Santos, 1920. A cidade vivia seu auge em termos de progresso e expectativa de futuro. O programa de saneamento básico comandado por Saturnino de Brito havia erradicado os problemas epidêmicos que ceifaram milhares de vidas entre a segunda metade do século 19 e os primeiros anos do século 20. O porto avançava sistematicamente para os lados do Macuco e se modernizava. Seus berços de atracação recebiam todos os meses inúmeros transatlânticos repletos de passageiros, vindos especialmente da Europa e da América do Norte. A riqueza proporcionada pela atividade comercial era visível, representada pelo surgimento de imponentes edifícios comerciais, públicos ou privados, além de belos monumentos e palacetes residenciais. Diante disso, não poderia ser diferente na crescente rede hoteleira, que festejava a profusão de visitantes que desembarcavam na cidade santista, fossem pelos navios ou pelos trens da “Ingleza” (como os santistas chamavam a São Paulo Railway, que controlava a estrada de ferro entre Santos e São Paulo).
Nesta década de 1910, os visitantes já haviam descoberto os prazeres da hospedagem junto à orla praiana. Hotéis como o Internacional do José Menino (1894), o Parque Balneário (c.1905, na sua primeira versão) e o Palace (1910), dominavam a cena nas aprazíveis praias do Gonzaga e do José Menino. E muitos outros começavam a surgir neste contexto de pujança, como foi o caso do Hotel dos Bandeirantes.
A iniciativa de sua construção partiu dos empresários Miguel Angrisani e Vicente Francisco dos Santos Cruz, que obtiveram, em 1920, o aforamento do terreno de Marinha junto à União. A edificação ganhou o número 5 da avenida Presidente Wilson, no Gonzaga. Requintado em suas linhas arquitetônicas, no mais puro estilo eclético, elegante no conjunto, era impossível não se encantar com a harmoniosa construção, tanto por fora quanto por dentro.
A sala de refeições, por exemplo, situada no pavimento térreo, era espaçosa e rica de beleza e luxo. O restaurante do hotel dispunha de 55 elegantes mesas para uso dos hóspedes assim como para qualquer pessoa que estivesse procurando uma boa cozinha à la carte na orla praiana. Nos fundos do imenso salão ficava a cozinha, montada segundo todas as regras de higiene.
À direita de quem entrava no hotel, estavam a sala dos empregados, o salão de rouparia (roupas de cama e toalhas do estabelecimento), a lavanderia e a engomaderia. Nos fundos do hotel havia também um elegante Cassino, espaço preferido para a maioria dos hóspedes.
O hotel oferecia nada menos do que sessenta quartos, distribuídos ao longo do primeiro e do segundo andar. Todos eram amplos e confortáveis, e dispunham de uma ou duas janelas. Eram muito bem mobiliados e contavam com telefone privativo, um grande luxo para a época. Os quartos dispunham de modernos lavatórios, mesas, guarda-roupas e sofá, tudo da melhor qualidade. Em ambos os andares dos quartos, havia um salão para conferências e eventos corporativos.
Hotel dos Bandeirantes, enfim, era um espaço dedicado a oferecer o que havia de melhor para eventos de ordem social. Em alguns anos, o estabelecimento se tornou referência para artistas e atletas. Via de regra, as equipes que desciam a Serra do Mar para disputar suas partidas contra o Santos Futebol Clube, tinham o Hotel dos Bandeirantes como a melhor alternativa de hospedagem.
Em 1961, o Hotel dos Bandeirantes começou a ser demolido para dar lugar a um edifício residencial. Era, então, o fim de um dos estabelecimentos de hotelaria mais belos e badalados da orla praiana.