era conhecido como o grande poeta da revolução, ocasião em que produziu “Paulistânia”, relicário de seus versos constituintes.
Vez ou outra também, atendia enfermos que surgiam nos navios atracados no Porto de Santos. E foi justamente numa dessas visitas que adoeceu, em junho de 1937. No dia 21, dois dias antes de completar 53 anos de idade, começou a passar muito mal e ficou de cama. No dia seguinte, sua mãe foi lhe visitar, à Rua Joaquim Távora, 268, onde morava sozinho. Neste dia exclamou para o amigo Abrão Neto, que o visitava: “Agora não preciso de médico. O meu remédio é minha mãe”. Mas, infelizmente, não foi e acabou internado na Beneficência Portuguesa. Passou o aniversário no hospital e dois dias depois veio a falecer vítima de uma infecção estafilocócica, provocada pela raspagem inadvertida do pelo do tórax com uma navalha não desinfetada. Se houvesse antibiótico naquele tempo, talvez Zezinho Fontes sobrevivesse.
Era 25 de junho de 1937. Como diria o escritor Monsenhor Primo Vieira, em sua obra biográfica sobre José Martins Fontes, “Como é Bom ser Bom”, “O Brasil havia perdido um de seus melhores poetas de todos os tempos; e a terra santista, terra da liberdade e da caridade, se empobrecera para sempre no seu patrimônio cívico e moral”.
O enterro de José Martins Fontes foi um dos maiores acontecimentos da cidade de Santos naquele ano de 1937, com centenas de pessoas no cortejo de adeus ao maior poeta de Santos.