30 de setembro de 1905. O porto de Santos avançava firme para os lados do Macuco, com a imensa obra de aterro do Outeirinhos, que faria nascer dezenas de armazéns grandes e modernos, colocando a cidade definitivamente na rota internacional de comércio marítimo. Era mais do que propício o momento de se investir no setor da indústria de transformação, em especial no ramo de alimentos. Foi ai que, naquele dia, alguns empresários decidiram constituir a S.A. Moinho Santista, com o capital inicial de mil contos de réis. “As finalidades eram compra e moagem de trigo e outros cereais e compra e venda de farinhas e farelos e fabricação de massas e congêneres.” A celebração do contrato ocorria em um sobrado modesto na rua 11 de junho (atual rua Riachuelo), bem contrastado com a estrutura gigantesca que seria erguida, dois anos depois, defronte ao armazém 9 do porto santista, nas proximidades do prédio da Alfândega.
A ideia de construir o moinho partiu do empresário do comércio, e homem de muitas propriedade, José Puglisi Carbone. Visionário, ele acolheu a sugestão de um jovem italiano, de nome Giovanni Ugliengo, entendido nas artes moageiras, e resolveu colocar boa parte de seu patrimônio naquele sonho. Com o projeto debaixo do braço, procurou outros empresários, amigos, para oferecer cotas de ações na sociedade que iria constituir. Deu certo. E, com o grupo fechado, se tornou o primeiro presidente da empresa que prometia fazer história na cidade santista.
A primeira diretoria da empresa, então, teve Puglisi Carbone como seu primeiro diretor–presidente. João Lourenço da Silva, um velho amigo, ficou com o cargo de diretor-secretário. Os outros acionistas, assim, ocuparam os cargos no Conselho Fiscal: Thomas Alberto Alves Saraiva, Emídio Falche e Joaquim da Silva Pinto, como titulares e Manoel Lopes Leal, Luiz Favilla e Júlio Micheli, como suplentes.
Os primeiros silos
Depois de vários projetos encomendados no exterior, finalmente em 1907 a primeira unidade moageira é erguida em frente ao armazém 9 do porto, à rua Xavier da Silveira, 106. O complexo englobava o edifício de moagem e nove silos cilíndricos, sendo que estes foram primeiros do mundo erguidos em construção metálica. Ugliengo, a fonte inspiradora de Carbone, teve sua recompensa pela ideia. Foi ele quem comandou a construção da planta do moinho, trazendo da Europa, inclusive, arcabouços de ferro para sua estrutura. O prédio de moagem foi projetado para ter duas seções produtivas, mas apenas uma foi viabilizada inicialmente, com capacidade para a produção de 80 toneladas de farinha de trigo por dia. Este setor ficou conhecido como “Moinho A”, cuja força motriz era produzida no próprio estabelecimento, por um gerador a gás. Na inexistência de luz elétrica (ela só chegou a Santos em 1908), o edifício era iluminado inicialmente por lampiões de querosene, importados da Bélgica.
O trigo armazenado nos silos, naquela época, vinha do cais por meio de carroças. Com o tempo, esse meio de transporte foi aperfeiçoado. Carbone mandou construir uma passagem subterrânea por baixo da rua Xavier da Silveira, ligando diretamente o cais com o Moinho. Uma correia instalada no túnel fazia o transporte, à capacidade de 60 toneladas/hora. Esse sistema norteou, inclusive, as construções dos outros moinhos da cidade.
As primeiras farinhas produzidas no moinho foram a Sol, Santista e Paulista, respectivamente de primeira, segunda e terceira qualidade.
Moinho B
A segunda unidade do complexo foi finalmente colocada em atividade no dia 30 de maio de 1908. Com bastante satisfação, e sorrindo sozinho com a alta lucratividade do negócio, José Puglisi Carbone anunciava, à sua diretoria, a conclusão da montagem do Moinho B, que proporcionaria o significante aumento da capacidade da produção em mais 100 toneladas/dia. A nova seção foi bastante elogiada por seu desempenho. O maquinário, instalado pela companhia alemã Amme Giesecke & Konegen, funcionou a todo vapor por muitos anos.
Apesar de toda operação estar centrada na cidade santista, a sede social da empresa foi transferida para a capital, para facilitar as negociações de mercado. O Moinho Santista abria, então, seu escritório na rua Quitanda. Até os anos 1930, a sede mudou outras três vezes: rua São Bento, rua Álvares Penteado e Largo do Café, todos no centro da cidade.
Um novo edifício turbina a produção
Em 1930, com o crescimento da demanda, a diretoria do Moinho Santista entendeu que a produção conjunta das seções A e B era insuficiente para o atendimento das exigência do mercado. Assim, a sociedade decidiu pela construção de um novo edifício, com mais 13 silos, todos feitos em concreto. Para a unidade de moagem, foi trazido da Alemanha os equipamentos mais modernos da época, fornecidos pela Meiag. Os cilindros, por sua vez, vieram da Bulhar, empresa Suíça. Assim, em 14 de setembro de 1931 era inaugurado o Moinho C, com capacidade de produção de 100 toneladas/dia. Com a nova estrutura, o capital da sociedade foi aumentado para 24 mil contos de réis.
A novidade desta obra foi a técnica utilizada para superar os problemas de umidade dentro do moinho, com um “Sistema Central de Ventilação”.
Em 1935, o Moinho Santista se superou em tecnologia quando da inauguração do moinho D, que contava com maquinário ainda mais moderno, além de cilindros completamente automáticos. Esta nova seção de moagem entrou em funcionamento com uma capacidade de 100 toneladas/dia. Todo o complexo, assim, passou a contar com quatro seções de moagem, somando uma capacidade de produção de 308 toneladas/dia. Seus silos comportavam a capacidade de armazenagem para 10.000 toneladas de trigo em grão.
No ano de 1956, a diretoria tomou a decisão de aproveitar a farinha de trigo com valores agregados, dando início à produção de misturas preparadas para bolos e salgados, Nesta época a fábrica contava com duas linhas de produção completamente manuais.
Por muitos anos, o Moinho Santista liderou o segmento de mercado, inclusive exportando seu produto para mais de quinze países.
No segundo semestre de 1974 foram investidas CR$ 14,3 milhões em reposição de equipamentos e em obras complementares no moinho. Um grande destaque foi a instalação de uma unidade empacotadora automática de alta capacidade horária.
Gelatinas e pudins
Em 1977, começam a ser produzidos pós para sobremesas de gelatinas, flans e pudins. No segundo semestre, utilizando-se da tecnologia disponível no próprio Moinho, foi lançada o “Bolo Sol”. Ainda naquele ano, devido a grande demanda dos produtos “Sol” e “Santista”, a capacidade produtora dos mesmos foi incrementada, registrando no primeiro semestre de 1978 uma produção 21% maior do que a realizada no mesmo período do ano anterior. Em setembro de 1978 foi relançada no mercado a mistura Santista, em nova embalagem e nova formulação.
Em 1982, o Moinho de Santos começou a produzir farinhas com as marcas Lili e Tosca, quando também lançou fermento com a marca Sol.
Panificação
Em 1987, além de ser lançada a Pré-Mescla para panificação, o parque industrial foi significativamente ampliado e equipado com um novo sistema tecnológico em micros. Em 4 de março de 1991, foi colocado em funcionamento um diagrama totalmente computadorizado, o que requeria pouquíssima intervenção humana. Em agosto de 1998 iniciou-se a operação da esteira transportadora de grãos, instalada entre o Moinho e o Cais do Porto de Santos, numa passagem subterrânea na Xavier da Silveira, o que reduziu o custo de transporte em 50%. Uma nova fábrica de Pré-Mesca foi inaugurada em julho de 2001, operando com 7 funcionários, divididos em 3 turnos.