Santos, 1921. Na Rua General Câmara, 124, uma novidade chamava a atenção da cidade santista. O comércio local ganhava sua primeira loja especializada em ótica. Até então, o comércio de lentes e óculos era dominado por oculistas mecânicos, que produziam pontualmente armações e lentes a pedido de médicos dos olhos, como, por exemplo, fora João Éboli, em Santos.
A Casa Gabos veio para quebrar paradigmas e iniciar uma nova era no comércio de óculos (armações e lentes), com preços mais acessíveis e complexidades na elaboração menos trabalhosas. Tanto que, juntamente com a loja, a Gabos também inaugurava naquele ano de 1921, o primeiro laboratório ótico da cidade, equipado para a fabricação de lentes com curvas dirigidas, iguais às famosas lentes alemãs, Carl Zeiss.
Sylvio Gabos, o fundador, era um jovem imigrante italiano da cidade Castelmassa, situada às margens do Rio Pó, na fronteira da região do Vêneto com a Lombardia. Ele havia aprendido o ofício na terra natal e pretendia “fazer a América” a partir de seu conhecimento nesse mercado. Assim, com sua experiência, abriu a loja no térreo do sobrado onde morava com a família, na General Câmara, 124, onde ficou até o início dos anos 1930. Com o desenvolvimento da loja, Gabos resolveu mudar seu endereço comercial para a Rua João Pessoa, 17, quando esta ainda se chamava Rua do Rosário.
Berço da maior empresa de equipamentos óticos da América Latina
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Gabos forneceu equipamentos ópticos para o exército brasileiro. Eram lentes para os telêmetros (aparelhos próprios para medir a distância entre os equipamentos de artilharia e os alvos), que foram utilizados em fortes da costa do Brasil. Os telêmetros também eram fabricados pela família, surgindo em 1941 a empresa D.F. Vasconcellos, nascida na Casa Gabos através do casamento de Elza Gabos, filha de Sylvio Gabos com o Sr. Décio Fernandes Vasconcellos. Algum tempo mais tarde, a D.F. Vasconcellos se tornou a maior indústria de equipamentos óticos da América Latina, posição que mantém até hoje.
Dez anos depois, em 1951, a Gabos voltaria a inovar, lançando lentes com curvas corrigidas coloridas – Amber Coated – patenteada sob o número 432.295. E outros dez anos, em 1961, lançava no mercado as lentes endurecidas, de segurança, que não estilhaçavam, garantindo mais segurança para o usuário, em especial para as crianças.
Em 1963, a Casa Gabos cria a OPTIMAC, indústria de maquinário óptico com enorme relevância para o ramo da óptica Nacional. Ito Sylvio Gabos, filho do fundador, foi o inventor da primeira máquina de têmpera térmica de cristal óptico da América do Sul, além de ter registrado outras patentes, como orthopolariscópio e polidoras automáticas.
Em 1967, a loja passou a vender também aparelhos para surdez, da marca Viennatone, líder mundial no segmento, capaz de aumentar o som 10 mil vezes. A Gabos chamou a população para testes grátis na loja e anunciou que até surdos com 99% da capacidade auditiva comprometida podiam ouvir. Em 1968, a Gabos inaugurava uma filial em Caraguatatuba (Avenida Anchieta, 946), litoral norte do Estado de São Paulo e ampliava sua atuação em Santos, com uma nova loja na Rua Riachuelo, 95. Além disso, trazia uma novidade dos Estados Unidos: lentes omnifocal de poder progressivo com campo total de leitura. A Gabos produzia em até 24 horas este tipo de lente.
Óculos de Sol
É claro que a empresa não se restringiu suas vendas apenas oferecendo óculos para pessoas com necessidade de visão. As linhas de produtos “de sol” também chamavam a atenção dos santistas e dos visitantes. Até mesmo a ex-Rainha da Beleza Nacional, a santista Zezé Leone (vencedora do primeiro concurso de beleza da história do país, em 1923), foi cliente da Gabos, nos anos 1940.
No final dos anos 1960, a coqueluche da moçada era a marca “Voon Voon”, óculos de sol em duas cores no modelo “Tiara”, tido como moda na Europa.
Premiando as crianças
Em 1978, a Casa Gabos, nas comemorações dos seus 58 anos de atividades, resolveu promover uma ação para premiar crianças e jovens. Quem enviasse o desenho de óculos mais bonito ganhava um óculos no valor de Cr$ 1.500,00 (cruzeiros – o equivalente hoje a R$ 1.500 reais) e ainda tinha seu desenho publicado nas páginas de A Tribuninha. Outras trinta crianças ganhariam um estojo de lápis colorido.
Premiando professores e atendendo crianças carentes
Em 1982, a Casa Gabos decidiu participar de uma ação que escolheria o “Professor do Ano”, oferecendo um óculos ray-ban para cada docente vencedor do certame. Em 1987, a empresa passou a atender, de forma gratuita, crianças carentes que necessitavam de óculos, em parceria com o Rotary Clube Santos-Oeste. A ação fazia parte do Dia Regional da Visão, instituído para o dia 25 de abril.
Exclusividade nacional das lentes Carl Zeiss
A Casa Gabos manteve ao longo de sua trajetória uma relação de proximidade com a Carl Zeiss, da Alemanha. As lentes produzidas na empresa recebiam tratamento anti-risco, capas antirreflexo e armações laminadas a ouro 22/24 quilates com três anos de garantia.
Hoje
Atualmente a Casa Gabos está sob o comando da sua quarta geração: Ricardo Gabos Morozetti e Paulo Alexandre Gabos Morozetti, e já conta com a 5ª geração, Raoni Gabos Morozetti e Tales Sessa Corrêa Gabos Morozetti ,que seguem os passos do trisavô, Sylvio Gabos.