Todo Rei Momo deve pesar no mínimo 90 quilos, não usar bigode e vestir fantasia que o identifique como Sua Majestade. Essas foram as principais observações pontuadas em uma “proclamação real” definida por nove soberanos do Carnaval brasileiro que estiveram reunidos em Santos para a 1ª Convenção Nacional de Reis Momos da história do país, realizada em fevereiro de 1963.
O momo santista, o já famoso Waldemar Esteves da Cunha (então reinando por mais de uma década na conhecida cidade praiana paulista), foi quem conduziu os trabalhos, levado muito a sério pelos seus pares: os momos de São Vicente, Guanabara (então Distrito Federal, ou seja, a cidade do Rio de Janeiro), Niterói, Porto Alegre, Salvador, Belo Horizonte e São Luís do Maranhão. “O que se discutiu aqui tem uma importância enorme, relevante, porque o Carnaval é a coisa mais séria deste país”, disse Waldemar, afirmando que a proclamação estabelecida tinha caráter irrevogável. “Afinal, palavra de Rei não volta atrás”.
Acompanhados da Rainha
Reservado os momentos de debate “técnico”, os momos dedicaram parte de sua estada em Santos para fazer turismo. Ciceroneados pelo soberano carnavalesco santista, a “trupe de peso” (todos juntos pesavam 1.052 quilos) foi visitar alguns pontos da cidade, como o aprazível Morro Santa Terezinha, muito frequentado por visitantes em razão de possuir a melhor vista panorâmica da orla santista. Lá, ainda puderam, além de deliciarem-se com a linda vista da Baía de Santos, relaxar ao sabor de uma bem produzida cachacinha com limão, ainda que o estabelecimento local tivesse o nome de “Sky Scotch”. Para ficar ainda melhor o dia, os momos tiveram a agradável companhia da Rainha do Carnaval de Santos de 1963, a bela Hilda de Oliveira.
Traje de banho real
No segundo dia da Convenção, também de cumprirem uma agenda de debates, os mais importantes reis momos brasileiros estiveram de passagem pelo bairro do Gonzaga, onde desfilaram nos blocos carnavalescos em plena “patuscada”. Os soberanos carnavalescos caíram na dança ao som da Orquestra da Escola Império do Samba. Porém, fazia tanto calor em Santos, que os momos se deram ao direito de utilizarem-se uma fantasia mais “leve”, na base do calção de banho.
Na Ilha das Palmas
Cumprindo a agenda da Convenção Nacional, evento promovido pelo Conselho Municipal de Turismo, os momos partiram para a troca de experiências na aprazível Ilha das Palmas, onde foram recepcionados pelo próprio presidente da entidade municipal, Jorge Bechara. O calor, cada vez mais sufocante, novamente levou os soberanos da folia tomarem a decisão de fazer uma espécie de “strip tease”, que parou no “short”. Desta vez, a presença feminina não foi marcada pela rainha santista, mas por uma rainha improvisada que, ao contrário de Hilda de Oliveira, tinha uma estrutura corporal mais alinhada à de suas majestades momísticas.
Santos proclamada “Corte Carnavalesca”
No terceiro e último dia do “colóquio momístico”, os soberanos, após o encerramento oficial das sessões plenárias, decidiram cair no samba, desfilando no famoso bloco santista “Agora Vai”, participando dos bailes na Ilha Porchat e também dos desfiles de outros blocos e escolas de samba da cidade, isso sem falar da festa de coroação da rainha Hilda. Para coroar tanta bagunça, do bem, os momos participaram do primeiro desfile de Carnaval nas areias do praia do Gonzaga, abençoando a festa santista e proclamando oficialmente a cidade como a “Corte Carnavalesca do Brasil”.
Fonte: Revista O Cruzeiro (edição 21, de 2 de março de 1963)