Ciclistas de Santos são os primeiros do país a promover “reides” de grandes distâncias

Os bravos ciclistas de Santos chegam à cidade, de navio, após empreender a primeira grande jornada ciclística do Brasil.

Quatro integrantes do Velo Clube Santista percorrem 670 km entre Santos e Rio de Janeiro em seis dias de prova, em março de 1920

Nas primeiras décadas do século 20, o que não faltava era aventureiro ávido por colocar o nome na galeria dos heróis da nação, seja conquistando os céus, os mares ou grandes distâncias terrestres. Neste último quesito, os santistas tiveram o privilégio de brindar o país com quatro ousados atletas que, de forma planejada, promoveram o primeiro grande reide ciclístico realizado no Brasil, num percurso de 670 quilômetros entre as cidades de Santos e Rio de Janeiro, passando pela Capital Bandeirante, Vale do Paraíba e Região Serrana Fluminense.

A aventura começou a ser desenhada em janeiro de 1920, pelo gerente da Companhia Telefônica de Santos, Antônio Ramos, um apaixonado por ciclismo, integrante do Velo Clube da cidade. Inspirado nos reides ciclísticos que faziam sucesso na Itália desde o início da década de 1910, Ramos chamou alguns de seus companheiros e os convenceu a empreender a inusitada aventura. A distância e o relevo do caminho eram os grandes desafios a serem enfrentados. Em fevereiro, Ramos foi a São Paulo adquirir uma carta topográfica do percurso, em especial do Vale do Paraíba. Para comprovar posteriormente o cumprimento da tarefa, em especial à imprensa, a ideia era levar uma caderneta onde seriam inseridos o carimbo das estações ferroviárias existente ao longo da Central do Brasil.

Finalmente, depois de deixar tudo preparado, Ramos e seus companheiros de viagem (Antônio Pereira da Silva, representante do jornal A Tribuna; Carolino Lopes, representante do Comércio de Santos e Antônio Augusto de Araújo, do Velo Clube Santista) partiram de Santos, às 14 horas do dia 11 de março de 1920, tomando o rumo do velho Caminho do Mar, na Serra de Paranapiacaba. O primeiro dia de aventura foi gasto apenas para chegar até a capital paulista, onde foram recebidos com entusiasmo.

Reportagem no jornal carioca, “A Razão”, sobre a façanha santista.

Nos dias que se seguiram, o grupo de santistas percorreu a distância pretendida, sempre parando nas estações de trem, para anotar na caderneta a prova da passagem. Depois de mais cinco dias, na manhã de 17 de março, os bravos heróis chegaram até a porta da Estação Central do Brasil, na capital federal (Rio de Janeiro), concluindo a prova em cerca de 140 horas, um fato extraordinário para a época e bastante celebrado pelos amantes do esporte.

Depois de muita festa, os santistas retornaram para casa de navio, chegando ao porto de Santos no dia 20 de março sob os vivas da cidade. Foram recebidos com galhardia pelo presidente do Velo Clube Santista e autoridades locais. Além da fama, os valorosos atletas do ciclismo ganharam medalhas de honra oferecidas pela Casa Ramos, um estabelecimento situado na Rua Senador Feijó.

O exemplo dos santistas abriu as portas para outras aventuras do gênero no Brasil. Anos depois do feito dos bravos rapazes de Santos, outros reides foram organizados, todos querendo suplantar os pioneiros, com provas entre São Paulo e Montevideo (agosto de 1926), Recife e Buenos Aires (setembro de 1926), Rio de Janeiro – Buenos Aires (março de 1927), Rio de Janeiro – Jaú (julho de 1927) e São Paulo e Buenos Aires (maio de 1929), entre outros.