Complexo condominial nasceu há 50 anos em meio a grande glamour e expectativas de incremento turístico, mas encerrou sua trajetória nos anos 1990, se tornando meramente num prédio de apartamentos residenciais e lojas comerciais.
Santos, 26 de janeiro de 1973. O dia amanheceu envolto de expectativas. Era, enfim, a data de aniversário da terra fundada por Braz Cubas. Mas, diferentemente dos anos anteriores, os santistas estavam prestes a ganhar um exuberante presente. Os jornais da cidade estampavam a grande novidade na forma de manchetes e grandes anúncios: “Pronto! Que Venham os Turistas! Santos Inaugura Hoje o Maior Empreendimento Turístico da América do Sul”.
Edificado dentro de uma área de dez mil metros quadrados, localizada na faixa da orla praiana do José Menino, onde outrora existiu o majestoso e tradicional Palace Hotel, o intitulado “Universo Palace” era fruto de um projeto arrojado, que levou seis anos para ser concluído. Era a “menina dos olhos” do empresário José Duval de Moraes Júnior, seu idealizador. Com cem metros de face para o mar, e decorado externamente com pastilhas brancas e vermelhas, o lugar era um misto de clube, hotel, centro de compras e lazer. O complexo apresentava condições e estruturas singulares: oito salões para exposições, promoções e convenções; boate para 400 pessoas; salão de festas para 2.000 pessoas; grill de verão com duas piscinas; pistas de dança, palcos, bares e restaurantes esportivos; restaurante social para 600 pessoas; cinema e teatro; garagens para carros, suspensas e em subsolo; ginásio de esportes femininos e masculinos; salões de esporte e recreação infantil; área de fisioterapia com duchas, massagem eletrônica, banhos infravermelhos e ultravioletas; berçário; barbearia e cabeleireiros. Prédio altamente moderno, sofisticado e acessível, o Universo Palace se apresentava, enfim, com o objetivo de incrementar o turismo local, que começava a dar sinais de decadência diante das ofertas acessíveis na aviação civil e da estruturação de outros destinos pelo país, em especial no Nordeste, que buscava atrair o público da classe média. Santos precisava, mais do que nunca, reviver seus áureos tempos de cidade turística, cujo ápice se dera nos anos 1950. A grande chance, assim, fora depositada no novo hotel/clube.
Desde o Recreio Miramar, que movimentou o setor turístico e de lazer entre o final do século 19 e os anos 1930, e que tinha o famoso slogan: “Venha a Santos Mesmo que Chova”; e o Parque Balneário, considerado o mais sofisticado hotel do país entre as décadas de 1920 e 1950, a cidade santista não testemunhava um acontecimento tão grandioso. O Universo Palace nascia, enfim, para se tornar o mais completo espaço de hospedagem e lazer do continente.
O Hotel
Com 100 suítes de luxo, doze suítes presidenciais e outras 372 unidades, o Universo Palace desbancava em sofisticação e estrutura qualquer outro estabelecimento de hotelaria da cidade. Em termos de telefonia, por exemplo, o complexo oferecia um dos mais modernos sistemas por PBX existentes à época. Todos os apartamentos tinham um aparelho, situação rara na época.
Festa reuniu grandes estrelas
A inauguração mostrou o tom da perspectiva otimista gerada pelos empreendedores. Durante a solenidade de corte da faixa, o então interventor federal em Santos, general Clóvis Bandeira Brasil, e os donos da festa, o empresário José do Val e sua esposa, Alzira do Val Moraes, receberam inúmeras personalidades, como os artistas Eliana Pittman, Zé Kéti, Peri Ribeiro, Gasolina, Roni Cócegas, entre outras de São Paulo. Do Rio de Janeiro, vieram equipes de reportagens das revistas Manchete, Cruzeiro, além da jornalista Maritza Ozório, do Globo. Isso sem contar das personalidades públicas, como o ator de novelas Francisco Cuoco e a ex-miss Brasil, de 1958, Adalgisa Colombo, entre outros.
Abrigando eventos
Em novembro de 1973, o Universo Palace se tornaria um dos centros de atenção do país, por sediar o I Festival de Cinema Brasileiro, que reuniu dezenas de atores, diretores e personalidades, como o Rei Pelé, que teve um troféu com seu nome (Pelé de Ouro) entregue aos melhores filmes inscritos. O festival atraiu nomes como os de Hebe Camargo, Dionísio Azevedo, Jece Valadão, Vera Gimenez, Francisco Cuoco, Antônio Fagundes, Joana Fomm, entre outros. O prédio também abrigou etapas do Concurso de Miss Brasil e outros eventos que chamavam a atenção da mídia nacional.
Pink Panther
Inaugurado no dia 27 de agosto de 1973, por iniciativa dos empresários Aurelio Gomes de Almeida e Manoel Camarata, a boate Pink Panther só aumentou o status de sofisticação do complexo Universo Palace. Ao longo de alguns anos, a boate apresentou as melhores opções em termos de espetáculos musicais e artísticos em Santos, recebendo figuras como o cantor de boleros Gregório Barros e os celebrados shows das famosas mulatas de Osvaldo Sargentelli. Porém, a partir do início dos anos 1980, a boate começou a mudar radicalmente seu estilo, se tornando uma casa para espetáculos meramente eróticos. Ainda assim, era uma referência de alta classe, contrapondo o que acontecia nas boates do velho Centro.
Glória e decadência
Por pouco tempo o Universo Palace manteve sua aura de espaço cultural, hoteleiro e de lazer de qualidade. Problemas de ordem financeira, conflitos com os proprietários das unidades hoteleiras (os quartos eram vendidos a empreendedores) e o registro constante de queda no número de hospedagens fizeram com que o hotel fechasse as portas no começo dos anos 1990. Os apartamentos se tornaram unidades residenciais, fazendo do prédio um dos maiores condomínios da região. O Pink Panther, bem como o hotel, também não sobreviveu por muito mais tempo e acabou fechando suas portas, em 1995, muito em decorrência do surgimento da Aids. Outros estabelecimentos de lazer se instalaram no complexo nos anos seguintes, mas nada se comparou ao glamour de sua estreia, há longínquos 50 anos.