Santos possui uma das mais interessantes histórias de uma cidade brasileira em relação ao transporte em bondes (ou tramways, como eram comumente chamados pelos ingleses que aqui estabeleceram o domínio de vários serviços públicos, inclusive o de transporte em bondes) . Os santistas foram os primeiros a experimentar este tipo de locomoção coletiva dentro do estado de São Paulo e os primeiros a fabricar um carril dentro do território brasileira. A cidade de Santos também foi detentora da maior quilometragem percapita de trilhos de bondes da América Latina. E atualmente tem o bonde como identidade turística e uma coleção de carris em atividade de causar inveja nas cidades mais importantes do mundo.
Por conta disso, a coluna Memória Santista estará publicando uma série especial histórica sobre os bondes santistas, a começar de hoje, com a origem dos carris, quando estes começaram a ser puxados por simpáticos burrinhos.
A primeira experiência de transporte em bonde no Brasil aconteceu em 1859, ocorrida no Rio de Janeiro, então capital do país. Em Santos, o mesmo serviço aportou por aqui em outubro de 1871, quando ocorreu o assentamento dos primeiros trilhos e dormentes e, consequentemente, o surgimento das primeiras linhas, administradas pelo empresário Domingos Moutinho.
Inicialmente, a linha pioneira apenas circulava na região do centro urbano, sendo ampliada, em 1872, para a longínqua praia da Barra (na altura do Boqueirão).
Com o passar dos anos, outras empresas foram surgindo, assim como novos roteiros. Em 1875 entra em cena a firma Emmerich & Ablas e em 1889, a Mathias Costa, que seria a primeira a oferecer o transporte para o futuro bairro do Gonzaga. Tal linha foi responsável pela abertura da avenida Ana Costa (que era esposa de Mathias Costa, o patrono da Vila Mathias).
A empresa de Moutinho, a pioneira, acabou vendida para a Companhia Melhoramentos da Cidade de Santos, que tocou o negócio até 1894, quando foi encampada pela Viação Paulista e, na sequência, pela Ferrocarril Santista, pertencente ao banqueiro e médico João Éboli, um dos homens mais ricos da cidade.
Em 1904, entrava na linha, a The City of Santos Improvments Ltd, empresa constituída em Londres, em 1880, para administrar alguns serviços públicos na cidade santista (distribuição de água e iluminação pública). Os ingleses compraram a empresa de Éboli. Na virada do Século, a City atendeu um apelo da Câmara Municipal de Santos, que insistia na implantação do bonde elétrico, a exemplo do que já existia na capital paulista, desde 1900.
A aposentadoria dos burrinhos
Mesmo com o funcionamento dos bondes elétricos, a partir de 1909, os carros puxados por burros continuaram a percorrer as ruas da cidade até o ano de 1916, quando os animais se aposentaram do serviço de transporte coletivo.