Depois que Getúlio Vargas assumiu o poder pela força de um Golpe de Estado, em 1930, após depor o então presidente Washington Luiz (eleito em 1926), muitos brasileiros, em especial os paulistas, passaram a exigir a promulgação de uma nova Constituição (a de 1891 fora revogada por Getúlio). O presidente, no entanto, não fazia nenhum movimento neste sentido, o que levou milhares de pessoas às ruas a partir do começo do ano de 1932. Numa das manifestações, ocorrida em 23 de maio na capital bandeirante, as forças do governo ditatorial acabaram matando quatro jovens: Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo, cujas iniciais dos nomes acabaram formando a sigla M.M.D.C, que se tornaria a divisa da revolução que se desenhava. A situação ficou mais tensa nas semanas seguintes, até que, em 9 de julho, eclodiu o movimento revolucionário, lançando o Estado de São Paulo numa guerra contra praticamente todo o resto do país. Em Santos, a população aderiu entusiasmadamente aos ideais revolucionários. A proposta era libertar o Brasil de uma ditadura cruel e arrancar o Estado das mãos de tenentes inexperientes e incompetentes.
A seguir, o Memória Santista resgata uma linha do tempo produzida em 1954 para o jornal A Tribuna, com imagens inéditas dos tempos da Revolução de 1932 na cidade de Santos.
9 de julho – O estopim da Revolução de 1932 começou em São Paulo, quando, nas primeiras horas da noite, um grupo de homens armados aproximou-se do Q.G. da 2ª Região para assaltá-lo. Os guardas não ofereceram resistência e até confraternizaram com a tropa assaltante. O general Euclides Figueiredo, então, assumia o comando da 2ª R.M. O cel. Marcondes Salgado, comandante da Força Policial de São Paulo, uniu seus homens às tropas federais daquela região militar. Estavam formadas as forças revolucionárias. Logo em seguida, um ultimatum foi enviado ao presidente Vargas: renunciar ou ser deposto!
10 de julho – O general Isidoro Dias Lopes, também opositor ao governo Getúlio, dirigiu um manifesto ao povo paulista. O interventor de São Paulo, Pedro de Toledo, renunciou ao cargo e acabou aclamado governador de São Paulo pelos paulistas revolucionários. Em Santos, neste dia, o 6º Regimento de Cavalaria aderia ao movimento constitucionalista. Enquanto isso, os estados do Mato Grosso, Minas, Paraná, Santa Catarina manifestam solidariedade aos revolucionários (mas isso iria mudar).
11 de julho – O jornal A Tribuna entrava em circulação com a manchete: “São Paulo, numa demonstração de vibrante civismo, levanta-se coeso por um Brasil forte e livre”. A população santista estava ansiosa. Por todos os cantos o assunto era o levante da capital paulista.
12 de julho – Getúlio, irritado com a afronta de São Paulo manda uma ordem proibindo todas as navegações aos portos de São Paulo. Em Santos, preparando-se para o pior, é formada a Milícia Civil. Centenas de jovens começam a se alistar, para enfrentar os inimigos nos fronts do interior. Na capital, desembarca o general Klinger, até então o comandante da R. M. de Mato Grosso, para assumir o posto de Comandante Supremo do Exército Constitucionalista.
13 de julho – As mulheres de São Paulo começam a se congregar para apoiar a luta pela lei. Trezentas senhoras de Santos reúnem-se na Cruz Vermelha e oferecem-se para trabalhar no campo da luta. Enquanto isso, várias tropas mineiras e paranaenses rumavam para São Paulo para aderir à revolução.
14 de julho – No município de Cunha, fronteira do Estado de São Paulo com o Rio de Janeiro, acontece a primeira batalha. Soldados paulista enfrentam um grupo de fuzileiros navais do Governo Federal que haviam desembarcado em Parati. O aviador e herói brasileiro Santos Dumont lança um apelo em favor da Constituição, mas não é ouvido por Getúlio.
15 de julho – Isidoro Lopes percorre as zonas de operações. Os paulistas parecem entusiasmados com o movimento. Todos estavam dispostos a morrer pela Lei e pela liberdade.
16 de julho – Em São Paulo, a condessa Álvares Penteado resolve fazer um donativo de dois mil contos à revolução. Em Santos são organizados os primeiros batalhões de reservistas, assim como o dos operários e a “Legião Negra”.
17 de julho – No Rio Grande do Sul o Partido Libertador, que sustentou o golpe de Getúlio em 1930, rompe com o interventor local e iniciam-se fortes agitações políticas naquele Estado. Enquanto isso, em Santos, o jornalista Ibrahim Nobre, um perseguido pelo presidente, fala ao povo de Santos pelo microfone da Rádio Clube. O Exército Constitucionalista já contava com cem mil homens e avançava na direção de Pinhal, Bragança, Piquete e Itajubá.
18 de julho – Trezentos rapazes santistas seguiram para São Paulo, nos trens da São Paulo Railway. O Valongo estava lotado de gente. O exército paulista avançava nas frentes fluminense, mineira e paranaense, e ganhava importantes batalhas. Ao mesmo tempo chegavam notícias que tranquilizaram os santistas. A Marinha do Brasil se manifestou, dizendo que não hostilizaria a revolução constitucionalista.
19 de julho – Destróiers enviados pela ditadura de fato nada atentaram contra o porto de Santos, confirmando as notícias sobre a decisão da Armada. Ainda assim, muitas minas foram lançadas ao longo da Baía e do canal do porto, como forma de proteção preventiva. Na capital, chegavam as primeiras tropas vindas do Mato Grosso, como o 11º Batalhão de Caçadores.
20 de julho – No Rio de Janeiro, as tropas ditatoriais eram vaiadas nas ruas. A população carioca não aceitava o governo do gaúcho Getúlio Vargas. O presidente, então, ordena uma enérgica intervenção, mandando agir a polícia governista, chefiada por João Alberto.
21 de julho – Começavam a entrar em circulação os bônus pró-constituinte. Por seu lado, a ditadura iniciava uma ação de propaganda, por todo o território nacional, dizendo que os paulistas estavam consolidando uma revolução comunista, liderada estrangeiros, principalmente italianos.
22 de julho – As tropas paulistas tomam Itajubá, cidade do sul de Minas Gerais. No Rio de Janeiro, estudantes realizam um enorme comício e acabam espancados pela polícia. Em Santos, a cidade está em festa com a chegada de Isidoro Dias Lopes, o “Marechal da Revolução”.
23 de julho – Um acidente terrível com morteiros, ocorrido durante uma ação de treinamento, mata o coronel Júlio Marcondes Salgado, comandante da Força Policial da capital. Em seu lugar assume Herculano de Carvalho. Neste dia trágico, no Hotel La Plage, Guarujá, o célebre herói da aviação, o inventor Santos Dumont, desgostoso por testemunhar o uso de sua máquina, o avião, como arma de guerra em seu próprio país, resolve se suicidar. O país fica em choque.
24 de julho – Os paulistas vencem as batalhas de Cunha e também na Serra da Mantiqueira, tomando o estratégico túnel que liga São Paulo a Minas Gerais. Na fronteira sul, diversos estudantes paranaenses chegam a São Paulo, viajando a pé, para aderirem à revolução. Enquanto isso, em Santos, ainda sob o luto da morte de Santos Dumont, aconteceu uma gigantesca passeata cívica. – João Neves da Fontoura, ex-vice-governador de Getúlio Vargas no Rio Grande do Sul (1927-1930) desembarca em São Paulo, prometendo a solidariedade povo gaúcho. Ele rompera com o ex-companheiro.
25 de julho – A Revolução parecia estar indo de vento em popa. Nas fronteiras, mais de trezentos soldados governistas passavam para as forças revolucionárias. Por todas as cidades paulistas havia uma forte esperança de que a revolução estaria vitoriosa em poucos dias.
26 de julho – Chegavam notícias de que o 12º Regimento de Infantaria de Belo Horizonte havia aderido à revolução. Reinava, então, em Minas Gerais, um certo entusiasmo a favor da causa deflagrada por São Paulo.
27 de julho – O clima estava cada vez mais tenso na fronteira paulista/mineira. As batalhas para obter o controle sobre o túnel da Mantiqueira tornavam-se cada vez mais sangrentas. O local, mais tarde, seria consagrado como um campo icônico do heroísmo para o soldado revolucionário.
28 de julho – Os combates se acirram na Serra da Bocaina, divisa entre Rio e São Paulo. Aviões da ditadura sobrevoam Santos, mas não provocam alarme entre a população. Eles tentam bombardear, porém sem sucesso, os centros fabris do Cubatão. Enquanto isso, o major Lísias Rodrigues assumia o comando das Forças Aéreas de São Paulo.
29 de julho – São Paulo sofre um revés com a não adesão do Estado do Paraná à causa. Ao contrário, as tropas paulistas começam a enfrentar dificuldades na fronteira sul, contra os paranaenses que se mostram leais ao governo de Getúlio.
30 de julho – As notícias que vinham do front eram animadoras. Em todas as frentes a situação era favorável aos soldados paulistas, fazendo recuar as ditatoriais. Santos envia mais um contingente de soldados, formado por reservistas do Tiro Naval, Falange Acadêmica, Batalhão de Reserva e Voluntários.
31 de julho – Na capital federal, o Rio de Janeiro, um comício de grandes proporções era anunciado pelas ruas. O comandante da polícia de Getúlio Vargas, conhecido por seu caráter rude, ameaçava metralhar a população.
1 de agosto – Os soldados de Getúlio recuam em Itararé e promovem um ataque violento às tropas paulistas em Cunha. No Rio de Janeiro, o comandante do couraçado São Paulo recusa-se a transportar tropas ditatoriais. Força e violência eram empregadas contra as manifestações populares no Rio.
2 de agosto – Estudantes cariocas protestam contra a atitude de João Alberto. Apenas São Paulo e Mato Grosso continuam pegando em armas.
3 de agosto – Klinger e Isidoro dirigem novo ultimatum à ditadura. Nas frentes de batalha são registrados vários armistícios entre os combatentes.
4 de agosto – A trégua é suspensa e as lutas voltam a acontecer nas frentes de batalha, nas fronteiras do Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná. Os paulistas trabalham intensamente pela revolução, fazendo com que todas as suas fábricas passem a produzir materiais para o esforço de guerra.
5 de agosto – A Cruz Vermelha de Santos seguia para a linha de frente. Inicia-se, entre os santistas, a subscrição para a campanha do “Capacete de Aço”.
6 de agosto – Na fronteira com o Paraná, os soldados paulistas vencem as batalhas e entram triunfante nas cidades do norte paranaense. Começavam a chegar também as primeiras notícias das façanhas do trem blindado.
7 de agosto – Domingo ficou marcado como um dia calmo nas frentes de batalha. O governador Pedro de Toledo aproveita para dirigir-se ao povo paulista, gerando grande confiança e ardor entre a população.
8 de agosto – No Rio de Janeiro aconteceu a “Parada do Silêncio”, reunindo milhares de pessoas em desfile Av. Rio Branco, em protesto mudo contra a ditadura.
9 de agosto – Em São Paulo é lançada a campanha do “Ouro para a vitória”, com o general Klinger falando ao povo de São Paulo. Enquanto isso, crescia, com intensidade espantosa, a campanha do Capacete de Aço (Ele não era à prova de bala, mas protegia melhor contra estilhaços de granadas e balas ricocheteadas. Sua fabricação foi iniciada pela Companhia Paulista de Louças Esmaltadas no final de julho. A Associação Comercial de São Paulo iniciou a campanha para ajudar a financiar a produção de uma grande quantidade desses capacetes, para os soldados que iam para as linhas de frente).
10 de agosto – O ex-presidente Artur Bernardes, mineiro, manifestou-se a favor da revolução. O general Isidoro Dias Lopes falou à imprensa e afirmou que, após a vitória, a primeira providência a ser tomada será fazer a eleição presidencial com voto secreto.
11 de agosto – Todo o parque industrial paulista está mobilizado no esforço de guerra. No Túnel da Mantiqueira, a luta tornava-se cada vez mais sangrenta, principalmente após a chegada dos reforços ditatoriais.
12 de agosto – Os constitucionalistas conseguiam repelir violentos ataques dos ditatoriais, mas acabam sofrendo grandes baixas na cidade de Queluz, na fronteira com o Rio de Janeiro. De Santos, partem para São Paulo a 1ª Companhia do Batalhão Operário.
13 de agosto – Na fazenda “Pedro Morais”, soldados santistas travavam violento combate contra as forças de Getúlio. Vários esportistas de Santos, num gesto de doação, entregavam a São Paulo suas medalhas de ouro, para que fossem usadas na compra de materiais para a fabricação de capacetes, armas e munições. No Estado do Ceará, a imprensa estampava em a manchetes: “São Paulo é um braseiro de civismo”.
14 de agosto – Os constitucionalistas atacavam em todas as frentes (Rio, Minas, Paraná e Mato Grosso). Na capital, acontecia novo choque entre polícia e estudantes. Entrava em experiência o primeiro material bélico fabricado em São Paulo.
15 de agosto – Eram presos na fronteira 39 soldados recrutados entre homens da polícia de Pernambuco. Eles declararam que foram convencidos que combatiam comunistas e estrangeiros. Era impressionante a dedicação da mulher paulista na retaguarda, atuando incansavelmente em todas as partes: oficinas de costura, nas indústrias e nos hospitais.
16 de agosto – Góes Monteiro, comandante-em-chefe das tropas da ditadura, telegrafava a Klinger condenando a revolução constitucionalista. Aumentava cada vez mais o entusiasmo dos paulistas e crescia a campanha do ouro. O Clube Internacional de Regatas de Santos oferecia, ao governo do Estado, todo o seu arquivo de medalhas.
17 de agosto – As tropas de Getúlio atacavam violentamente os setores de Cunha e Queluz. Era comovente o heroísmo com que os paulistas defendiam suas posições. Na zona do Porto de Taboado (Mato Grosso do Sul) era destroçado um batalhão ditatorial.
18 de agosto – Em Silveiras, o Batalhão da Reserva Naval de Santos resistiu a um violentíssimo bombardeio da artilharia ditatorial. Eram abatidas as primeiras forças goianas que marcharam contra Mato Grosso. O Clube Saldanha da Gama, a exemplo do Inter, também oferece todas as suas medalhas à campanha do Ouro para a Vitória.
19 de agosto – Continuava grande o entusiasmo em todas as linhas onde se encontravam os soldados que se batiam pela lei. O ex-presidente Artur Bernardes se esforçava, em Minas, para levantar o movimento constitucionalista no seu Estado. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, o pânico imperava. Em São Paulo iniciava-se o que viria a ser o aspecto mais comovente da revolução: a formação dos batalhões infantis. Pela “causa paulista”, essas tropas mirins davam ânimo aos soldados do front e das forças públicas. As crianças declamavam poemas nacionalistas nos portões das escolas, visando à audiência e o encorajamento tanto dos soldados acantonados quanto dos cidadãos em geral. O lema desses batalhões era chocante: “Se necessário, também iremos”, era escrito nos cartazes utilizados nos desfiles das crianças.
20 de agosto – Iniciava-se uma revolta na guarnição do forte de Óbidos, no Pará. O capitão Otelo Franco, do Estado Maior das forças ditatoriais, aderia à luta pela lei. Cunha e Queimada eram violentamente atacadas pela Ditadura.
21 de agosto – Cada vez mais, os combates na frente fluminense eram encarniçados. Os rapazes paulistas e mato-grossenses que aderiram à causa constitucionalista combatiam com heroísmo inédito. Em São Paulo, mulheres e crianças trabalhavam, dia e noite, na confecção de capacetes de aço.
22 de agosto – Era realizado, no Rio, novo comício pró-constituição. A polícia encarregou-se de desfazê-lo com o emprego de gás lacrimogêneo. Chegavam notícias de que haveria um levante na capital federal, mas apenas São Paulo e Mato Grosso continuavam pegando em armas.
23 de agosto – Sangrentos combates continuavam em Cunha. Havia equilíbrio de posições. A campanha Capacete de Aço atingia a marca de 1.187:676$500, o que deu para fabricar 79.179 capacetes. Iniciava-se a mobilização agrícola. Em Santos, a população assistia ao comovente desfile de batalhões infantis angariando donativos para os soldados da Lei.
24 de agosto – Em Rifaina (fronteira Minas/São Paulo, perto de Franca), soldados mineiros aderiam ao Exército constitucionalista, levando todo o material de que dispunham. Na frente sul, por outro lado, a ditadura conseguiu romper a fronteira e avançava para cima das regiões Fundão, Guapiara e Capão Bonito.
25 de agosto – No Rio de Janeiro generalizou-se o uso da gravata preta, o que queria dizer: “Estou com São Paulo”.
26 de agosto – Os paulistas começavam a perder as forças no front norte e as tropas ditatoriais, cada vez maiores, com a incorporação de milhares de homens vindos dos estados do Nordeste, começavam a avançar na direção de São José do Rio Pardo e Mococa. Enquanto isso, em Cunha, os constitucionalistas destruíam os novos contingentes de tropas da ditadura. Getúlio lançava “bônus” para financiar sua defesa.
27 de agosto – Grande vitória paulista em Cunha. Em Eleutério e Itapira, fronteira com Minas (perto de Mogi-Guaçu) as forças ditatoriais pressionavam violentamente.
28 de agosto – A aviação paulista castigou rudemente as tropas de Getúlio e chegaram a atacar o Quartel General de Góis Monteiro. Enquanto isso, os batalhões infantis continuavam desfilando pelas ruas: a população assistia a cena com lágrimas nos olhos.
29 de agosto – A campanha do ouro para a vitória era reconhecida de utilidade pública. Em Coxim, em Mato Grosso, os constitucionalistas avançavam. São Paulo suportava ataques fortíssimos em Mococa e Caconde.
30 de agosto – A ditadura aumentava seus ataques no setor Oeste. Itapira foi objeto de constantes e sangrentas investidas. A valentia dos constitucionalistas era vista como uma página épica. O governo paulista adotou o Brasão de Armas de São Paulo.
31 de agosto – Os chefes militares constitucionalistas começavam a inquietar-se, pois as tropas revolucionárias entravam em defensiva. Em todas as frentes recrudesciam-se os ataques da ditadura, entretanto chegavam notícias de que havia rebentado um levante constitucionalista no Rio Grande do Sul. Em Minas Gerais, apesar dos esforços do ex-presidente Arthur Bernardes, não se realiza o movimento a favor da Constituição
1 de setembro – As forças de São Paulo conseguiam avançar em Itapira, na frente sul, embora houvesse duras batalhas na zona do Fundão, onde os paulistas sofreram terríveis baixas. A campanha do capacete de aço, naquela altura, atingia a cifra de 1.430:210$000 (Equivalente hoje a R$ 35 milhões).
2 de setembro – Novas notícias chegavam do Rio Grande do Sul, afirmando que lá se processava o levante contra a ditadura. As tropas paulistas continuavam combatendo com maravilhoso entusiasmo.
3 de setembro – De Minas nada mais se dizia, apenas alguns boatos sobre inquietações em Juiz de Fora. Do Rio Grande do Sul continuavam chegando notícias de que os gaúchos se levantaram sob o comando de Raul Pila, Borges de Medeiros, Batista Luzardo e Lindolfo Color.
4 de setembro – Em São José do Rio Pardo, as forças de Getúlio atacavam violentamente. Os paulistas se percebem inferiores em número e em armas, mas não recuavam em nenhuma hipótese, garantindo a superioridade em ideal.
5 de setembro – Minas se manifestava mais uma vez. Estudantes mineiros solidarizaram-se com seus colegas de São Paulo. Enquanto isto, em Santos, o Forte de Itaipu era bombardeado. Os santistas conseguiam ver, das praias, os aviões da ditadura agindo contra os soldados em Praia Grande. Cubatão também é atingida.
6 de setembro – Novas notícias vinham de São Paulo, afirmando que o movimento constitucionalista tomava vulto no estado do Pará.
7 de setembro – Nas trincheiras festejou-se o Dia da Independência. Em Silveiras, uma cena bárbara, com aviões da ditadura cometendo um crime, metralhando mulheres e crianças nas praças, nas ruas e nos quintais.
8 de setembro – A ditadura avançava em Mogi-Mirim. Havia combates encarniçados. Em Casa Branca (perto de São João da Boa Vista) os paulistas resistiam, num esforço sobre-humano, às investidas incessantes das tropas de Getúlio. Em Cunha e em Buri, havia combates encarniçados.
9 de setembro – O governador Pedro de Toledo e o general Klinger falaram ao povo através da Rádio Record, utilizando-se de palavras de confiança, esperança e fé na causa esposada por São Paulo. No túnel da Mantiqueira, o coronel Antônio Paiva de Sampaio, com dois mil homens, resistia a uma tropa de sete mil homens comandados por Eurico Dutra.
10 de setembro – Em Amparo, as forças de Getúlio eram violentamente atacadas. Num só combate, os paulistas fizeram 400 prisioneiros.
11 de setembro – Os paulistas retomavam São João da Boa Vista. Os ditatoriais perdiam também Porto Murtinho, em Mato Grosso. Chegavam notícias sobre o movimento no Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais. Mas apenas São Paulo e Mato Groso continuavam lutando.
12 de setembro – Num esforço acima das possibilidades militares, os paulistas retomavam Cascavel e Mococa. Em todas as frentes a ditadura pressionava com violentos ataques.
13 de setembro – As tropas de Getúlio atacavam, cerradamente, toda a zona da Mogiana, fazendo recuar os bravos soldados paulistas. Notícias vindas de Minas Gerais afirmavam que o ex-presidente Artur Bernardes preparava tropas para atacar o Rio.
14 de setembro – Um fortíssimo contra-ataque dos constitucionalistas aconteceu na Zona da Mogiana. Os ditatoriais retiravam-se para Minas, para as cidades de Guaxupé, Arceburgo e Guaranésia. Realizoou-se uma trégua inexplicável no Vale do Paraíba.
15 de setembro – A ditadura bombardeava Jundiaí e Campinas para causar pânico à população civil. Suspeitava-se que alguns oficiais da Força Pública de São Paulo, sob o comando de Herculano de Carvalho, mantinham ligações com o general Góis Monteiro, do alto comando de Getúlio.
16 de setembro – Em Capão Bonito, na frente sul, deu-se o combate mais renhido do dia. As tropas paulistas conseguiam infiltrar-se nas fronteiras de Minas.
17 de setembro – Chegavam notícias de que, no Rio Grande do Sul, o general Zeca Neto entrou em luta contra as tropas da ditadura. São Paulo, por sua vez, continua a ser “um braseiro de civismo”. Homens, mulheres e crianças, incansáveis.
18 de setembro – Campinas é rudemente bombardeada. Os aviões ditatoriais fazem vítimas fatais entre a população Campineira, não poupando crianças, mulheres e pessoas idosas. Os paulistas avançavam em Amparo. A ditadura atacava na zona fluminense. O Túnel da Mantiqueira resistia e ninguém passava.
19 de setembro – Em Piquete (Na Serra da Mantiqueira), os ditatoriais pressionavam violentamente. Naquela altura escasseavam as munições dos constitucionalistas. No Porto de Santos, nenhum navio conseguia entrar. O governador Pedro de Toledo tornava a dizer às tropas: “Sustentai o fogo, que a vitória é nossa!”
20 de setembro – A ditadura reforçava suas tropas nas fronteiras de Minas. Em Amparo, já quase sem munições, os paulistas empregavam artimanhas militares e conseguiam deter o avanço dos ditatoriais.
21 de setembro – Causa repulsa no Brasil inteiro o fato de que aviões da ditadura bombardeavam cidades abertas, sem objetivo militar, sacrificando mulheres e crianças. Herculano de Carvalho, em completo segredo, ultimava entendimentos com o Quartel General de Góis Monteiro.
22 de setembro – A ditadura bombardeava Campinas, Casa Branca e Limeira. Aviadores paulistas, revoltados, atacaram o campo de pouso dos aviões ditatoriais, destruindo os aparelhos que bombardearam Campinas.
23 de setembro – Guaratinguetá também foi rudemente bombardeada pela ditadura. Não havia notícias dos movimentos constitucionalistas nos outros Estados. Apenas São Paulo continua se batendo pela lei.
24 de setembro – A ditadura avançava em Amparo. Era impressionante a bravura dos defensores da lei: morriam e não recuavam. Nada mais se dizia do Rio Grande do Sul.
25 de setembro – Tropas paulistas, numa dedicação suprema, conseguiam deter o avanço dos ditatoriais em Amparo. Enquanto isto, o comandante Herculano de Carvalho concluía as negociações com Góis Monteiro.
26 de setembro – Reinava em Campinas o temor de que os ditatoriais poderiam invadir a cidade, pois sabia-se que os contingentes da Força Pública deixaram de combater por ordem superior.
27 de setembro – Todas as forças paulistas estão com o mesmo entusiasmo inicial. Apenas a Força Pública se retraiu inexplicavelmente.
28 de setembro – Herculano de Carvalho finalmente revelava suas negociações com Góis Monteiro. Cessava-se a luta. Negociava-se o armistício. Falavam em paz digna para São Paulo e Klinger assinou um documento que mais parecia uma escritura de escravo do que um trato entre forças militares. Falou-se em continuação da luta., mas já era tarde. A lei estava enterrada nas trincheiras, com a única esperança de florescer mais tarde, porque fora regada com sangue.
Em boa parte desses relatos, dessas frentes de batalha, nesse cenário cruel que se desenhou no interior paulista, milhares de santistas estiveram doando seu esforço pela causa constitucionalista. Alguns morreram e se tornaram heróis. Os paulistas não venceram a batalha de 1932, mas, de certa forma, foram vitoriosos na guerra, pois mostraram o brio de um povo que luta por ideais. A Constituição de 1934, obtida graças à luta paulista, colocou o Brasil no caminho da Lei. E, conseguido o objetivo, podemos dizer que a santa guerra em que São Paulo e Mato Grosso se bateram pelo Brasil livre contra o Brasil escravizado, o vencido venceu o vencedor.