Os bondes de Santos foram soberanos nas ruas da cidade durante todo o início do século XX. Mas, com o surgimento das primeiras linhas de ônibus, a partir da década de 1920, a cena começava a mudar de figura e ameaçava o transporte coletivo sobre trilhos urbanos.
Em maio de 1947, a The City of Santos Improvements (Concessionária do transporte coletivo em bondes na cidade), que chegou a manter cerca de 220 carros em circulação na década anterior, contava só com 100 unidades rodando pelas ruas e, assim mesmo, algumas em precário estado de conservação. Essa situação também se dava em razão pelas dificuldades impostas pela guerra. Mas a questão central era a concorrência com o transporte coletivo sobre rodas, mais maleável do que o limitado bonde com suas rotas fixas. O que ajudava os bondes era o preço, mais acessível.
Em 1950, como já estivesse próximo o término de seu contrato de concessão, que se daria a 14 de janeiro de 1951, a City não demonstrou interesse em renová-lo e avisou a Prefeitura que sairia de cena. O fato gerou grande preocupação, pois os bondes ainda se constituíam no grande transporte popular, pelo valor da tarifa e por chegar a bairros nos quais os veículos sobre rodas ainda não penetravam, por conta das ruas descalçadas, em péssimo estado de conservação. Assim, foi solicitada à City para que não interrompesse o funcionamento das linhas, até que a Prefeitura encontrasse uma solução para o impasse. Mas a decisão dos chefões da City já estava tomada e a empresa realmente abandonou os serviços de bondes e uma história de 70 anos de atuação no transporte sobre trilhos.
Criação da SMTC
Em 11 de janeiro de 1951, Santos nomeou uma Comissão Especial para estudar a melhor forma de transferência do serviço à municipalidade. Naquele ano as linhas de bondes ainda foram administradas pela City, em caráter emergencial. Em 18 de dezembro de 1951 foi aprovado o projeto de lei nº 5/51, transformado na Lei nº 1.297, de 20 de dezembro de 1951, criando o Serviço Municipal de Transportes Coletivos (SMTC), como autarquia municipal.
Bonde Camarão
Santos conheceu seu primeiro exemplar de bonde tipo “camarão” em 1954, vinte e sete anos atrasados em relação à capital, que já conheciam os práticos bondes fechados. Os carros santistas eram pintados com uma cor derivada entre o vermelho e o laranja (daí o batismo com o nome do crustáceo). Os camarões logo caíram no gosto dos usuários. Em 1956, Santos já contava com 128 deles em circulação.
Decadência e fim
Os anos 1960 ficaram marcados como o período da decadência definitiva para os bondes santistas. O maior inimigo dos carris naqueles anos eram os trólebus, que em 1963 começaram a rodar na cidade, mostrando-se mais eficientes e práticos. Em 1964, todas as linhas que faziam o trajeto Santos-São Vicente, via praia, inclusive a linha 2, a primeira elétrica inaugurada na cidade, em 1909, foram extintas. Em junho de 1966 foi a vez da desativação do popular bonde 1, o Santos-São Vicente-Via Matadouro. Desta forma, uma a uma, as linhas foram desaparecendo, até o dia 28 de fevereiro de 1971, data em que circulou pela última vez o bonde prefixo 258, linha 42, o sobrevivente até então de uma era cheia de histórias e orgulhos.