30 de agosto de 1875. O salão da Associação Comercial de Santos estava apinhado de gente importante, à espera da maior visita que a entidade, que completaria cinco anos em dezembro, já tivera até então. Comerciantes, autoridades, militares da praça, fazendeiros e negociadores de café, todos queriam ter a honra de poder ver de perto e reverenciar Sua Majestade Imperial, D. Pedro II, e sua esposa, Imperatriz Tereza Cristina, em sua segunda passagem pela cidade de Santos (a primeira tinha sido no longínquo ano de 1846). A ACS já ostentava prestígio na cidade e reunia as maiores personalidades da época.
De repente, em meio ao burburinho dos presentes, eis que surge o Imperador, que completaria 50 anos de idade também no final do ano, recebendo a todos com gentileza e atenção. O presidente da ACS, o ativo comerciante cafeeiro Nicolau José de Campos Vergueiro, então, com a ideia de deixar registrada a presença das ilustres visitas, pediu aos seus assistentes que trouxessem um caderno para que fosse transformado em “Livro de Ouro”. O objeto, de capa aveludada na cor verde, era mais um dos que ficavam à disposição da diretoria, para confecção de atas. Ele ostentava letras douradas, onde se lia “ASSOCIAÇÃO COMMERCIAL DE SANTOS”. Foi aí que Vergueiro, em gratidão à Sua Majestade pela honra da visita, pediu-lhe, humildemente, que fosse dada à entidade a mercê de sua assinatura, inaugurando este que até hoje é um dos livros de presenças mais importantes da história santista.
D. Pedro pegou a pena, abaixou-se e assinou, com o característico 2º, em numeral (ao contrário do que muitas pessoas aprendem na escola, com o algarismo romano). Em seguida deveria vir a assinatura de sua Majestade, a Imperatriz Tereza Cristina. Porém, ela não fora àquela solenidade e, assim, não registrou sua presença na página inaugural do Livro de Ouro da ACS (ela assinaria em 1878, quando o casal imperial mais uma vez passaria pela cidade de Santos).
O genro da Marquesa de Santos
Uma curiosidade no livro é que a assinatura seguinte à do monarca brasileiro foi a de Pedro Caldeira Brandt, que não grafou o próprio nome, mas seu título nobiliárquico (Conde de Iguassú, Gentil Homem da Câmara de S. Magestade Imperial). Ele era casado com a meia-irmã de D. Pedro II, D. Maria Isabel de Alcântara Brasileira, filha legitimada de D. Pedro I com Domitília de Castro e Canto Melo, a Marquesa de Santos.
Outros nomes da folha inaugural
Na sequência aparece o nome de Sebastião José Pereira, então presidente da Província de São Paulo (08/05/1875-11/03/1881). Depois seguem as assinaturas do então presidente da ACS, Nicolau José de Campos Vergueiro; do vice-presidente, Antônio Ferreira da Silva Júnior (que assinou como “Barão do Embaré”); do secretário geral Inácio Wallace da Gama Cócrane; do tesoureiro José de Azurem Costa e dos diretores Rodolfo Wursten, João Antônio Teixeira e José Ricardo Wright. Na folha seguinte, estão as assinaturas de José Antonio Magalhães Castro Sobrinho (promotor público); José Antonio Pereira dos Santos (presidente da Câmara Municipal); (não identificado); João Manoel Alfaya Rodrigues Jr. (delegado de polícia); João Domingos da Costa (vereador); Antonio Ferreira da Silva Sobrinho
João Manoel Alfaya Rodrigues; (não identificado); José Carneiro da Silva Braga (vereador); Francisco de Paula Coelho (vereador); José Proost de Sousa (vereador); Ovídio Fernando Trigo de Loureiro (Juiz de Direito); (não identificado).
Personalidades da História
Dali em diante, o Livro de Ouro da Associação Comercial de Santos foi considerado o caderno oficial para a lavração das atas referentes às solenidades mais importantes da entidade, em especial quando das visitas de personalidades políticas, artísticas e comerciais, como Olavo Bilac, Washington Luiz, Afonso Pena, Gaspar Dutra, Juscelino Kubitschek, Ruy Barbosa e Jânio Quadros.
Encerramento do Livro
As páginas do Livro de Ouro acabaram em 1983, ano em que a Associação Comercial de Santos completou 113 anos de existência. Foi realizada uma solenidade para promover o encerramento do livro de 148 páginas, em 22 de dezembro daquele ano. Fechado em definitivo, o objeto foi elevado ao status de reliquia histórica e é, até hoje, um dos tesouros da cidade santista.