A cidade de Santos contribuiu ativamente para as causas revolucionárias do Movimento Constitucionalista de 1932. No calor dos acontecimentos posteriores ao 9 de Julho, data da eclosão do levante histórico, o jornal A Tribuna estampou diversas matérias sobre todos os fatos registrados em terras santistas, como, por exemplo, o do embarque dos reservistas para a capital bandeirante, de onde partiriam aos fronts de batalha, nas fronteiras de Minas Gerais e Rio de Janeiro.
O Memória Santista transcreve algumas destas empolgantes narrativas, em contribuição ao resgate das histórias que envolveram a participação de Santos na Revolução Constitucionalista de 1932.
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O ESPETÁCULO, VERDADEIRAMENTE EMOCIONANTE, DO EMBARQUE DOS RESERVISTAS DE SANTOS PARA A CAPITAL
A revista, pelo Sr. Comandante da Praça – Outras Notas
Para história do povo desta terra, povo que sempre e sempre viveu no trabalho diuturno que só a paz pode facultar. O embarque dos reservistas santistas incorporados às diversas corporações cívicas de Santos, para São Paulo, para o indispensável estágio antes da partida definitiva para o campo de combate, constituiu um espetáculo verdadeiramente grandioso.
Muito antes da hora prefixada para o embarque, já a estação da S.P.R. (São Paulo Railway) nas suas duas plataformas, bem como o Largo Monte Alegre e ruas do Comércio e São Bento, se achavam literalmente tomadas por enorme massa popular e inúmeras famílias.
Logo que a tropa, em ordem de marcha, saiu da Praça dos Andradas, onde passou defronte do edifício da Cadeia Pública, perante as autoridades militares, o povo, que vinha acompanhando as suas evoluções, se deslocou para imediações da “gare” da Inglesa.
A entrada na estação, dentro da qual já se acotovelava grande número de pessoas, pessoas essas que derivavam para as margens da linha por onde ia passar o comboio e que se postavam em cima dos vagões, as forças que formavam o contingente de reservistas desta cidade foram saudadas prolongada e estrepitosamente, com hurras, vivas a São Paulo e vivas ao Brasil.
A seguir, sempre debaixo da máxima ordem, apesar da balbúrdia no local, o que bem demonstra a perfeita compreensão dos soldados de Santos às determinações superiores, começaram estes a embarcar nos diversos carros que formavam a composição. As cenas que então presenciamos, relembrando em grau maior as já observadas quando daqui partiram os primeiros reservistas dessa cidade, foram de um tom assaz chocante.
De um lado, eram senhoras que se despediam de seus filhos e esposos, augurando-lhes, em frases repassadas de carinho, os mais ardentes votos de boa viagem e o mais próximo regresso, com a vitória sorrir-lhes; de outro lado, havia os que, alegremente vaticinavam a melhor sorte aos seus entes queridos, mas com a condição “sine qua non” de que a sorte implicasse numa fragorosa derrota da Ditadura.
A certo trecho da plataforma nº 2, que foi de onde partiu o trem, vimos uma senhora que, não resistindo à emoção da despedida, foi acometida de um desmaio, felizmente sem consequências de maior.
Isso não obstante, no semblante de quantos partiam em defesa da causa constitucionalista, lia-se, prazerosamente, o entusiasmo sadio, animação exaltada de quem faz para uma luta armado, não apenas de armamento bélico, mas com a convicção serena de que vai levando os anelos fervidos de uma nação inteira, que são os anelos da vitória constitucional.
A partida do comboio deu-se às 19h20 horas.
A revista
Às 14 horas, conforme foi noticiado, o Sr. coronel comandante da praça, Mello Mattos, passou em revista as tropas, na avenida Ana Costa, proximidades do Jardim da Vila Mathias. O povo que ali acorreu, também em grande número, acompanhou interessado todas as fases da revista. Finda esta, as forças se dirigiram para os seus respectivos quartéis, de onde, após haverem jantado, rumaram para praça dos Andradas, indo dali, pela Rua do Comércio, para estação da S.P.R., como dissemos acima.
Os reservistas de Santos que ontem seguiram para capital, são todos eles pertencentes às corporações: Milícia Cívica, Batalhão Operário, Phalange Acadêmica e Batalhão da Reserva (Tiros de Guerra nº 11 e 598, “Docas de Santos”).
Com os reservistas seguiram também um corpo de enfermeiras e médicos, tem a primeira ambulância que acompanha as forças ido pela estrada de rodagem.
Fazem parte do corpo de saúde dessa primeira ambulância sob direção do Dr. Guilherme Gonçalves, os drs. Emílio Navajas e Plínio de Camargo e exmas.
Sras. Alzira Martins Lichti, madames Bacon e Silveira e senhorinha Maria José de Lima.
Antes do embarque, as damas da Cruz Vermelha fizeram farta distribuição de cigarros, fósforos, doces, bombons, chocolates e outros presentes.