Era dia 12 de fevereiro de 1978. Eu morava na Rua Pedro Álvares Cabral, Vila Belmiro. Tinha 11 anos de idade e, naquela manhã de segunda-feira, ainda em férias escolares, jogava bola com alguns amigos na garagem do prédio, quando testemunhei um corre-corre na direção do Canal 1, pela rua Alfredo Porchat. Curiosos com o movimento, abandonamos o jogo e partimos para o local de tanta atração. Antes de chegarmos à beira do canal, já repleto de gente, sentíamos que algo inusitado estava acontecendo. As pessoas gritavam, entusiasmadas, para supostamente alguém que estava dentro do canal.
Um carro acidentado? Alguma pessoa que poderia ter perdido o equilíbrio e caído? Nenhum, nem outro. Jamais poderíamos acertar se arriscássemos um palpite. Quando chegamos à borda da mureta do canal, assistimos, estupefatos, um boi enorme, sim, um BOI, desembestado nas sujas águas do local, fugindo dos homens do corpo de bombeiros, que já haviam chegado para atender a inusitada ocorrência.
A história havia começado às 9 horas. O boi, chamado “Semblante”, pertencia à uma companhia de rodeios, que se apresentara nos dias anteriores no Estádio Ulrico Mursa. Naquela segunda-feira, os funcionários da empresa promotora do evento, a Companhia Furacão de Rodeios, encontraram problemas para levar o animal até o caminhão de transporte, que estacionara na entrada do campo. Irrequieto, Semblante escapou do cerco e fugiu pelo corredor de entrada do Estádio e alcançou a rua. Uma grande confusão se formou na avenida Pinheiro Machado, com carros desviando do animal desenfreado. Assustado, o boi foi na direção do canal e acabou despencando para dentro dele.
Dezenas de pessoas, que por ali passavam para o trabalho naquele momento, correram para ver o estranho acidente. A polícia e os bombeiros foram acionados após as tentativas frustradas de tentar levá-lo para cima, inclusive com o auxílio de cordas. A região ficou repleta de veículos e curiosos. No ápice da aventura, mais de cinco mil pessoas acompanhavam os lances de fuga do boi. Eu era uma delas.
Motoristas largavam seus carros ao longo da avenida para assistir o rodeio inesperado.
Depois de estudar as alternativas de como tirá-lo daquela situação, bombeiros e peões do rodeio decidiram conduzir o boi até a praia, de onde poderia sair com facilidade. Assim, por quase três horas, soldados do corpo de bombeiros, com o auxílio de um bote salva-vidas, foram espantando Semblante ao longo do Canal 1 até as águas da Baía de Santos.
Ao longo do caminho, uma verdadeira procissão de curiosos. Eu, inclusive.
O trânsito foi paralisado nas avenidas Presidente Wilson, Floriano Peixoto e Pinheiro Machado. A multidão estava ansiosa para ver como se daria a captura de Semblante, assim que ele tocasse a areia da praia. Com muito custo, bombeiros e peões conseguiram afugentar o boi na direção ao mar. O animal, entretanto, enganou a todos, entrou na água do mar e partiu na direção da Ilha de Urubuqueçaba. O povo que estava na praia delirava. Muitos foram junto com os bombeiros e peões do rodeio, dentro da água, na direção do famoso boi, que acabou dominado apenas a 200 metros da praia do José Menino.
Amarrado, Semblante foi levado para um caminhão estacionado junto ao Canal 1. Um dia para não esquecer!
fonte das imagens: Site Novo Milênio (www.novomilenio.inf.br)