Santos se encanta, e espanta, com a passagem do Graf Zeppelin

 

O Graf Zeppelin sobrevoando a cidade de Santos, em postal da época

Santos testemunhou na manhã do dia 11 de maio de 1933, de forma inesperada, um espetáculo inédito: a visita do majestoso dirigível alemão “Graf Zeppelin”. O surgimento do famoso aeróstato se deu por conta da impossibilidade do pouso costumeiro no Campo dos Affonsos, Rio de Janeiro, onde, desde 1930, vinha operando em rotas regulares. Um denso nevoeiro havia se estabelecido sobre a cidade maravilhosa nas primeiras horas da manhã daquela quinta-feira, impedindo uma aproximação segura do Zeppelin ao local de atracação. Seguindo o manual de procedimentos, o comandante Eckner, homem muito experimentado, decidiu contornar a área tomada pelo nevoeiro e navegar pelas proximidades até que o sol o dissipasse. A ideia original era simplesmente voar em círculos sobre o Oceano Atlântico, até que a situação fosse propícia à aproximação e pouso.

No entanto, um dos passageiros do Graf Zeppelin era o cônsul alemão em Santos, Otto Uebele, que retornava de uma viagem ao país natal. Sabendo das dificuldades momentâneas para o pouso, depois de informado pelo comandante, partiu dele a ideia de “esticar” a viagem do dirigível até a costa de São Paulo, onde teria a oportunidade de sobrevoar a cidade onde morava e atuava, ao mesmo tempo em que mostraria aos paulistas a maravilha tecnológica alemã. Uebele, que também era diretor da firma de exportação e importação Theodor Wille & Co., enviou mensagem radiográfica aos sócios em Santos, através do equipamento instalado à bordo da aeronave. Eles, então, expediram memorando informando as autoridades santistas e a imprensa sobre a passagem do dirigível sobre a cidade, “entre meio dia e uma hora da tarde”. Poucas pessoas tiveram acesso à informação, que chegou praticamente junto com o próprio Zeppelin, uma vez que o aeróstato acabou antecipando sua visita em pouco mais vinte minutos.

O Graf Zeppelin surgiu primeiro na Barra, vindo da Ponta do Munduba. Às 10h40 já sobrevoava a região das praias, assombrando a população local, que parou todos os afazeres apenas para ver a passagem da nave alemã. Os acenos eram intensos, por parte dos que estavam em terra, como dos passageiros à bordo do Zeppelin, que se debruçavam nas janelas de vidro para assistir a cena já comum das pessoas encantadas, com o pescoço pra cima, festejando a passagem do mito aéreo.

A população, desprevenida de que iria contemplar o Graf Zeppelin, acompanhava, de olhos fitos no horizonte, o metódico roncar dos motores do famoso aparelho, que agora singrava o espaço pacientemente, dando ao sol sua estrutura pintada de prata e deixando perceber, por vezes, a movimentação dos lemes de direção devido a pouca altitude em que se movimentava e que, em média, era de 300 metros.

O Graf Zeppelin percorreu toda a área da cidade, com uma bordada mais longa até São Vicente. Passou sobre o José Menino, pelo campo do Santos Futebol Clube e pela Santa Casa de Misericórdia em construção, que gerou uma das poucas fotos sobreviventes a este fato histórico santista. Afinal, não é todo dia que um símbolo mundial se confunde com a paisagem santista. Às 11h35, o dirigível, depois de uma rápida excursão pela ilha vicentina, meteu-se à direção nordeste, tangenciando a quebrada do Monte Serrat, singrando o espaço aéreo do Centro. Neste momento, a sirene do jornal A Tribuna soou forte, levando às ruas o povo ainda absorto no trabalho. Muitas pessoas correram à porta da redação para obter maiores detalhes daquele fato inusitado. O Zeppelin baixou um pouco mais e passou bem próximo da  Bolsa do Café e do prédio da Western, antes de seguir no rumo da Serra do Mar, na direção da capital paulista, onde, soube-se mais tarde, fez suas evoluções sobre a região do Anhangabaú.

A volta
Cinquenta e cinco minutos depois de ter desaparecido no horizonte da Serra do Mar, o Graf Zeppelin estava de volta, surgindo deste mesmo alinhamento, sempre em voo baixo. Num corte reto, foi sair à altura da Ponta da Praia, transpôs o estuário e, na quebrada da pedreira da Casa Wilson, já na Ilha de Santo Amaro, pôs rumo a nordeste e desapareceu, de volta ao Rio de Janeiro.

Nota do jornal Diário de Santos
Nota do jornal Diário de Santos
Imagem do Graff Zeppelin sobrevoando a região da Santa Casa, ainda em construção.
Imagem do Graff Zeppelin sobrevoando a região da Santa Casa, ainda em construção.
Manchete no jornal A Tribuna, registrando a passagem do famoso dirigível.
Manchete no jornal A Tribuna, registrando a passagem do famoso dirigível.
Cartaz da rota do Graff Zeppelin entre a Europa e América do Sul, em seus voos regulares.
Cartaz da rota do Graff Zeppelin entre a Europa e América do Sul, em seus voos regulares.

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